Prólogo

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Apenas com dois anos de idade, fui arrancada da segurança do lar quando meus pais tomaram a decisão de se mudar para a distante Suíça, próxima aos meus avós. Apesar das lutas financeiras e das dificuldades dos meus pais para criar uma criança, éramos uma família unida, mergulhada em uma frágil felicidade. Ao chegarmos à Suíça, meus avós maternos nos receberam de braços abertos, oferecendo o apoio tão necessário. Eu me apeguei especialmente ao meu avô, um ser incrível e gentil que tinha histórias que encantavam minha alma.

À medida que os anos avançavam e eu completava cinco anos de idade, revelava ser uma menina silenciosa, mas curiosa, absorvendo cada detalhe do mundo ao meu redor. Meu avô tinha um amigo chamado Marco Hell, jovem e vibrante aos meus olhos infantis, com seus vinte e poucos anos. Eu o admirava profundamente, especialmente pelos pirulitos que ele sempre me dava quando visitáva os meus avós. Uma lembrança persiste em minha mente, quando, brincando de espiar, me escondia sorrateiramente atrás da porta no escritório onde meu avô e Marco conversavam. Atrás da porta, ouvi fragmentos de sua conversa sobre negócios, um novo empreendimento talvez, embora não me lembro com clareza.

À medida que meus pais celebravam oito anos de matrimônio, decidiram embarcar em uma viagem para comemorar essa ocasião tão especial. A ansiedade e a dor da separação já me assombravam na véspera da partida. Lembro daquele dia, quando as lágrimas rolaram pelo meu rosto, não disposta a aceitar a ideia de ficar longe deles por uma semana inteira. Antes de partirem, entreguei uma carta repleta de palavras de amor e saudade, e abraçando com força como se pudesse conter o tempo e impedir sua partida.

Naquela primeira noite sem meus pais, minha avó permaneceu ao meu lado, tentando preencher o vazio deixado por sua ausência. Eu, uma criança acostumada a ter todo o foco e atenção voltados para mim, sentia perdida sem a presença reconfortante de meus pais. Como a primogênita, carregava o peso de ser a mais importante, mas naquele momento, me sentia pequena e desamparada.

Antes mesmo de meus pais retornarem da viagem, fiz questão de ligar para eles, expressando todo o meu amor e saudade em cada palavra. Passamos horas conversando ao telefone, como se tentássemos encurtar a distância que nos separava. Preparando para recebê-los de volta, dediquei a organizar uma pequena celebração, preparando um bolo fictício e chá para compartilharmos juntos. E enquanto deitava na cama, ansiosa pela chegada do próximo dia, meu coração transbordava de expectativa pela tão aguardada reunião familiar.

Quando acordei no dia seguinte, fui à sala dos meus avós e vi algo que me chocou: um policial estava lá, minha avó chorava muito e meu avô parecia perdido. Corri até eles, com o coração apertado de medo, e perguntei onde estavam meus pais. Minha avó me levou para o quarto e, entre soluços, me contou que meus meus pais haviam sido vítimas de um acidente aéreo no vasto oceano Atlântico, eles estavam perdidos para sempre nas profundezas geladas das águas. Então comecei a chorar descontroladamente. Olhei para as coisas que tinha preparado para eles voltarem e senti uma tristeza imensa. Não consegui parar de chorar até cair em um sono pesado, cheio de pesadelos sobre a nova realidade cruel que estava enfrentando.

Marco, por quem eu tinha tanto afeto, acabamos nos tornando inimigos devido às nossas opiniões completamente divergentes. Por isso, me afastei dele. Meu avô entrou em uma profunda depressão após a morte dos meus pais, e desde então sua saúde começou a piorar rapidamente.

Mas sempre lembrava dos Meus pais, enquanto estavam vivos. Lembro para que eu não me sentisse só. Eles me presentearam com um gatinho chamado Milt, nome inspirado em um desenho que eu adorava assistir na TV. Ele tornou meu melhor amigo desde que era apenas um filhotinho.

Os anos se passaram, e eu fiz vinte e três anos. Foi quando meus avós concordaram que eu fosse morar na casa do campo. Fiquei por lá mais três anos, me afastando completamente do resto do mundo. Essa é a minha trajetória, um relato marcado pela cruel verdade de como aquilo que amamos pode simplesmente desaparecer diante dos nossos olhos.

1° Volume - Jardim de Lenar Muller (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora