Capítulo Dois

12 8 6
                                    

Enquanto eu me cobria com o cobertor na sala, perto da lareira quentinha, pensamentos estranhos me deixavam preocupada, como se fossem sombras que não me deixassem em paz. Eles se moviam silenciosamente pela minha mente, como sombras sinistras que persistiam, sem dar trégua. Cada vez mais intensos, esses pensamentos pareciam formar uma névoa, tirando minha tranquilidade e impedindo de encontrar paz.

Todos os dias, esses pensamentos teimosos me deixavam exausta. A ideia do sumiço dos animais não saía da minha cabeça, como se estivesse presa em um looping sem fim. Mas como poderia resolver esse enigma se nem sequer sabia por onde começar? Enquanto essas preocupações me deixavam agitada, um ruído inesperado ecoou de cima, na casa. Meu coração deu um pulo dentro do peito, acelerando seu ritmo. Meus gatos, sempre vigilantes, também ficaram tensos diante do som estranho, suas orelhas se movendo em alerta máximo.

Não poderia ser os gatos, afinal, todos estavam comigo na sala naquele momento. Um arrepio percorreu minha espinha ao perceber que não havia uma explicação lógica para o barulho misterioso lá em cima. Uma sensação de urgência tomou conta de mim, impulsionando a descobrir o que estava acontecendo.

Subi as escadas devagar, cada degrau rangendo sob meus pés enquanto o medo se insinuava em meu peito. Os miados nervosos dos meus gatos ecoavam pelo corredor, acompanhando-me na jornada incerta em direção ao desconhecido. Com o coração martelando no peito, finalmente alcancei o topo das escadas.

Lá, diante de mim, estava o palco do mistério: um pequeno pássaro, o Quebra-Nozes, agitando-se desajeitadamente pelo cômodo. Ele tinha entrado pela janela durante a ventania, suas asas batendo freneticamente contra o vidro. Ao abrir a janela com cuidado, ele voou para longe em um borrão de penas, deixando para trás apenas uma bagunça de folhas e penas para eu limpar.

Entre os papéis espalhados pelo pássaro, um item peculiar capturou minha atenção: uma planta detalhada da fábrica "UltraWave". Meus dedos tremiam ao tocá-la, perguntando-me como aquilo tinha parado ali. O suspense se intensificou, uma vez que essa descoberta só adicionou mais interrogações à minha mente já inquieta. Apenas meu avô, com sua sabedoria e experiência, poderia possuir alguma resposta para isso.

Meus olhos vagaram nervosamente pela janela, onde o pássaro repousava tranquilamente em um galho da árvore. Contudo, antes que eu pudesse processar completamente a cena, o som de um carro se aproximando cortou o ar. O pássaro, como se alertado pelo ruído, levantou voo em um movimento repentino, desaparecendo no horizonte.

O carteiro se aproximou da casa, mas algo me chamou a atenção instantaneamente: seu veículo era um carro preto, uma mudança surpreendente dos seus habituais veículos de entrega. Fiquei na varanda, observando-o estacionar. Ele desceu com algumas encomendas em mãos, sua expressão calorosa contrastando com a estranheza da situação.

— Bom dia, senhorita! — sua saudação foi cordial, mas o tom incomum da situação deixou desconfortável.

— Bom dia. — minha resposta foi acompanhada por uma leve tensão no ar.

— Você pode assinar aqui. — sua voz era suave enquanto estendia a caneta em minha direção. Assinei rapidamente, tentando disfarçar a estranheza do momento.

Depois que o carteiro partiu, entrei em casa e comecei a examinar cuidadosamente cada uma das encomendas que ele deixou. Enquanto desembrulhava os pacotes, me deparei com uma carta em branco, mas algo sobre ela me intrigou profundamente: tinha a inscrição "UltraWave" no topo. Cada detalhe dessa entrega parecia fora do comum, desde a chegada do carteiro em um carro preto até essa misteriosa carta. Um calafrio percorreu meu corpo, deixando inquieta e cheia de perguntas sobre o que exatamente todas essas ocorrências eram.

1° Volume - Jardim de Lenar Muller (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora