Capítulo 4 - Ver com os próprios olhos

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Por Estela

Eu tenho certeza que provavelmente eu perdi a fala, pois no mesmo momento em que eu estava visualizando de forma atônita a imagem em meu telefone, Bruno parecia ainda mais ansioso com a minha resposta.

- Estela? Terra chamando para Estela? – Ele estalava os dedos em minha frente.

- O que? Oi? Para com isso. – Pisquei os olhos algumas vezes.

- O que você me diz? Vamos? Vai ser hoje a noite, Alice já confirmou a presença. – Ele seguia empolgado.

- Você chamou a Alice também? – Tentei desconversar um pouco.

- Lógico, somos amigos e achei que talvez fosse legal fazermos algo como antes. – Ele deu de ombros. – Agora me diz a sua resposta, não aceito que recuse.

Pensei um pouco, eu estava completamente espantada com tudo o que estava acontecendo. Nunca em minha vida eu pensei que poderia vivenciar algo nesse sentido.

Em toda a minha existência, sempre passei desapercebida pelos caras, só me destacava pelo cérebro, até porque eu era e continuo sendo tímida demais para tentar chamar a atenção de alguém.

Eu sabia que precisava ver com meus próprios olhos se aquilo era realmente verdade, precisava confirmar ao vivo e em cores que a pessoa com quem eu ri, jantei, bebi e dormi, era realmente uma estrela de cinema.

- Que horas vai ser? – Questionei.

- Às 19h. – Bruno parecia mais alegre.

- Tudo bem...eu vou. – Suspirei.

- Eu sabia que podia contar com a minha dedo podre favorita. – Ele caçou.

- Vai a merda, Bruno! – Ralhei dando o dedo do meio.

Bruno deu uma risadinha e saiu porta afora.

Aproveitei que estava sozinha e tomei um copo d’água. Um pouco trêmula, abri meu Instagram e entrei na barra de pesquisa, joguei o nome Enzo Vogrincic e o perfil dele se destacou como o primeiro da lista.

Contei até 10 antes de entrar na página, quando eu enfim criei coragem eu quase tive outra crise de nervosismo.

Enzo Roldán, como o mesmo havia se apresentado, era de fato a promessa mais recente da Netflix. Seu perfil não era muito extenso, de fato havia muito mais de fotografia de paisagens do que fotos próprias, mas lá estava nas marcações diversos eventos com o elenco do filme.

Automaticamente senti meu coração se apertar. Eu jamais teria condições de sequer chegar perto dele hoje e questioná-lo sobre essa situação.

Obviamente ele não me devia satisfação, mas claramente ele não foi 100% honesto comigo, e agora tudo fazia sentido, principalmente em relação ao homem que praticamente havia me chamado de prostituta mais cedo em seu quarto.

O resto do dia passou de forma maçante. Tomei um ansiolítico com o intuito de diminuir as paranoias da minha cabeça.

Desde muito nova luto com as minhas emoções, fui criada reprimindo-as e sentindo como se fosse um sinal de fraqueza trazê-las a tona.

Aquela situação toda estava me dando gatilhos e enquanto eu não tirasse minhas conclusões eu não ficaria em paz.

Cheguei em casa pouco antes das 17h, tomei outro banho e escolhi algo mais simples para a noite, eu ainda não tinha certeza se queria que Enzo me reconhecesse, também, como poderia? Provavelmente uma centena de pessoas estaria enlouquecendo para vê-lo de perto.

Às 18h Bruno e Alice estacionaram em frente ao meu prédio, desci a passos lentos e rezando mentalmente para não ter uma dor de barriga.

- Amiga! Que bom te ver...nem parece que ontem a noite te ajudei a escolher uma roupa para sair. – Alice debochou.

- Não sei quem é pior na hora fé debochar, você ou o Bruno. – Revirei os olhos com um sorriso.

- Depois quero saber absolutamente TUDO sobre ontem. – Alice tagarelava enquanto eu entrava no carro.

