Bordado

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Poxa, eu queria que você ficasse pra sempre
mas o pra sempre
sempre acaba.

O tempo novamente
passa
e eu cada dia, cada vez
me sinto mais um estrangeiro
meu sotaque soa mais
minha voz não passa de uma ofensa para o ouvido deles
as regras nas quais aprendi a jogar
são diferentes
todo dia, meu coração pede pra te ver
para de novo te sentir sem choque
pra de te lembrar
pra falar sobre seus olhos negros
da ''felinidade'' deles
imensos, afiados e brilhantes
a verdade que dói, é que faz tempo que não te vejo como antes
mas ainda escrevo
olho
choro
e meu maior desejo é trapacear no seu jogo
porque aqui no meu
tudo que é amor parece com você.

A sensação de não sentir
mas lembrar do sentido
e mesmo que sem sentido
sorrir ao sentir
parece-me insuportável
para você, minhas palavras são som
e meus textos são essa coisa abstrata
da música que faz os meus passos.

O que eu queria
é que os próprios deuses das letras compusessem nosso amor
que nossos dias viessem de Hollanda
nossos sonhos da cajuína cristal
nossos olhares da canoa Canô
nossas primaveras do nascimento das flores
o limiar entre os risos e choros do Poetinha
e o som da vida, por fim, por Gal
e a subversividade gritada por Rita

E como um tricô
a cada nó apertado
apertasse a dor
e pegasse dos nossos olhos
nossas linhas vermelhas
nosso destino
e sem só da dor
dê um nó.



Poesia ao ser risoOnde histórias criam vida. Descubra agora