Capítulo 13
Giulia
Eu lembro bem de quando eu era mais nova, uma das minhas brincadeiras favoritas era de detetive, eu o Seth e o Sirius criaríamos um mistério, ou uma cena de crime e fingimos fazer parte uma organização particular que prometia resolver todos os mistérios.
Sempre discutimos para saber quem seria quem, todos sempre queriam ser o detetive, e interrogar os ursinhos de pelúcia também não era a coisa mais divertida do mundo, então pedimos para que um adulto escolhesse um assassino ou culpado. Geralmente era o Seth, por que ele sempre soube mentir muito bem, e fazia com que eu me confundesse em relação ao culpado. Mas no final das contas, sempre, sempre era ele. O Sirius sempre usou o chapéu engraçado e o caderno de anotações, e eu sempre fui a vítima. Sempre colocavam uma lanterna que machucava meus olhos, e me faziam perguntas sem contexto sobre o caso que eu às vezes nem entendia.
Mesmo depois de todos esses anos, nada mudou, e como poderia?? Ainda somos os mesmos. O Seth continua me manipulando, o Sirius continua me fazendo um milhão de perguntas sobre o que aconteceu — O que está se tornando bem cansativo na verdade, embora eu entenda que é necessário, e que não só ele, mas todos à minha volta estão preocupados comigo.
E eu continuo revivendo a cena denovo e denovo, na minha cabeça, ouvindo a voz, vendo a cena do vídeo, sentindo meus pelos se arrepiarem, e isso tudo me matando por dentro por me força a acreditar que tudo realmente aconteceu. Quer dizer, meu irmão realmente me atacou, e pior, meu irmão realmente torturou alguém, até a morte…
Tudo isso foi e ainda é angustiante para mim. Mesmo depois de tantas horas, mesmo depois de tanta conversa e de assimilação. A ficha ainda não caiu, e eu continuo a mesma lobinha assustada…
E eu odeio tanto isso, odeio sentir esse medo, reviver esse pavor, odeio que tenha acontecido comigo e que seja mais um motivo para que todos prestem atenção em mim de novo. Trazer preocupação para casa, para minha família se tornou um dos piores medos que eu tenho. Sei como é, já passei por isso antes, e mesmo que dessa vez não tenha sido minha culpa de fato, não posso evitar me odiar por um momento. Por um momento bem longo na verdade.
Eu só consigo pensar em como a minha volta parece atrair coisas bem piores do que uma realidade comum. E quando eu finalmente estou bem, estou estavelmente feliz, com uma família quase normal e perfeita, e uma namorada que me faz bem e me impede de voltar a ter os hábitos ruins que me fazem fazer coisas ruins contra mim e contra o meu corpo, o impossível aparece e tudo desmorona, tudo parece acabar e destruir minha vida em segundos que passam muito rápido.
Todo o meu avanço, toda a minha evolução e melhora simplesmente foram pro lixo, já que agora falta muito pouco para mim não desistir de tudo e finalmente me render ao que antes me faziam se sentir minimamente bem.
Sei que não posso, sei que não é justo com minha família que mudou completamente tudo por mim, sei que não é justo com meus tios que me acolheram tão bem, e que definitivamente não é justo fazer com que os meus irmãos passem por tudo novamente. E não é justo com ela, eu não posso entrar na vida dela desse jeito e simplesmente estragar a tudo, transforma a vida dela em um caos como é a minha.
Mas se não é justo, e eu tenho a certeza disso, por que ainda quero ser egoísta ao ponto de querer fazer besteira?
Como das outras vezes, meu irmão mais velho permaneceu ao meu lado durante todo o tempo, trocou meus curativos, e quando finalmente achou conveniente, me perguntou como eu estava me sentindo.
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Entre caninos e olhos vermelhos.
WerewolfGiulia, uma jovem e corajosa lobisomem, é forçada a se mudar com sua família para uma pequena cidade após a trágica morte de sua mãe. Porém, ela está prestes a descobrir que essa nova mudança trará muito mais do que ela jamais imaginou. Assim que ch...