22 - Está rindo de mim?

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Ficamos para provar o chocolate quente caseiro de Lice, estava maravilhoso e logo nos despedimos para irmos finalmente para casa.

O caminho de volta no carro foi silencioso, estávamos cansados do dia cheio que tínhamos tido.

— Sua avó é uma querida. — Ele sorriu e confirmou com a cabeça.

— Ela é, e sua família?

— Minha família?

— Sim, já me contou sobre a meleca do seu irmão. — Eu ri e neguei com a cabeça. — Nunca fala disso perto dele!

— Prometo.

— Hm, o que quer saber?

— Tudo.

— Ainda está com o plano de sequestro? — Ele girou o volante e pisou no freio, tínhamos acabado de parar num semáforo vermelho.

— Tem que parar de adivinhar meus planos, fale sobre seus avós. — Ele passou a mão em seu cabelo.

— Acho que nossas avós se dariam bem, a minha por parte de pai ama cozinhar, tem de provar o bolinho de chuva dela, é maravilhoso! — Ele me encarou e então disse:

— Vou ver isso como um convite. — Revirei o olhar e disse:

— Dês veja. — Ele deu ombros e disse:

— Ah não, sabe não dá para dês ver algo.

— Com muito esforço dá sim. — Dou uma piscadela esquisita para ele, a curva de sua boca sobe levemente.

— Já tinha visto neve antes? — Ele me pergunta e liga a seta.

— Não, é lindo.

— Sim, é mesmo. — Ele olhou para mim e mudou a rota do carro.

— Sério Adler é a segunda tentativa de sequestro do dia?

— Não dessa vez, aposto que nunca fez um boneco de neve antes.

Havíamos parado me um parque que já estava cheio de neve em todos os brinquedos. O casaco dele era muito confortável e estranhamente quente, coloquei as mãos no bolso e sai do carro após ele ter aberto a porta.

Eu escorreguei duas vezes então ele estava colado em mim, com nossos braços se encostando, e a qualquer sinal de um possível tombo Adler me ajuda.

Era estranho a sensação, as vezes meu pé afundava e sempre que isso acontecia Adler acaba rindo e me fazia rir também.

Nós nos sentamos no banco de madeira simples que estava com pouca neve, então conseguimos alcançar a neve no chão e começamos a fazer o corpo do nosso boneco de neve.

— Isso tá torto. — Ele disse e eu lhe cutuquei no ombro.

— Ele vai ficar ofendido agora Adler, bom trabalho. — Fingi tampar os ouvidos do boneco e ele me encarou sem reação, o canto de sua boca repuxou e ele sorriu.

O sorriso de Adler era o mais lindo que eu já vira em toda a minha vida, era a primeira vez que ele sorria assim com todos os dentes a mostra, geralmente quando estávamos com mais pessoas ele nunca sorria.

— É melhor pedir desculpas.

— Não vou pedir isso para um boneco. — Ele deu ombros e eu fingi estar acolhendo o boneco.

— É, ele é insensível, chato e ridículo, não liga para o que ele fala. — Ele me encara e tomba a cabeça para o lado, ergue as sobrancelhas e pergunta:

— Isso é sério? — Dou ombros e volto a finalizar os olhos do boneco com as luvas que no caminho Matthew havia emprestado para mim, quem tem dois pares de luvas no guarda luvas?

— Me desculpe. — Ele praticamente resmungou as palavras e eu guardei uma risada, não aguentei por muito tempo e o encarei e de repente toda a risada saiu junto com uma imitação ridícula falando o mesmo que ele para o boneco.

— Está rindo de mim? — Eu comecei a rir mais.

— Sim est... — Ele acabou de me acertar com uma bola de neve.

Eu o encaro e vejo que ele está tentando se esconder atrás do boneco, faço um bolinho de neve e jogo nele, acerto bem no seu ombro.

Ele se levanta do seu esconderijo e espreme seu olhar. Eu o vejo longe e percebo que está se aproximando com uma bola de neve nas mãos, sua boca se repuxa para cima e eu me perco por uns instantes, quando vejo ele está em minha frente.

Eu encaro seus olhos verdes que parecem azuis na noite, ele encara os meus de volta e estamos parados um na frente do outro, apenas parados, como se nenhum quisesse deixar aquele momento.

Eu pisco e é tempo o suficiente para uma bola acertar em cheio em meu braço, ele estava na minha frente mas ainda sim mirou em meu braço, eu o encaro.

Ele me dá uma piscadela diferente, não completamente diferente, mas de alguma forma nova, e então diz:

— Acho melhor irmos, está ficando tarde.

Nos prosseguimos para ir em bora, mas antes tiro uma foto do nosso boneco de neve. Enquanto Adler está de costas faço uma bola de neve nas mãos e acerto sua nuca, ele vira para trás de imediato e começa a rir num tom desafiador, junta suas mãos na neve e começa a correr atrás de mim.

A disputa durou pouco tempo, estava realmente ficando tarde, eram quase meia noite.

*

O caminho de volta foi tranquilo preenchido com algumas músicas aleatórias de uma playlist que Adler colocou.

Olhei ao redor com os flocos de neve caindo e senti a sensação do frio ao contato com a neve passando pelas luvas. Esse é um daqueles dias que gostaria de poder visitar sempre que quisesse.

Me despedi de Adler com um sorriso cansado, e após muita insistência fiquei com sua jaqueta e suas luvas, porque segundo ele estava frio demais para eu tirar e entregar para ele.

Subi as escadas e abri a porta do dormitório, me deparei com Gwen assistindo uma comédia romântica.

— Chegou tarde mocinha, posso saber onde você estava uma hora dessas? — Ela fingiu uma voz séria e eu sorrio.

— Primeiro o trabalho da publicidade dos produtos de academia do Adler foi um sucesso — Me sentei ao seu lado no sofá e tirei o tênis.

— Depois Dylan me ligou, e... — Contei tudo que havia acontecido e ela começou a rir, eu a cutuquei e deitei minha cabeça em seu ombro.

— Pelo menos vai ter um casaco para ir amanhã na aula.

— O que? Como assim?

— Lembra que te falei que ia usar um truque para lavar casacos?

Continua...

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