— E então, Américo? O que você achou?
Adriano, está impaciente e olhando fixamente para o rosto do médico da Família Nabuco.Américo da Silva, tem sessenta e cinco anos, cabelos pintados de preto e usa um óculos de grau armação redonda e dourada.
— Em vista gerais, é seu filho. Victor, sabia quem sou... me reconheceu assim que entrei e lembrou-se de quando quebrou o braço depois de cair da mangueira que fica no fundo do quintal da minha casa. O rapaz desde criança sempre faz isso.
— Por que sempre se lembra disso?
— Por que ele gosta, por que pode... quem vai entender? Mas, se lembrar da queda sempre que nos encontramos faz parte da nossa rotina.
— O que mais? — Pergunta Austrageliso.
— Bem, coletei resíduos que estavam embaixo das unhas, peguei amostras do cabelo para o DNA, mas, Victor não me deixou verificar seus batimentos cardíacos, aferir sua pressão ou coletar seu sangue para testes rotineiros.
— O que ele disse?
— Adriano, o porquê de não ter me deixado fazer aferimento e afins, ele não disse, apenas gesticulou mostrando o que podia ou não fazer.
— Isso é estranho.
— Na verdade não acho. Adriano, pelo que escutei quando cheguei, vocês receberam uma ligação confirmando a história do cemitério. Correto?
— Sim, correto. — Responde Austrageliso ao invés de Adriano.
— Se coloque no lugar do rapaz. O menino foi enterrado vivo! É normal que esteja arredio.
— NÃO! Ele não foi enterrado vivo! Meu pai viu a autópsia!
— Verdade... vi sim.
— O senhor viu mesmo? Os órgãos foram para doação? Por que podemos pedir o registro dos órgãos que foram para doação.
— Não fazemos doação de órgãos. Nós vendemos... e o senhor sabe muito bem disso. Inclusive, vendemos os órgãos dele!
A resposta sai crua e raivosa.
— É uma pena que tenham vendido... me adiantaria muito o trabalho. Então teremos que esperar o resultado de DNA. Mas, adianto logo, quem está ali é mesmo seu filho.
Austrageliso, ficou em silêncio. Observando Américo falar, para então dizer:
— Américo, acredito que não esteja levando a sério que presenciei á autópsia.
— Não é que não acredite. Mas, pensa comigo... como isso que me disse é possível, estando seu neto ali dentro?
— Ainda não temos resposta para tudo. Porém, sei que muitas vezes o natural não explica o sobrenatural.
Adriano olha incrédulo para seu pai, não acreditando no que acabara de escutar.
— Só mais uma coisa... — Américo, interrompe o silêncio dos dois — colocando mais uma pulga atrás das duas orelhas... Se minhas suspeitas forem confirmadas, poderemos passar a ter um problema maior.
— O delegado.
Responde Austrageliso.
— Exatamente. Não me lembro que alguém tenha voltado dos mortos. Principalmente, se o corpo foi periciado.
— A polícia pode achar que estejamos envolvidos e que tentamos mantar Victor.
Adriano, olha para seu pai.
— Hum, é possível mesmo. Um assassinato que não deu certo, porque a vítima conseguiu escapar do cativeiro em baixo da terra. Meu Deus, quanta asneira.
— O que faremos? — Adriano pergunta pensativo.
— Podemos fazer o que não conseguiram ou seja, achar que tentou mata-lo.
— Essa situação começou a ficar mais que perigosa.
Pai e filho olham ao mesmo tempo para a porta do quarto onde Victor descansa.
— O que vocês pretendem fazer?
Pergunta Américo, mexendo no bolso do jaleco procurando o maço de cigarro.
— Vamos ligar para o delegado, marcando uma nova visita lá em casa. Precisamos dele bem próximo, nesse momento.
Adriano, balança a cabeça concordando com seu pai.
— E com Victor presente para responder todas as perguntas do delegado.
Américo e Adriano se olham. O velho, sem piscar os olhos, parecia olhar para um futuro bem próximo.
— Bem, estou indo. Preciso levar o material para o teste de DNA. Mantenho contato assim que tiver alguma resposta.
— Nós vamos continuar por aqui. — Explica Adriano Nabuco.
— Minhas costas e pernas doem. Irei sentar ao lado do meu neto e descasar um pouco.
Adriano, em silêncio, observa seu pai e Américo irem embora por caminhos diferentes.
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SENHOR DA NOITE - Lançamento dia 04 de Abril de 2024 - Em Andamento
HorrorSENHOR DA NOITE "Yvi Sorrento nasceu numa data qualquer em um mês com nenhuma celebração, no calendário Espúrio." Foram essas frases que Eleonor de Medeiros, estudante de medicina da Universidade Federal de Pernambuco, leu na...