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LISA FORA PARA a cama cedo, sóbria e sozinha, pois parecia muito bem e no controle de si mesma quando chegou à chefatura de polícia, na manhã seguinte. ROSÉ a esperava na sala de interrogatório, mas não estava sozinha. Sentados à mesa, ao seu lado, havia dois homens, um baixo e calvo, dando a impressão de ser um contador. O outro tinha cabelos prateados, aparência elegante, dentes bem encapados e um Rolex de luxo no pulso. Lisa nunca vira um agente de Hollywood, mas aquele cara parecia o que ele imaginava que um agente seria. Os dois, no entanto, eram psiquiatras, chamados para lhe aplicar uma sessão de análise de terceiro grau. Um olhar para os dois e ela sentiu a raiva aflorando, o controle escapulindo.

-Este é o Dr. Myron, Lisa - disse Rosé, apontando para o que parecia um contador. E este é o Dr. McElwaine.

-Bonitos nomes - comentou LISA, irritada.

Os três psiquiatras riram, apreensivos.

-Foram convidados a me assessorar nesta sessão — acrescentou ROSÉ.

-"Foram convidados"... Está querendo dizer que não foi você quem os chamou. Foram impostos por pessoa ou pessoas desconhecidas no Departamento de Polícia de San Francisco, correto?

Nenhum dos psiquiatras escreveu qualquer anotação, mas quase que se podia ouvi-los iniciarem suas observações: agressivs, hostil, propensa a discussões, antagônica, ressentido com a autoridade.

-Ambos são psiquiatras eminentes, LISA. Prezo suas opiniões e experiência, sinto-me grata pela ajuda.

-Por que não se senta? — sugeriu o Dr. Myron.

-Boa ideia — respondeu LISA, o tom ríspido. — Fico contente que tenha pensado nisso, Doc. Nunca teria me ocorrido.

Houve outra rodada de risos contrafeitos. LISA sentou, e por um longo momento os três psiquiatras a fitavam em silêncio. Ele sustentou os olhos. foi McElwaine quem rompeu o silêncio:

-LISA, soubemos pela Dra. ROSÉ que ultimamente você vem experimentando alguma dificuldade para se controlar. É isso mesmo?

-Só em relação a uma pessoa.

-Acha que o Tenente Nilsen merecia morrer? — indagou o Dr. Myron.

- Se merecia morrer? — LISA deu de ombros. — Não faço julgamentos desse tipo.

-Mas sente remorso pela morte dele?

-Remorso? Eu só sentiria remorso, Doc, se tivesse alguma coisa a ver com sua morte. E não tive. Está querendo saber se sinto algum pesar? — LISA tornou a dar de ombros. — Não conhecia o cara muito bem. Digamos apenas que não sentirei saudade.

-Mas sentiu alguma satisfação por sua morte?

-Isso é uma declaração aberta?

-É uma declaração doentia, Doc. Ninguém... nenhuma pessoa sã, pelo menos... sente satisfação com uma morte. Muito menos eu.

LISA cruzou os braços, com um ar de quem encerrava aquele assunto. McElwaine lançou um olhar preocupado para seu colega e decidiu tentar uma abordagem diferente. Sua voz era cortês e paternal, o sorriso caloroso exibindo os dentes impecáveis.

-Quando recorda sua infância, LISA, as lembranças são agradáveis? Ou algumas o perturbam?

LISA olhou em silêncio para seu inquisidor por meio minuto, trinta segundos de raiva e incredulidade. Conseguiu evitar que a irritação transparecesse em sua voz, mas não a incredulidade.

-Muito bem — disse ela, calma e objetiva. — Número um: não me lembro de quantas vezes toquei punheta, mas sei que foram muitas.

ROSÉ fechou os olhos e sacudiu a cabeça. LISA não era mesmo capaz de se controlar. Nunca faria a si mesma o favor de se amoldar às circunstâncias. LISA elevava a voz:

Atração Fatal | JENLISA G!POnde histórias criam vida. Descubra agora