Jogada perfeita

11 - A conversa já acabou

Estava mordendo o lábio inferior e tremendo a perna, Dylan logo chegaria e eu iria tentar ao máximo o evitar sempre que possível, não o tinha respondido até agora, e não iria, era só não deixar ele voltar nesse assunto.

— Ei, tá nervoso para o trabalho? Sabe a apresentação... — Eu comecei a falar assim que ele se sentou ao meu lado, ele deu ombros colocou um caderno na mesa e disse:

— Não muito, mandamos bem, mas eu queria te... — De repente senhor Smith apareceu em nossa mesa, com um olhar rude.

— Preciso falar com vocês em particular.

Então fomos para a sala ao lado, quase a mesma porém completamente vazia.

— Senhor Smith garanto que nossa apresentação está muito...  — Dylan fechou a porta atrás de sim e não terminou de falar quando olhou novamente para Smith.

— Pode parar com o egocentrismo Dylan, é exatamente o contrário que estou prestes a dizer. — Eu fico tensa e começo a batucar o pé no chão.

— Vi o trabalho de vocês, e nunca senti algo tão estupidamente horrível. Dylan se retire por favor, quero conversar em particular com a senhorita Haelyn. — Eu queria enfiar minha cara em um buraco bem fundo e não sair mais de lá, Dylan deixou a sala e um vazio preencheu o lugar.

— Dylan se quer a ajudou com alguma coisa em seu trabalho?

— Ajudou... — Ele regulou a câmera algumas vezes e ele leu o roteiro?

— Foi oque eu pensei, olha Haelyn sabe quem participa diretamente na seleção de alunos para essa faculdade?  — Nego com a cabeça, ele oferece uma cadeira e eu me sento.

— Eu sou um dos que participam diretamente senhorita, e pude ver seus trabalhos e milhares de outros, mas especificamente me recordo muito de seu portfólio com suas publicidades, seus vídeos e principalmente sua redação, a sua história marcou não só eu, o seu sonho as suas palavras, sua história até aqui, como você escreveu lá junto de seus trabalhos te colocou aqui. — Ele se ajeita na cadeira.

— Haelyn não tem você no trabalho, não tem a sua essência que vi em todas as suas obras, com isso chego a duas hipóteses, a primeira é que todos os seus trabalhos, todos aqueles vídeos aquelas obras o sentimento envolvido são falsos, ou temos a segunda opção, você queria algo que as pessoas gostassem, não o que realmente você queria Haelyn e eu realmente acho a segunda opção mais cabível.

— Seu vídeo tem qualidade Haelyn mas cadê você? A sua essência destaca e é isso que precisamos, só seja você mesma.

Foi um tapa na minha cara, indiretamente, ou diretamente, tanto faz, eu não havia dormido bem escrevendo roteiro, ou gravando ou editando ou fazendo todas as funções sozinhas, eu tinha ficado exausta e fingido estar bem, ele, o senhor Smith estava completamente certo com a segunda hipótese, talvez tudo que eu quero é que as pessoas gostem do meu trabalho e nada mais, mas de repente me mudo para outro país longe de todos meus amigos, longe dos meus pais, longe de toda a minha família e percebo que estou cercada de novas pessoas e que eu não faço ideia do que estou fazendo agora, mas ao mesmo tempo sei o que exatamente preciso fazer, daí minha mente vaga até o que as pessoas esperam de mim, e assim ficam, essas vozes me rodeando, gostaria de não pensar tanto quanto eu penso.

Gostaria de ter uma chave da minha mente e só desligar às vezes. A essência faltou, eu sabia, sabia que não tinha gostado, ele está certo.

— Sinto muito senhor Smith. — Eu me levanto e vou até a porta.

— Por favor senhorita Haelyn não ligue tanto, faça oque você acha que deve fazer.

— O que devo fazer? — Eu o questiono.

— Faça outra campanha para esse trabalho, com o mesmo tema de futebol americano, mas dessa vez quero que faça sozinha, sei que vai brilhar Haelyn.

— Obrigada senhor Smith. — Eu fecho a porta atrás de mim e olho em volta.

Ele estava certo.

*

Quando cheguei ao refeitório notei mesas cheias, grupinhos como sempre, perto da área verde estavam as líderes de torcida, outra mesa por pessoas que ao que parece estavam estudando, e meu olhar vaga para a mesa onde estão minhas amigas, quando eu crescer quero ser rápida assim para pegar o almoço.

Entro na fila, minhas amigas estão sorrindo para mim agora e eu não entendo o motivo, até que uma voz familiar surge atrás de mim.

— Olha Haelyn... — Era Dylan, eu não estava irritada por ele não ter ajudado no trabalho, eu gostava de fazer as coisas sozinha e do meu jeito, e quando era algo que eu gostava não importava o trabalho, mas o que me irrita é pensar que ele deve ter me achado burra e ter me usado para o trabalho.

— O nosso professor falou comigo que quer que eu faça o meu próximo trabalho sozinha.

— Mas...

— Dylan, tudo bem você não colaborar no trabalho, eu estava pegando praticamente todas as funções para eu fazer sozinha, mas espero de verdade que você não tenha pensado que estava passando a perna em mim.

— Que? Não, eu não pensei nisso Haelyn isso eu te prometo.

— Ok. — Eu olho ao redor e vejo uma garota loira vir em minha direção, era Britanny.

— Dylan? Preciso falar com você, agora. — Ela diz, está quase na minha vez de pegar o almoço e torço mentalmente para ser muito rápido e chegar minha vez logo.

— Agora não dá Britanny estou conversando com a Haelyn. — Meu Deus, ele disse tudo que me condenaria pelo resto dos anos na faculdade.

Britanny olha para mim com um olhar frio e perspicaz, queria sumir ali mesmo.

— A conversa já acabou. — Eu disse quando minha vez na fila finalmente chegou, peguei o almoço e fui sentar com minhas amigas sem olhar para trás.

— Achei que ela ia voar em você! — Gwen disse e eu ri.

— Estávamos apostando quanto tempo demoraria para aquilo acabar. — Lina diz e morde seu hambúrguer.

Eu mordo meu lanche e meu olhar voa pelo refeitório, reparo em uma mesa, jogadores de futebol americano, e lá estava Adler me encarando do outro lado da mesa com sua jaqueta do time, aliás todos usavam uma pelo visto, mas a dele estava escrito "quarteback"

Eu o olhei de volta, e então ele sorriu, e ali minha mente destravou, sabia exatamente como ia ser a próxima campanha.

Continua...