17.

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Rosé não pareceu surpresa ao encontrar Lisa na sala de jantar às escuras, quando voltou a seu apartamento naquela noite. Era quase como se previsse a presença dela ali ao entrar. Lisa, por sua vez, não se mostrou preocupada por ter entrado sem que ela soubesse.

- Não devia deixar a porta aberta. Não há como saber quem pode entrar.

- Não deixei a porta aberta - disse ela, friamente. - Há algum problema com a tranca. - Rosé acendeu uma luz. - O que você quer, Lisa? Estou muito cansada.

- Fale-me sobre Jennie.

Rosé fitou-o em silêncio por um momento, depois deu de ombros.

- Ela lhe contou, não é? O que ela disse?

- O que ela me disse, Rosé? Suponhamos que eu queira ouvir de você, com suas próprias palavras.

- Fui para a cama com ela uma vez, na faculdade. Como uma psicóloga, o homossexualismo não era um comportamento anormal para ela, nada de que se envergonhar. Como uma heterossexual, porém, sentia a necessidade de justificar suas ações.

- Eu era apenas uma criança. Estava experimentando. E foi apenas essa vez.

- Apenas uma vez? Foi para a cama com ela uma vez e depois nunca mais tornou a vê-la. É isso?

Rosé hesitou por um instante.

- Não... não foi tão simples assim. Ela desenvolveu uma... fixação por mim. Arrumava os cabelos como os meus. Usava o mesmo tipo de roupas que eu. Seguia-me por toda parte. Atormentava-me. Perseguia-me. Foi assustador. Senti medo na ocasião. E ainda sinto agora. Ela é uma mulher perigosa, Lisa. Você tem de compreender isso.

Lisa acenou com a cabeça. Ocorreu-lhe que ouvia imagens espelhadas da mesma história. As palavras de Rosé e sua reação ao episódio eram quase idênticas às de Jennie. A questão era uma só: quem era o algoz e quem era a vítima.

- Não foi isso o que ela lhe contou, Lisa?

Ela sacudiu a cabeça.

- Não, não de todo. Ela me contou que era você.

- Eu?

- Você é que usava o mesmo tipo de roupas que ela. E você pintou os cabelos de castanho. 

- Pintei os cabelos, é verdade, mas não teve nada a ver com ela. Também fui ruiva por algum tempo. Já lhe disse, eu era jovem, estava experimentando.

- Conheceu Noah Goldstein?

- Ele foi meu professor em dois cursos.

Lisa perdeu o controle subitamente.

- Você viu todos os relatórios sobre o caso, Rosé! Phil Walker mandou que entregássemos cópias de tudo a você. Sabia de tudo a respeito de Jennie, mas nunca disse absolutamente nada. Como explica isso?

- O que devo dizer? Afinal, o que eu poderia fazer? Procurar vocês, tiras miseráveis, e dizer "Eu não sou gay, mas por acaso transei com sua suspeita há dez anos?"

Rosé virou-se, os braços cruzados, como se estivesse se abraçando para encontrar algum calor. Lágrimas brilhavam nos cantos dos olhos.

- Parece loucura, parece hipócrita, partindo de mim, uma analista, mas eu me senti embaraçada. Foi a única vez em que fui para a cama com uma mulher.

- Acha que ficaríamos chocados? Pelo amor de Deus, Rosé, somos tiras.

- Isso mesmo... são tiras. Dali a pouco eu seria o alvo das conversas em todo o departamento. Piadinhas, risadas no banheiro. - Ela ofegou para respirar, tentando recuperar o controle. - Seja como for, isso não é importante.

Atração Fatal | JENLISA G!POnde histórias criam vida. Descubra agora