Capítulo 14

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Sou julgada por todos ao meu redor, desde o princípio venho carregando tanto sofrimento comigo, fui condenada a crescer órfã e por causa disso fui taxada de defeituosa, não tive pais ou amigos para enxugar minhas lágrimas quando mais precisei de companhia.

--- E pra onde eu vou? Não completei meus dezoito ainda - Tentei não soar rude.

--- Te faremos um favor então ficará no alojamento para crianças que não foram adotadas - Ela nem me olha, continua mexendo no maldito celular. --- Nós já sabemos que você nunca será escolhida, então vamos facilitar o processo - Eu queria chorar, ela age com tanta frieza. --- Vou te passar o endereço quando sair pegue um táxi - Como se eu tivesse dinheiro.

Nesse alojamento eu sinto a solidão...

--- Por que os outros adolescentes recebem ajuda e eu não? - A diretora veio nos visitar.

--- Eles não são defeituosos como você.

--- Eu não sou defeituosa! - Ela me olhou com raiva, segurou com força a minha mandíbula me prendendo contra a parede, como sempre fez.

--- Ainda é mal agradecida?! Fizemos o favor de te abrigar aqui, pagamos os seus estudos na melhor escola da Coreia, e você tem a coragem de reclamar?!

Está me machucando, sinto as lágrimas se formarem mas não me atrevo a chorar, não na frente dela. Eu só queria dizer o quanto me sinto injustiçada, já passou pela sua cabeça os meus sentimentos? Eu era só uma criança e ninguém se importou com o meu sofrimento.

--- A última caixa... - Quase não me aguento de pé devido o cansaço avassalador, sem contar o sono que estou sentindo pois passa das onze, mas só posso sair quando terminar meu trabalho. --- Senhor Kim, estou indo! - Disse alto retirando as luvas de proteção.

--- Organizou o depósito inteiro? -
Ele apareceu rapidamente na porta, não gosto disso, parece que fica me vigiando. --- Terminou tudo? - Afirmei tentando sair daquela sala, ele agarrou os meus braços me segurando no lugar.

--- O que está fazendo? - Seus olhos passeando pelo meu corpo.

--- Você tem aula amanhã, não é? Desculpe te fazer trabalhar até tarde - O aperto ficou mais forte. --- Me deixe te levar pra casa em agradecimento pelo seu trabalho duro.

--- Senhor, por favor me solte - Pedi com medo. --- Vou denunciá-lo por assédio.

--- E quem será sua testemunha? - Riu malicioso. --- A polícia coreana não se importa com órfãs.

Com dezesseis anos eu tive que aprender a lutar para me defender de homens como o senhor Kim, naquela noite eu escapei e fui demitida no dia seguinte por agressão ao meu chefe.

Passei semanas com fome pois tinha medo de sair para encontrar outro emprego, não suportei muito tempo e no final tive que trabalhar mesmo com medo.

Crônicas De Nárnia                                              ( TWICE )Onde histórias criam vida. Descubra agora