▶ POV Daniel 3

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Flashback ON

Entrei no quarto esperançoso de ver a Angell acordada, mas assim que os meus olhos se encontraram no seu corpo imóvel e deitado, frágil como sempre, aquele mesmo aperto tomou conta do meu coração e a decepção diária também.

Engoli em seco e caminhei até a pequena poltrona que havia ao lado da cama onde Angell estava pousada e coloquei a minha mochila na mesma. Depois de um dia longo de colégio, ainda vale a pena visitar a minha... namorada... não é?

Me sentei na cama e logo peguei na sua mão pálida e pequena, acariciando a mesma e de seguida, beijando-a. Um embrulho de sentimentos ruins estava presente dentro do meu estômago, fazendo-me suspirar por um longo tempo.

- Olá amor - murmurei - Você é tão preguiçosa que nem acordar, quer mais - digo tentando parecer alegre, mas tenho a certeza que o meu tom não mudou nada - Você está tão... morta - ri secamente e fitei os meus pés.

Olhei para trás, para ter a certeza de que ninguém havia entrado no quarto ou que ninguém estava me espionando. Me curvei até chegar perto do rosto da minha garota e acariciei a sua bochecha. Colei os meus lábios nos seus, para um breve e simples beijo.

A minha pequena esperança de ver a bela adormecida acordando, acabou imediatamente, deixando-me mais triste e mais para baixo.

- Já se passaram dois meses e meio desde que... huh... você sabe - revirei os olhos e suspirei outra vez - Porque você não dá algum sinal de vida? - perguntei esperando inutilmente uma resposta - Eu queria tanto que você acordasse hoje... ou pelo menos amanhã, antes de eu ir embora - deixei a água nos meus olhos se acumular, mas não deixei nada cair. Engoli o chorro e respirei fundo - Sabe... mesmo que você possa estar me ouvindo e me odiando mais do que odiava quando eu não queria fazer comida pra você... - ri baixo, relembrando-me daquelas recordações - mesmo que você acorde e me odeie pelo resto da vida, eu ainda vou continuar te amando. Para sempre - acaricei a sua bochecha outra vez e depositei um beijo na sua testa.

Ouço um roncado da minha barriga e resmungo, lembrando que já não comia desde ontem. Não quero comer. Normalmente, a barriga que roncava mais, era da Angell.

De seguida, batidas na porta foram ouvidas e a mesma abriu-se, revelando Levi.

- O que você está fazendo aqui? Como você soube da...

- Todo mundo soube, cara - ele caminhou até mim e deu leves tapas nas minhas costas - Eu ouvi a sua barriga roncando. Vai comer.

- Mas...

- Eu cuido dela - ele sorriu.

Assenti me levantando e pegando a minha mochila preta, toda desgastada. Algo não estava bem.

- Tem certeza de que...

- Vai lá. Aviso se acontecer alguma coisa - Levi me interrompeu pela terceira vez. Só suspirei, tentando não socar a cara dele.

Ultimamente eu tenho andado sem paciência. Tive varias advertências e suspensões por causa das minhas frustrações diárias na escola...

Abri a porta do quarto e olhei para as duas pessoas outra vez. Levi acenou com a mão e sorriu novamente.

Algo não estava bem.

Entrei no elevador e apertei o botão do primeiro andar. Esperei até chegar no piso que eu queria e a porta do elevador abriu. Caminhei até a lanchonete e pensei nas coisas que eu iria comer. Meu apetite estava maior a cada segundo e a fome aumentava a todos os segundos.

O sentimento de que algo ia acontecer também aumentava a cada passo que eu dava.

Peguei uma bandeija com waffles e suco de laranja. Apesar de ser de tarde, eu não tomei café da manhã e waffles são a melhor coisa que eu poderia pedir num hospital. Me sentei em uma mesa vazia e comecei a comer o pequeno café da tarde.

Agora eu pensei em possibilidades da Angell acordar antes que eu voltasse para São Francisco. Queria poder abraçá-la e apertá-la até que ela ficasse sem fôlego. Poderia beijar o seu rosto agora magro e os seus lábios finos e rosados. Mas essas coisas não passam de meros pensamentos que talvez possam se realizarem a qualquer momento... ou talvez meses.

- Daniel! Daniel! - ouço gritos vindos do salão, e meu olhar se direciona ao cara de cabelo arrepiado e olhos azuis, chamado Levi.

- O que ac...

Interrompido outra vez.

- Ela! A... Angell acordou! - ele disse ofegante e desesperado.

O que?! Mas... como?!

- Você deixou ela sozinha?! - berrei irritado - ou talvez muito alegre - e larguei tudo na mesa, comecando a correr pelo salão, com olhares curiosos postos em mim.

Dane-se. Eu quero a minha garota.

Sem esperar o elevador descer, corri pelas escadas até o quarto andar. Suando, com o coração disparando, trêmulo e sem fala, ia dando passos largos pelas escadas. Cada degrau parecia vinte degraus a mais, deixando o suor da minha testa correr pelo meu rosto e cair no chão.

Assim que abri a porta de emergência, corri para o quarto destinado.

- Angell? Meu amor! - abri a porta do quarto com o sorriso mais alegre que tenho dado nesses três meses, mas assim que a vi, o sorriso se desfez.

O meu corpo todo se estremeceu e ficou quente. Meu coração se quebrou em mil e um pedaços.

Ela não estava acordada.

- Angell! Acorda! Por favor - sussurrei com lágrimas e mais lágrimas escorrendo pelo meu rosto - Não... eu não.. acredito - murmurei com soluços altíssimos - Volta pra mim, princesa - fiz carinho na sua bochecha e balancei o seu corpo, para ver alguma reação.

Deixei a minha cabeça cair na ponta da cama e o choro alto escapar.

Ele mentiu.

Ouvi a porta se abrindo e olhei para a mesma, encontrando três médicos.

Me levantei e corri para fora do quarto, sendo perseguido pelos dois homens e mais uma mulher. Desci escadas à baixo e pulava cinco degraus, esquecendo que os outros existiam.

Quando cheguei no primeiro andar, procurei o filho da puta do Levi. Olhei para um lado e para o outro, tentando achá-lo.

Corri pelo corredor, até que eu vi ele.

- LEVI! - berrei totalmente frustrado e caminhando/correndo em passos firmes até ele. O babaca olhou para trás e assim que encontrou o meu olhar, recebeu um soco em cheio no rosto - Quem você pensa que é pra fazer isso comigo?! - berrei como um leão, batendo mais na cara já ensanguentada dele.

O seu rosto já se encontrava inchado e os seus olhos fechados, seu nariz ensanguentado e a sua boca jorrando sangue.

Eu ia acertar mais um soco de mão fechada na cabeça dele, mas algumas mãos pegam nos meus braços e me puxam, afastando-me dele.

- ME SOLTA! - berrei outra vez, me debatendo nas mãos que me prendiam.

Senti alguma coisa sendo enfiada no meu braço e sendo injetada, como uma agulha espetando-me.

- Ela... ela não acordou - digo abaixando o tom por causa de algum efeito.

Minha cabeça deu impacto com o chão e antes de apagar, vi cinco pessoas embaçadas me cercando, até ver tudo completamente escuro.

Flashback OFF

Once Again - (Angell)Onde histórias criam vida. Descubra agora