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UMA DAS GRANDES coisas em estar de licença, pensou Lisa, enquanto
e

sperava em seu carro para atravessar a Bay Bridge, era o fato da carga
de trabalho se tornar muito mais leve. Normalmente, ela e Jisoo
trabalhavam em meia dúzia de casos de homicídio ao mesmo tempo,
lutando para se manter a par dos detalhes de cada investigação. Agora, em licença psicológica, Lisa se encontrava livre para dedicar todo o seu tempo a um único caso, o que mais a interessava: decifrar a vida enrolada de Jennie. Nem era mais a morte de Johnny Boz. Agora, Lisa queria conhecê-la, separar as mentiras das verdades, o fato da ficção.

Ela cruzou a ponte para Berkeley naquela manhã, estacionou o carro na Bancroft, seguiu a pé para o campus. Na frente da enorme biblioteca, ela encontrou um guarda do campus de Berkeley, que a informou que o escritório da segurança da universidade ficava no porão do Colton Hall.

O guarda de plantão ali era um homem de meia-idade, um ex-policial
que passaria a maior parte da manhã enchendo o saco de Lisa com
histórias sobre o seu tempo na polícia de Albany, se Lisa não lhe ressaltasse a urgência de sua missão. Ela falou com o guarda como se ele fosse um policial genuíno, um colega.

-Tenho de voltar logo a San Francisco com a pasta, ou o tenente vai me

arrancar o couro. Sabe como são essas coisas.

O velho riu.

-Claro que sei. No meu tempo, também tínhamos uns caras insuportáveis.

-Posso imaginar.

O homem levou-a à sala do arquivo da segurança da universidade.

Eram velhas pastas empilhadas do chão ao teto, uma para cada incidente
comunicado na história moderna da Universidade da Califórnia, Berkeley.
Entre os relatos de roubo de calcinhas e bebedeiras com cerveja que escaparam ao controle, havia crimes mais sérios.

-Você disse que era de onde mesmo? - perguntou o guarda.

-Homicídios.

-Os caras e as mulheres da Homicídios que conheci no meu tempo eram todos metidos a besta. Você também é assim?

-Claro que não.

-Fico contente em saber disso. - O homem tirou uma pasta de uma gaveta de arquivo, consultou a ficha amarelada. - Aqui está. Ou quase. 

-Quase? Como assim?

- Havia um relatório sobre Jennie Kim... de janeiro de 1980. Mas não
está aqui. Saiu.

-Saiu? Mas o que é isto aqui? Uma biblioteca?

O guarda do campus fitou Lisa com um ar desaprovador, como se começasse a desconfiar de que, no final das contas, ela era mesmo um detetive da Homicídios metida a besta.

-Calma.

-Quem levou?

-Um dos seus colegas. Um cara chamado Nilsen.

Lisa tirou a ficha da mão do homem e leu o que estava escrito ali:

Emprestada ao Departamento de Polícia de San Francisco. Det. M. Nilsen.

Assuntos Internos. 19/11/90.

-Conhece o cara? - perguntou o guarda do campus.

-Conheço.

-Então diga a ele que queremos a pasta de volta. Já tem mais de um ano que ele a levou.

-Claro que direi a ele - murmurou Lisa.

A cabeça de Lisa girava vertiginosamente e ela precisava de uma boa dose de pensamento lúcido administrada Pela Doutora Jisoo. Ligou
para a parceira de um telefone público no campus de Berkeley e combinaram um encontro no lado da baía de San Francisco. Querendo um lugar agradável e discreto, escolheram o Píer 7, encoberto pelo nevoeiro, ao sul da Market e do Embarcadero. Ficaram andando de um lado para outro do cais comprido e desativado, repassando os fatos várias vezes.

Atração Fatal | JENLISA G!POnde histórias criam vida. Descubra agora