Capítulo Nove

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—Querida, que bom que você atendeu. Eu estava tão preocupado contigo. Não quis nem incomodar sua avó, ela estava tão serena dormindo
.— Ele entra na sala, sua expressão tensa revelando a angústia que carrega.

—Vô, precisamos conversar.—Minha voz sai suave, mas cheia de determinação, enquanto o observo atentamente.

—O que aconteceu?— Ele responde, claramente surpreso com minha seriedade.

Sento no sofá e aponto para a mesa, onde espalhei todos os documentos encontrados sobre a fábrica, exceto aquele que ele havia levado e a carta que inexplicavelmente desapareceu.

—Olha, eu posso explicar...—Ele desvia o olhar para o chão, sua voz carregada de inquietação.

A partir daquele momento, ele começa a contar sobre a fábrica, que foi um negócio antigo iniciado por ele e meu pai. Eles enfrentaram muitos problemas que não conseguiram resolver, então tiveram que fechar. No entanto, ele não quer falar sobre como a planta da fábrica apareceu em casa sem explicação, nem sobre o barulho estranho que vem da fábrica e o sumiço dos animais. Isso deixa muitas perguntas sem resposta.

— Você está bem? Está tão pálida e gelada... — Ele comenta, tocando minha mão com preocupação.

—Acho que sim...—  Respondo, deslizando uma mecha do cabelo para trás da orelha. Seus olhos se fixam no arranhão em meu pescoço.

—O que é isso?— Ele diz, com medo claro em sua voz.

—O que?

—Quanto tempo faz que você tem esse arranhão?— Ele se aproxima, mas sua cadeira de rodas fica presa no sofá.

—Desde ontem, mas por que isso é tão grave?— Pergunto, afastando sua mão do meu pescoço.

—Você anda se sentindo enjoada, cansada, com dificuldade para respirar, a garganta apertando, sem conseguir pegar no sono e até mesmo fraca?— Seu olhar revela medo.

—Tenho sentido tudo isso desde de ontem, mas achei que fosse só minha ansiedade. Tenho tido dificuldade para dormir ultimamente...— Olho para ele.

—Essa planta que te arranhou é venenosa. A única coisa que pode ajudar é o chá feito com sua flor.— Ele diz, lágrimas surgindo em seus olhos. —Mas você esteve na floresta?ELa apenas dá em um único lugar, perto das ruínas...

— Sim... Mas não me lembro muito bem do que estava fazendo. É difícil lembrar de algo nesse estado. —

Ele olha para mim, com uma mistura de preocupação e determinação. —Então precisamos encontrar essa flor, rápido.

Como a cadeira de rodas o impedia de entrar na floresta. Eu fui sozinha decidir então partir para as ruínas na floresta, em busca da única esperança de cura. Enfrentei os perigos do ambiente selvagem, ouvindo os sons desconhecidos da natureza e sentindo o ar úmido da floresta tocar em minha pele. Com cada passo, meu corpo fica mais fraco, minado pelos efeitos do veneno.

Finalmente, cheguei ao local das ruínas, a mesma construção antiga que veio na minha lembrança da noite passada.  Entre os escombros, encontrei a misteriosa flor, sua beleza contrastando com a desolação ao redor. Com cuidado, eu colhe algumas flores, enquanto eu luto contra a escuridão que ameaça me envolver, apoiando em sua determinação e esperança.

De volta em casa, meu avô prepara o chá com as flores recém-colhidas, suas mãos trêmulas demonstrando a urgência da situação. Enquanto o chá ferve, posso sentir a fraqueza tomando conta de mim, mas também uma ponta de esperança diante da possibilidade de cura.

Com as mãos trêmulas, tomo o primeiro gole do chá, sentindo seu sabor amargo descer pela minha garganta. Aos poucos, uma sensação de calor se espalha pelo meu corpo, expulsando o frio que me consumia. Mas derrepente sentir tudo escurecer novamente antes de desabar no sofá, ve apenas o rosto preocupado do meu avô.

1° Volume - Jardim de Lenar Muller (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora