Capitulo 2:
Isabella
Há poucas coisas na qual eu invejava nos humanos, no geral sempre achei a cultura deles sem muito conteúdo, talvez fosse pela indústria cultural que nunca produziu nada de novo, ou por que era criado por eles mesmo. Mas no tédio rotineiro de madrugadas, eu criei uma lista:
E no número dois, estava o fato deles conseguirem dormir, não só o fato de conseguirem mas também fazerem por um longo período de tempo. Quer dizer, nós vampiros somos imortais, isso significa que nunca passamos pelo sentimento de temer a morte, nada nos assusta, nem doenças, nem assassinatos e nem mesmo coisas bestas como acidentes possivelmente mortais.
Mas os humanos? Ahh os humanos sim, essas criaturinhas tão frágeis quanto pétalas de flores podem e vão morrer, e mesmo assim gastam horas de suas vidas e seus dias fazendo absolutamente nada. Simplesmente deitadas com os olhos fechados, roncando ou até babando - O que na minha opinião são os piores. - Mas eu entendo que é algo fisiológico, eles precisam disso para, você sabe, não enlouquecer de vez!
Talvez eu gostasse disso, quer dizer, do sono e do ato de dormir justamente por isso, porque eu estava surtando boa parte do tempo. Algo que eu faço questão de esconder da minha família, era que eu fazia isso, eu tentava "dormir". Não porque precisava, mas porque queria. Às vezes eu fechava meus olhos enquanto deitava de uma maneira confortavelmente estranha pra um vampiro, e fingia que eu estava dormindo. Essa "brincadeira" ou simulação me fazia pensar menos, pelo menos durante aquele momento eu não pensava em nada, e isso me fazia me distância da minha vida real.
Durante esses últimos dias, recebi novidades que certamente mudariam minha vida e minha rotina, pelo menos por um tempo, alguns meses eu esperava.
Pra começar o fato de ter ganhado um novo irmãozinho, a criança que chamávamos de Oliver, era um recém transformado, ele tinha sete anos e não se lembra de nada desde que foi mordido, não lembra o nome dos pais, de onde veio, ou até mesmo características de quem o mordeu.
Minha família decidiu adotá-lo depois de uma reunião no C&C - Conselho de Clãs - meus pais achavam que seria bom para o pequeno se ficasse em uma família que tivesse membros "mais jovens", por assim dizer. Meu irmão mais velho, Arthur, tem 210 anos, e eu 180, definitivamente jovens comparado ao resto do clã, que é composto por Vampiros de 600 anos para cima.
E para falar a verdade não estavam errados, a adaptação de Oliver estava sendo muito boa, principalmente para mim e para o meu irmão. A presença da criança deixava as coisas mais leves. Ele estava com a gente há uns três meses, ou seja, desde que se transformou, ainda consumia muito sangue humano, principalmente para alguém da sua idade, mas aos poucos ia mudando para uma alimentação à base de sangue animal.
E aos poucos também aceitou que somos sua nova família - o que não foi muito difícil já que não se lembrava da antiga - e a convivência com ele era boa também, ele é muito alegre e carinhoso, gostava de brincar muito e de conversar também, ou seja, foi uma mudança que eu gostei, e que me ajudava muito a descontrai em muitos momentos de tensão.♤♤♤
No café da manhã, por exemplo, como todos os dias, eu e minha família sentamos e conversamos. Meu pai acha isso saudável, ainda mais pelo fato dele ficar muito tempo fora de casa, por conta dos plantões no hospital. Local onde consegue as bolsas de sangue inclusive.
Não que nos alimentássemos de sangue humano com frequência, porém, às vezes meu pai dizia que devíamos beber, porque da mesma forma que comer apenas alimentos processados era prejudicial aos humanos, beber apenas sangue animal, também não era saudável para os vampiros. No entanto, ele sempre fez questão de esclarecer quem era o doador e o número de pacientes no hospital, para garantir que soubéssemos que esse sangue era de uma pessoa que quis retirar, e que não estava fazendo falta a nenhum humano que pudesse precisar.
Além do mais, sangue humano realmente faz diferença para a gente. Quando bebemos, ficamos mais fortes, com mais energia e vigor, era como uma bomba de dopamina e adrenalina. Por isso, nós controlamos a dose. Assim como uma droga, se ingerido com frequência, podemos nos tornar viciados como pessoas com drogas fortes. E se retirado de uma vez, também podemos ter crise de abstinência, por esse motivo a troca na alimentação de Oliver estava sendo cautelosa.
Durante esse café da manhã, conversávamos sobre como estávamos nos saindo na escola e no trabalho.
-Isabella querida, como foi a prova de história?
-Foi bem, como nas últimas duas vezes que tive uma prova sobre o assunto! - comentei
-Imagino que tenha gabaritado? - minha mãe acrescentou.
-Sim mãe, como nas provas de 1862 e 1911. As perguntas eram exatamente as mesmas. Lembro exatamente da ordem das questões.
-Que bom querida, muito bem!
-Oliver meu amor, como está o treinamento de caça? - minha mãe se direcionou ao Oliver que estava sentado ao seu lado.
-Muito bem, o Arthur está me ensinando a ouvir o alvo e chegar em silêncio.
- E ele está quase conseguindo! - Arthur completou! - eu disse pra ele treina furtividade dele na escola, quando estiver brincando de esconde esconde!
-Hehe, é uma idade criativa de fato - meu pai disse com um sorriso enquanto limpava seu rosto com um guardanapo bordado. - Só não esqueça de...
-Não deixe ninguém descobrir!
-Exatamente pequeno! - Meu pai se levantou e pegou sua bolsa. - Bom, eu já vou indo!
- Espera pai, já que estamos falando sobre jogos e escola, eu tava pensando em... - dei uma pausa, sabia que o assunto era demorado, mas não poderia perder a chance de tentar mais uma vez. - De eu entrar pro time de basquete da escola, ou de corrida, ou futebol, qualquer coisa.
-Isabella, já conversamos sobre isso minha filha - Minha mãe disse, senti sua falta de paciência no tom de voz.
-Eu sei, eu sei, é injusto, eu sou mais forte, mas rápida, tenho mais fôlego e tudo mais, mas eu tava pensando se...
-Isabella...
- Se eu não beber sangue humano, posso reduzir minhas habilidades e ficaria mais justo. Por favor, eu só quero jogar..
-Você sabe que não é assim que funciona Isa - Meu pai me beijou na testa - Mas sei que você sente falta, olha podemos jogar uma partida nós dois quando eu chegar, o que acha?
-Posso até ajudar o Oliver a treinar! - meu pai foi na direção da garagem.
-Tudo bem pai, pode ser... - mesma conversa, mesmo resultado.
-Agora meninos, terminem de comer, o Théo precisa levar vocês para a escola. - minha mãe ordenou, estalando para que o Theo, nosso mordomo e boa parte das vezes motorista, se encontrassem com a gente.
Como de costume, chegou em um piscar de olhos, segurando minha bolsa para que eu colocasse nas costas.
-Obrigada Theo!
-Não há de que, Isa!
Fez o mesmo com o Oliver, que o agradeceu com um "toca aqui".
-E mãe! - Chamei sua atenção.
-Sim meu amor?
-Não se esqueça que a reunião de patrocinadores é em uma semana!
-Pode deixar! Boa aula filha!
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Entre caninos e olhos vermelhos.
WerewolfGiulia, uma jovem e corajosa lobisomem, é forçada a se mudar com sua família para uma pequena cidade após a trágica morte de sua mãe. Porém, ela está prestes a descobrir que essa nova mudança trará muito mais do que ela jamais imaginou. Assim que ch...