1° Volume - Jardim de Lenar Muller (CONCLUÍDO)

Capítulo Seis

Uma semana atrás, meus avós estiveram em minha casa. Desde então, tenho vivido minha rotina tranquila. Eu havia deixado aquela história para trás e queria apenas continuar vivendo tranquilamente.

—Eu tinha tudo que precisava.— observei as lindas flores que nasceram em meu jardim —peguei o regador e molhei elas. Mesmo tentando ignorar tudo que tinha acontecido, não conseguia evitar o ruído vindo do bosque. Será que eu era a única que ouvia aquilo?

Uma onda de lembranças dolorosas inundou minha mente quando me vi recordando o momento em que confessei ao meu avô sobre a planta da fábrica e a carta misteriosa. Ele insistiu em levá-las consigo, mas, dominada pelo medo e pela incerteza, eu as deixei para trás. Aquele peso adicional era algo que eu simplesmente não podia suportar naquele momento, já que enfrentava meus próprios desafios.

No entanto, a decisão de não envolver meu avô naquilo pareceu desencadear uma mudança nele. Seu sorriso gentil perdeu o brilho, e suas palavras, antes tão reconfortantes, tornaram-se escassas e carregadas de uma tensão que não conseguia ignorar. Minha avó tentou acalmar, atribuindo o comportamento estranho dele aos efeitos de seus medicamentos e ao peso de lembranças passadas. Mas algo dentro de mim sussurrava que havia algo mais, algo sombrio e inquietante, espreitando nas sombras do nosso passado familiar.

Aquela madrugada, quando o telefone tocou, o coração apertou no peito. A voz trêmula e cheia de remorso de meu avô do outro lado da linha deixou-me atordoada. Ele buscava respostas, talvez esperando que eu soubesse mais do que admitia. E enquanto pedia desculpas por seu comportamento anterior, a sensação de que algo estava profundamente errado só crescia dentro de mim. O que mais estaria escondido nas sombras do passado da nossa família, esperando para ser revelado pela luz implacável da verdade?

Enquanto processava essa conversa na minha cabeça, meu gato Nelma se aproximou e se deitou de barriga para cima, buscando conforto e atenção. Sua presença amorosa trouxe um instante de alívio em meio à tensão crescente. Decidi voltar ao trabalho, plantando minhas cenouras no jardim.

Após uma longa manhã dedicada ao meu jardim, desfrutando do Alpes Suíços, fui diretamente à cozinha. Preparar o atípico jantar Zürcher geschnetzeltes, uma deliciosa iguaria que combinava vitela e cogumelos. Era, sem dúvida, o meu prato favorito, especialmente porque utilizava os cogumelos cultivados em minha própria plantação. Enquanto me dedicava à preparação do jantar, fui interrompida por um cheiro horrível que invadiu a cozinha.

O odor intenso despertou minha curiosidade, e decidi seguir o rastro perturbador que se espalhava pela casa. Minha jornada me levou a lugares inesperados, guiada pela intensidade do cheiro que permeava o ar. Cautelosamente, segui em direção à fonte do odor, preparada para enfrentar o que quer que encontrasse. A cada passo, a expectativa crescia, e minha mente se enchia de questionamentos sobre o que poderia ser. Finalmente, cheguei ao local onde menos esperava estar.

Ao entrar o bosque, dei alguns passos a mais na direção com o cheiro de decomposição, que atraía um enxame de moscas. A atmosfera ao meu redor tornou pesada, enquanto eu me aproximava do local. Cautelosamente, avancei entre as árvores, com os olhos atentos a cada movimento. O barulho das folhas sob meus pés ecoava no silêncio do bosque, mesclado ao zumbido das moscas. Finalmente, deparei com a fonte desse odor.