26.

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JAMES GRIFFIN

Dizer que eu tinha sorte era pouco. Eu era um sortudo do caralho.
Apesar de todas as dificuldades, os sofrimentos que a vida me proporcionou, não podia dizer que eu não tinha sorte na vida.

Olhei para o meu retrato com a Valerin, uma nostalgia misturada com saudades se apossando do meu corpo.

Eu não sentia mais vontade de quebrar ou socar qualquer coisa que eu encontrasse pela frente, ou até mesmo chorar quantidades obscenas de lágrimas ao relembrar da minha história com aquela mulher.

Mesmo com o fim trágico que nos acarretou, não posso resumir tudo de bom e incrível que vivi ao seu lado. Foi uma trajetória linda, intensa e cheia de boas lembranças. E era incrível poder olhar para o sorriso dela nas fotos e não sentir uma avalanche de sentimentos ruins, não me sucumbir a depressão profunda e querer me isolar.

Coloquei o porta-retrato de volta na estante, sentindo um sentimento gostoso no peito, eu já estava arrumado para ir sair, só estava esperando minha filha voltar do seu quarto com a mochila.

— Estou plonta, papai.

Sorri para ela que mesmo com tão pouca idade se achava uma mocinha adulta. Fui até ela, retirando a mochila das suas mãos e colocando nas minha costas e pegando-a no colo e depois a lancheira na ilha da cozinha e uma sacola com as coisas que preparei para ela.

— Animada para ir para a escolinha hoje, meu pacotinho? — perguntei ao vê-la cantarolando toda feliz.

— Sim! — Confirmou. — Hoje é dia do piquenique, eu te conte ontem, esqueceu? E eu irei dormir na casa da minha amiguinha!

— Eu lembro filha — falei, prendendo-a na cadeirinha do carro. — Foi por isso que coloquei as frutas que você mais gosta aqui dentro, fiz alguns sanduíches com a ajuda da Emma e fatias de bolo de chocolate. E já deixei as suas roupas arrumadas na mochila.

— Ahh!!! — bateu palmas contente e agarrou meu pescoço. — Obligada, papai.

— De nada, meu amor.

Fui para o banco da frente, sentando-me sob o volante e dei partida no carro, olhando para a casa ao lado e não vendo nenhuma movimentação por ali.

Ela tinha fechado o contrato com o proprietário do imóvel que tinha achado perfeito. Fiquei imensamente feliz quando tinha ido na minha casa há alguns dias para me contar.

A loira estava radiante, nunca a tinha visto tão feliz daquele jeito ao ponto de nem consegui fechar o sorriso. E eu adorava. A admirava como se fosse o por do sol mais lindo do mundo, a coisa mais preciosa depois da minha filha.

Transamos feito loucos naquele dia, estávamos tão eufóricos, tão cheios de energia que fomos dormir apenas de manhã.

Ela pintava enlouquecidamente.
Estava sempre suja de tinta.
Teve uma vez em que, quando eu e Mia estávamos no gramado em baixo da cerejeira e Emma pintava um quadro lindo — como todos os seus outros — e não resistimos e acabamos começando uma guerra de quem se sujava mais de tinta. Fizemos uma bagunça e tanto, ficando melecados, mas logo corremos para o mar para nós limpar com a água salgada.

No hospital, as coisas também estavam uma loucura. Muse fazia seus exames rotineiros, mas não tinha nenhuma melhora, o câncer estava apenas progredindo e não tinha mais o que fazer, apenas continuar com a medicação para ela ter um final de vida o mais indolor possível.

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