28º

560 31 2
                                    

Melina Busato

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Melina Busato

Agradeci aos céus quando pisei em terra firme e pude finalmente chegar em casa. Depois de longas horas no aeroporto aguardando um encaixe de voo, cheguei no Rio às cinco e meia da manhã.

Desci do Uber já com a chave de casa nas mãos, entrei e enfim tirei os sapatos apertados. Me joguei no sofá onde fiquei fazendo hora, até ser bombardeada de ligações da Helena e do Fabinho .

Não atendi, apenas deixei uma mensagem para os dois dizendo que estou bem e já estou em casa.

Tomei coragem para levantar do sofá e ir para o meu quarto, deixei a mala na sala e subi apenas com a minha bolsa e o celular.

—— Já voltou?— Por um segundo meu coração parou e eu gelei, sério, eu ainda vou ter um ataque e cair dura!

—— Que susto, Nicolas!— Reclamei com a mão no peito, liguei as luzes e pude ver o homem parado em frente a cama guardando roupas na mala

—— A Carla me avisou que você não estaria no Rio esse fim de semana, passei aqui pra buscar umas coisas, achei que não teria problema

—— A casa é sua, relaxa!— larguei a bolsa na poltrona ao lado da cômoda— Gostou do novo apartamento?

—— Gostei, mas não vou continuar— Franzi as sobrancelhas— Assim que eu terminar o contrato das gravações, vou passar um tempo fora

—— Eu imagino que deva demorar um pouquinho, né? O projeto acabou de tomar forma

—— Não, houve uma mudança na trama. No próximo sábado eu já vou estar em Los Angeles

—— Mas por que essa mudança repentina? Não era você que queria tanto ficar aqui no Rio?— Sentei na cama repousando os meus pés

—— Nem tudo aconteceu conforme a minha vontade, Melina, eu também queria muito estar casado com você... e não rolou!— Fechou a mala, e abriu outra. Foi até o nosso closet e voltou repleto de roupas nos braços.

—— Hoje é o aniversário da Gi, não é?— Ele apenas murmurou em concordância. Levantei, disposta a ajudá-lo com seus pertences.

A parte dele já estava quase vazia, não trouxemos tanta coisa na viagem porque ele preferiu deixar a maioria no apartamento antigo, ao contrário de mim. Subi na escadinha planejada do armário e comecei a retirar os camisas que ele raramente usa.

—— Deixa que eu guardo essas roupas, Melina— Pegou as peças da minha mão

—— Não custa ajudar, Nicolas— Apalpei a madeira garantindo que não havia mais nada, mas no fundo do armário eu senti uma caixa, me estiquei até alcançá-la.

Eu deveria ter ouvido o Nicolas.

Essa caixa revestida de tecido aveludado eu conheço bem, há tempos eu não a via, mas jamais esquecerei.

Passeei com o meu indicador por cada pérola envolta da caixa quadrada, desfiz o laço e abri a surpresa que eu preparei com todo o amor e felicidade do mundo há dois anos.

"Papai, dentro da mamãe agora batem dois corações apaixonados por você. Prepare o colinho, sua garotinha está chegando!"

—— Lina... Não vai fazer bem pra você lembrar disso agora— Nicolas se aproximou tentando tirar a caixa da minha mão

—— Tá tudo bem— Dei um sorriso de canto e voltei para o quarto.

Dentro da caixa havia uma mini chuteira. A chuteira que o Gabriel sempre garantiu que seria o primeiro sapatinho do nosso futuro filho, meu peito já dói só de relembrar cada momento que eu passei, desde a descoberta da minha gravidez, até o dia em que eu fui ouvir os batimentos cardíacos dela e descobri que a minha bebê estava sem vida no meu útero.

As lágrimas que eu até então reprimia desceram descontroladamente assim que eu abri a utrassonografia de 13 semanas, ela estava tão linda! A imagem saiu um pouquinho borrada mas claramente o narizinho era idêntico ao meu, eu desejei tanto ter a minha menina nos braços!

—— Ei, calma, por favor!— Sentou ao meu lado me puxando para um abraço

—— Eu queria tanto que ela estivesse aqui!—

A dor que eu sinto é imensurável, o amor que eu sinto por ela é imensurável. Sempre foi o meu sonho formar uma família, eu realmente achei que estava conseguindo realizá-lo. Mas em questão de semanas, o meu sonho foi interrompido me deixando completamente perdida e sem rumo. Eu amei tanto a minha menina! Eu sonhei tanto em sentir os primeiros chutes, a primeira mexidinha na barriga, mas nada disso foi possível. Descobri a minha tão sonhada gestação com 12 semanas, e com 15 semanas o sonho foi arrancado de mim.

A minha filha partiu sem eu a ter conhecido, ouvir do médico que seus batimentos haviam cessados, foi o fim. Eu chorei, gritei, bati forte no peito, queria abri-lo e arrancar aquela dor de mim, me culpei, beirei a loucura, implorei para que aquilo não passasse de um pesadelo. Mas ela se foi.

Ela se foi sem eu ter tido o prazer de ver os seus olhinhos, sem ouvir um "mamãe" sair da sua boca, sem dar um abraço... ela se foi e levou metade de mim. Minha primogênita. Essa dor profunda que chega doer fisicamente nunca vai passar.

 Essa dor profunda que chega doer fisicamente nunca vai passar

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Reincidente| Gabriel BarbosaOnde histórias criam vida. Descubra agora