- Vamos ver se você consegue arrancar alguma coisa dela, o máximo que ela me disse foi que havia sido bom. – Bruno disse enquanto dirigia.

- Vocês são muito fofoqueiros, sabiam? – Ri tentando não aparentar o quão nervosa eu estava.

O resto do caminho foi regado a risadas e palhaçadas feitas pelo Bruno. Meu círculo de amigos era bem fechado entre nós 3, sempre foi assim desde a faculdade.

Alice, assim como Bruno não seguiu a profissão, decidiu largar tudo e estudar psicologia.

Chegamos no shopping e uma pequena multidão estava se formando na entrada, a cada segundo que nos aproximávamos da sala de exibição, mais meu coração acelerava.

- Olha, o Vongricic está tirando foto com todo mundo que está entrando, vamos!
– Bruno nos arrastava.

Gelei.

Eu não esperava que fosse ficar tão perto dele, na verdade minha vontade era de ficar o mais longe possível, mas não teria jeito, teria que encará-lo.

Bruno foi na frente, como sempre! Alice balbuciava alguma coisa sobre como os latinos tinham um charme diferente, e eu, bem, eu tremia como uma vara verde.

Ele ainda não tinha me visto, mas eu já estava perto o suficiente para saber que era ele mesmo.

- Próxima! – O fotógrafo chamou minha atenção.

E foi só nesse momento que nossos olhares se encontraram novamente e pude notar um rubor nas bochechas do uruguaio.

Me aproximei fingindo que não o conhecia, mas claramente eu estava fracassando.

- E-eu...eu quero falar com você sobre isso. – Ele sussurrou em meu ouvido.

O olhei com uma certa confusão no olhar e uma pontinha de desconfiança, mas não tive tempo de responder, fui empurrada por outras pessoas que queriam tirar sua foto com ele, mas ainda assim pude sentir o peso de seu olhar em minhas costas.

- O que aquele gato falou com você? – Alice questionou assim que sentamos em nossos lugares.

- Ele não disse nada, foi impressão sua. Como vamos pegar aquela foto que tiramos? – A dúvida pairou em minha mente.

- Vai estar no site oficial da Netflix. – Bruno respondeu.

Voltei minha atenção para a tela em minha frente. Aos poucos a sala ia terminando de encher, e lá na frente eu podia ver o espaço reservado para os realizadores do evento, e entre eles estava Enzo, que por impressão minha ou não, olhava cada canto da sala escura como se procurasse alguma coisa ou alguém.

O filme começa e o silêncio inunda a sala, a obra era realmente emocionante e Numa, sem sombra de dúvidas, foi o personagem mais emotivo da trama, senti um nó na garganta quando os colegas de desastre liam o bilhete deixado por ele.

No fim, todos se levantaram e aplaudiram de pé a performance do longa. 

A saída do cinema estava caótica, muitas pessoas queriam se aproximar novamente de Enzo e do Diretor do filme com o intuito de pegar autógrafos.

Bruno queria ficar mais um pouco mas Alice e eu o convencemos a ir embora.

Saímos rapidamente de lá, quase como se estivesse foragida ou algo assim, só de imaginar a possibilidade de Enzo ir atrás de mim ou algo nesse sentido fez com meu lado introvertido e discreto gritasse na minha mente.

No retorno para casa não se falava outra coisa a não ser como o filme era incrível e tocante.

Depois de me despedir de meus amigos e de deitar em minha cama, as palavras de Enzo martelaram em meu inconsciente.

Eu sabia que não poderia alimentar absolutamente nada a respeito dele, ainda mais agora, sabendo quem ele realmente era, mas alguma coisa dentro de mim me dizia que aquilo não tinha acabado, mas sim, começado.

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Feriadou com capítulo fresquinho para vocês!

Agradeço muito às pessoas que estão comentando e votando, isso está me incentivando a postar mais e mais 🫶🏽

Espero que tenham gostado e não deixem de dar aquela estrelinha e aquele comentário!

Um beijo da tia Vick!

Scandal - Enzo VogrincicOnde histórias criam vida. Descubra agora