Capítulo Oito

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Quando entrei em casa, a sensação de alívio por finalmente chegar ao meu refúgio foi substituída por um arrepio. Deixei a caixa na mesa, o peso da incerteza aumentando a cada segundo. Trancar a porta e fechar as cortinas pareceu certeiro. De repente, meu corpo começou a falhar. A fraqueza tomou conta de mim, a falta de ar se tornou sufocante, e tudo ao meu redor parecia se dissolver em sombras. Um pânico crescente me dominou e, caí no chão.

Horas depois, despertei em meio à escuridão, apenas a luz fraca da cozinha me iluminando. Meus gatos vieram até mim, seus olhos expressando uma tristeza compartilhada. Senti novamente o cheiro desagradável, mas logo percebi que era apenas o odor do meu próprio vestido. Tomei um banho, acompanhada pelos meus companheiros felinos, e as memórias de momentos felizes com Milt invadiram minha mente, trazendo lágrimas aos meus olhos.

Diante do espelho, me vi confrontada pela pergunta: —Por que, Marco?— Notei um arranhão em meu pescoço, mas logo afastei a ideia de que poderia ser algo mais do que apenas um arranhão dos galhos das árvores. Afinal, não fazia sentido imaginar algo mais sinistro em meio à tranquilidade da natureza.

Após pentear cuidadosamente meus cabelos ruivos e realçar meus olhos azuis com uma leve camada de rímel, desci para a cozinha. Sem apetite para uma refeição completa, servi apenas de café e alguns biscoitos, perdida em pensamentos sombrios. A caixa na mesa continuava a desafiar minha curiosidade, assim como as questões sobre meu avô e a fábrica UltraWave. Uma sensação de impotência tomou conta de mim quando a xícara escorregou de minha mão, derramando café no chão e se despedaçando. Eu precisava dormir. Amanhã resolveria tudo.

Às seis horas da manhã, levantei-me da cama, ainda envolta em confusão devido aos acontecimentos recentes. O frio da manhã penetrava em meu corpo, fazendo tremer levemente enquanto tentava organizar meus pensamentos. Decidi ligar para o meu avô, pedindo para ele vir me ver, mesmo que sua resposta tenha sido um pouco diferente do esperado.

Com o sol começando a aparecer no céu, eu me preparei para finalmente descobrir o que estava dentro daquela caixa misteriosa. Era um momento importante, cheio de expectativas. Entre as cartas, uma mensagem chamou minha atenção:

"Hoje foi o terceiro dia de tentativas frustradas de expandir a fábrica UltraWave. Os animais destruíram tudo. É a terceira vez que isso acontece." Parei, e refletir.

—Mais fábrica? Estariam tentando reabri-la?— Minhas mãos tremiam enquanto eu tentava entender.

Enquanto eu mergulhava nos mistérios daquela carta perturbadora, as horas pareciam evaporar rapidamente, deixando em um mar de perguntas sem resposta. Decidi que precisava me recompor, então fui limpar a bagunça deixada pela xícara quebrada, na noite anterior. Cada estilhaço recolhido parecia simbolizar a fragmentação da minha própria compreensão da realidade. Depois de tudo limpo, retornei ao sofá, mas dessa vez segurando firmemente uma nova xícara de café. Cada gole era uma tentativa de enfrentar os desafios que ainda estavam por vir, mas uma batida firme na porta interrompeu meus pensamentos. Meu coração disparou com a surpresa, mas uma sensação de alívio também surgiu, sabendo que meu avô estava alí.

1° Volume - Jardim de Lenar Muller (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora