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OS BARES FECHAM às duas da madrugada em San Francisco, e isso proporcionou a Lisa quase três horas para fumar um maço inteiro e tomar a maior parte de uma garrafa de Johnnie Walker Black numa pocilga na Mission. Quando fechou, ela foi para um bar aberto além do
horário, ao sul da Market, para mais duas doses. Depois que essa espelunca também fechou, ela conseguiu de alguma forma chegar em casa e mergulhou num sono de embriaguez por umas poucas horas.
Despertou com uma dor de cabeça que dava a impressão de que alguém metera uma âncora em seu cérebro e com a língua áspera, que parecia estofada com
uma pele falsa. Podia enfrentar a ressaca já o fizera antes, mas o ódio
que sentia por si mesma a sufocava.

Ao chegar à chefatura, encontrou todo o grupo da investigação de Johnny Boz já reunido na sala de Walker há umas duas horas. Ninguém se levantou em cerimônia.

-Você está parecendo bosta de cachorro - comentou Walker.

-Já vi bosta de cachorro com uma aparência melhor - acrescentou
Andrews.

-Boz parecia melhor - observou Harrigan.

-Não dê atenção a eles, garota- disse Jisoo, com um sorriso insinuante. -
Não parece tão mau assim. Apenas dá a impressão de estar com o crânio
espremido, isso é tudo.

-Todo mundo aqui é uma porra de um comediante - resmungou Lisa.

Ela serviu-se de uma caneca de café fumegante e tomou tudo com a
mesma ansiedade com que bebera o scotch na noite anterior.

-Temos alguma novidade?

-Dei alguns telefonemas para Berkeley - informou Andrews. - Houve um
assassinato ali, em 1977. Um professor... furador de gelo, na cama, múltiplos ferimentos.

Lisa sorriu.

-E nossa garota estava lá na ocasião, não é?

-Os registros da universidade dizem que sim - confirmou Andrews.

-Espere um pouco - disse Lisa. - 1977? Quantos anos ela tem agora?
Trinta? Trinta e um? Em 1977 teria... - Ela fez as contas rapidamente, o que
era uma façanha, levando-se em consideração como se sentia naquele
momento. - Dezesseis? Dezessete?

-Ou seja, ela era uma porra de uma criança prodígio - interveio Jisoo.

-Jisoo, sei que essa sua encenação de merda não passa de uma encenação - disse Lisa -, mas o resto do pessoal não sabe.

-Estamos dizendo que uma estudante de dezesseis anos espetou até a
morte um professor universitário com um furador de gelo? - indagou Walker.

-Estamos falando de Jennie Kim- ressaltou Liss. - Não de uma mera estudante de dezesseis anos. Eu não diria que é impossível.

-Teremos de investigar. - Walker não parecia muito feliz. - Jisoo, vá a
Berkeley, veja o que pode descobrir. Harrigan, verifique o que mais ela
publicou. Andrews, providencie o inquérito sobre o acidente dos pais dela.

-E todos devem mandar cópias de tudo para Rosé. Quero o enfoque
psicológico deste caso. Entendido?

-E o que eu faço? - perguntou Lisa.

-Você já está recebendo um enfoque psicológico, garota - comentou Jisoo, rindo.

-A primeira coisa que você pode fazer, Lisa, é meter a cabeça num balde
com água gelada. E depois, trate de segui-la. Talvez ela nos leve a algum
lugar.

Lisa não perdeu tempo com água gelada, mas comprou algumas xícaras de café num 7-Eleven e tomou-as enquanto seguia para Stinson Beach. Baixou todas as janelas do carro sem qualquer identificação e deixou o vento açoitar seu rosto. A Golden Gate se encontrava amortalhada pelo nevoeiro, mas o cheiro de maresia na ponte desmanchou as teias de aranha alcoólicas de seu cérebro; já se sentia oitenta e cinco por cento
humana quando chegou a Stinson.
O Lotus preto estava estacionado na frente da casa, e ela passou uma
longa hora esperando que Jennie saísse e sentasse ao volante.

Atração Fatal | JENLISA G!POnde histórias criam vida. Descubra agora