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CLOVERDALE NÃO ERA a cidadezinha mais chata e mais tranquila da Califórnia Setentrional, mas figurava com certeza entre as dez mais. Ficava no condado de Sonoma, e era a última cidade antes do condado de Mendocino. Ao contrário de outras pequenas cidades de Sonoma, como Geyserville, Healdsburg e a própria Sonoma, não havia nada de atraente ou em voga em Cloverdale. O condado de Sonoma era famoso como uma região produtora de vinho. Muitas das cidadezinhas e aldeias tinham aquele ligeiro ar europeu que acompanha com frequência os centros vinícolas, bons restaurantes, lojas elegantes. Mas não há vinicultura em Cloverdale. 


A grande indústria é a de laticínios e a única coisa que distinguia a cidade era o fato da Rodovia 101, a desgraciosa via norte-sul, ser também a sua rua principal. Era margeada por uma sucessão irregular de paradas de caminhões e lanchonetes, pequenos centros comerciais e motéis. Em tudo e por tudo, Cloverdale parecia um lugar improvável para um assassinato. Ainda mais um assassinato tão estranho como o que Jisoo descobrira ali.

Lisa se aproximava dos arredores da cidade quando percebeu que ouvira recentemente alguma coisa sobre Cloverdale. Fora na noite de seu perigoso duelo com Roxy, ao volante do Lotus. Um dos caras da Assuntos Internos identificara Roxy como... Roxanne Hardy. E Lisa quase que pôde ouvir a voz de Sullivan: "Roxanne Hardy. Último endereço... alguma pocilga em Cloverdale. Sem antecedentes, sem condenações." Aquela súbita e inesperada viagem ao condado de Sonoma tinha alguma coisa a ver com ela.

Lisa encontrou Jisoo na frente da delegacia, na rua principal da cidade. Ela estava encostado no pára-lama amassado de seu velho e enorme Cadillac, comendo um sanduíche gorduroso, comprado num dos estandes à beira da estrada, no aprazível centro de Cloverdale.

-Foi muita gentileza sua ter vindo, garota.

Jisoo amassou o papel do sanduíche e jogou-o para longe. Não que ela não acreditasse em manter a América bela. Apenas estava convencida de que era tarde demais para Cloverdale.

-Que história é essa, Jisoo? Afinal, o que tem aqui, além de Roxy?

Jisoo sacudiu um dedo para Lisa.

-Mas que menina esperta tenho como parceira! Calculou tudo sozinha, hem?

Só não sei que porra estamos fazendo aqui.

-Deixe-me adivinhar, garota. Aposto que passou a última noite trepando com a tal de Jennie, certo? Pois enquanto você trepava com ela, eu estava na chefatura trepado naquele computador nojento e descobrindo algumas coisas. Coisas que não deveria partilhar com você, mas que se dane. Achei que poderia servir como um presente de despedida.

-Despedida? Para onde eu vou?

-Essa decisão será tomada, Lisa, logo depois que aquela doida enfiar um lindo e afiado furador de gelo em sua garganta. Para o céu, para o inferno... não sei dizer. Mas posso adivinhar.

-Você está muito engraçada esta manhã, Jisoo.

-Tem toda razão. É uma das coisas que as mulheres apreciam em mim, o senso de humor. - Ela começou a subir os degraus da delegacia. - Vamos logo, Lisa. Não devemos deixar essa boa gente à espera.

A reunião foi com uma policial, uma sargento chamada Janet Cushman, que chefiava a seção de delinquência juvenil, formada por três pessoas, para a cidade de Cloverdale. O caso de Roxanne Hardy ocorrera antes de seu tempo, mas Cushman sabia de tudo a respeito.

-A maior coisa que já aconteceu em termos de delinquência juvenil, pelo menos nesta cidade - declarou ela. - Antes disso, só houve problemas menores... passeios em carros roubados, arrombamento de máquinas automáticas de balas, esse tipo de coisa. Desde a década de 1950.

Atração Fatal | JENLISA G!POnde histórias criam vida. Descubra agora