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SALINAS É A SEDE do condado de Monterey, uma cidadezinha insípida do interior, perto da costa espetacular de Monterey, mas completamente diferente das elegantes cidades à beira-mar. Salinas ganha seu dinheiro das fazendas que produzem enormes vegetais ao redor e das fábricas de processamento de alimentos, em sua área industrial. Em cada esquina se encontram trabalhadores migrantes, à procura de emprego. O ar está impregnado pelos cheiros da enorme fábrica de condimentos McCormick, na margem leste da cidade.

Salinas foi o único lugar em que Lisa pôde pensar para procurar informações sobre Rosé. Ela dissera que casara ali e o marido trabalhara na clínica em Salinas. Talvez o ex-marido soubesse de alguma coisa; e, se soubesse, Lisa estava decidida a arrancar as informações de qualquer maneira.

A clínica gratuita atendia à força de trabalho migrante e Lisa a encontrou à beira da cidade, perto das plantações e dos trilhos da ferrovia. A sala de emergência estava mais ou menos cheia, com pacientes esperando a sua vez de verem um médico, mas Lisa não estava com o menor ânimo de esperar. Seguiu direto para o posto das enfermeiras. Havia duas ali, ambas quase chegando aos trinta anos, absorvidas em seu trabalho burocrático.

- Oi - disse Lisa a uma delas. - Estou procurando pelo Dr. Garner. Pode me informar onde encontrá-lo?

- Não temos nenhum Dr. Garner na equipe da clínica, senhor.

- Não têm?

- Já tivemos. Há algum tempo, quando comecei a trabalhar aqui. Dr. Joseph Garner.

- Deve ser ele.

- Infelizmente, ele não está mais conosco.

- Sabe para onde ele foi?

- Não está entendendo, senhor. Ele não está mais conosco. Com ninguém. Morreu.

- Morreu? Como ele morreu?

A enfermeira hesitou por um momento.

- Ele levou um tiro. E isso é tudo o que sei a respeito.

Lisa encontrou um dos ajudantes do xerife de Salinas na frente da delegacia lavando um Chevy Blazer branco com uma mangueira. Não era um veículo da polícia e o homem parecia dispor de tempo suficiente para lavar seu próprio carro e conversar com um detetive da cidade grande. Sabia de tudo a respeito da morte de Joseph Garner. Jogou água no para-brisa, enquanto dizia:

- Uma coisa terrível, a morte do Dr. Garner. Esta é uma cidadezinha tranquila. Não há muitos problemas com os trabalhadores migrantes. Eles sabem que serão mandados embora se causarem encrencas.

A água desceu para a porta do carro.

- E Garner? O que aconteceu com ele?

- Foi muito estranho. Ele saíra do trabalho, voltava para casa. Morava com a mulher a apenas dois quarteirões da clínica. Alguém passou de carro e atirou nele.

- Alguém num carro? Mas onde estamos? Oakland?

- Como eu disse, foi muito estranho.

- Houve suspeitos?

- Nenhum suspeito, nenhum motivo. Um caso sem solução.

- A esposa não foi suspeita?

O homem cortou o esguicho, olhou para Lisa, curioso.

- Um outro cara de San Francisco esteve aqui há cerca de um ano. E me fez a mesma pergunta. Qual é o problema?

- Rotina - respondeu Lisa, uma palavra que ambos sabiam ser o código policial para "não se meta no que não é da sua conta".

- Ele também disse que era rotina. Agora são dois caras dizendo que é rotina.

- Lembra o nome dele?

Atração Fatal | JENLISA G!POnde histórias criam vida. Descubra agora