Capítulo Dezessete

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Cada detalhe daquele momento permanece nítido em minha mente. O ponteiro do relógio apontava implacavelmente para as 16:00 horas, enquanto eu observava Marco me carregando para fora da casa. Uma inquietação crescente se instalava em meu peito, uma sensação de que algo estava terrivelmente errado. Com extremo cuidado, Marco me acomodou no banco do passageiro do carro e, com um gesto suave, me entregou um comprimido. Sem hesitar, engoli a pílula, embora não soubesse o que esperar.

-O que é isso? - minha voz soou trêmula, enquanto eu lutava para encontrar algum indício de conforto ou compreensão naquele momento de confusão.

-Apenas um remédio para te ajudar. Eu sabia que ela faria algo assim, e tentei te proteger e falhei. -Ele bateu a mão no volante com frustração. - Vou te levar para um lugar seguro.

-Marco, por favor, me explica o que está acontecendo. E não minta para mim. - Senti meu corpo começar a relaxar gradualmente, mas minha mente ainda estava turva de preocupação.

- Você tem certeza de que está pronta para ouvir? - Ele me olhou com seriedade, buscando em seus olhos alguma sinalização de que eu estava preparada para lidar com a verdade.

-Para de perguntar e desembucha.- minha voz saiu trêmula, à beira das lágrimas.

-Lenar, sua avó ela descobriu alguns segredos meus. E desde então, tem me ameaçado com isso. -Ele para de falar, o olhar tenso.

-Marco, sinto muito. - Olho para ele, tentando transmitir solidariedade. Mas por dentro, minha mente está fervilhando de curiosidade, querendo desvendar os segredos que ele esconde.

- Está tudo bem, eu sei me cuidar.- ele suspira. -Continuando. O seu avô queria começar no ramo dessa nova fábrica para manipular remédios e tentar achar algo que o ajudasse a voltar a andar. Eu, no início, não estava acreditando nisso, mas ele foi evoluindo nos testes. E Annelise, sua avó, começou a se intrometer. O seu avô não queria que ela soubesse, mas ela deu um jeito e descobriu. Então ele decidiu parar de vez, ainda mais depois de certos problemas envolvendo os animais.- olhei para minhas mãos, incapaz de processar completamente o turbilhão de emoções dentro de mim. Marco suspirou, os olhos carregados de angústia.

-Sua avó... ela se deixou consumir pela ganância. Quando percebeu que o plano de seu avô estava prestes a dar frutos, ela só pensou em lucrar com isso. Ela queria ser a grande chefe, ter seu nome estampado na UltraWave. Mas para alcançar esse posto, precisava lidar com as outras duas filiais. Você sabe das outras, não sabe? Essa descoberta me deixou confuso, mas fiquei interessado em saber mais sobre as outras filiais.

-Sim.- disse mas com a minha mente tumultuada por pensamentos.

-O Sr. William tentou alertá-la. Disse que não seria viável, que poderia causar mais mortes entre os animais. Mas ela não ouviu. Passou meses estudando, procurando uma solução desesperadamente. Ela não queria fechar a fábrica, pois tinha investido muito naquele local. Por isso, pediu que eu enviasse uma carta para a UltraWave nos Estados Unidos. Por engano, a carta acabou sendo enviada para sua casa. Achei que estivesse no correio, mas quando percebi que não estava lá, fui até sua casa naquele dia. - Ele fez uma pausa, observando uma mãe e seu filho atravessarem a faixa de pedestres.

- Aquele dia, Marco, você quase me deu um ataque cardíaco! - Eu cobri meu rosto com as mãos, revivendo a adrenalina daquele momento.

-Desculpe, Lenar, não era essa a intenção. Eu só precisava pegar a chave do seu carro, mas a porta acabou fazendo barulho e você acordou... Enfim, estive ao lado do seu avô o tempo todo. Ele até me pediu para enviar uma carta explicando tudo. - Ele voltou a focar na estrada, enquanto eu tentava acalmar meu coração ainda acelerado.

1° Volume - Jardim de Lenar Muller (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora