009.

3.7K 247 30
                                    

Sua voz é luz e eu sou quase cego.

Terça-feira | Rio de Janeiro
Renato Cardoso. RW

point of view.

— Tá foda Rw, tá ficando sem água direto aqui. Ajuda aí. — faço um joia para o morador e saio suspirando.

Carlão tava viajando, foi dar golpe.

E deixou a responsa nas minhas costas, domingo mesmo, executamos um assalto lá na pista. A mando dele.

— Ei, Rw. Tenta fazer os fluxos de quinta, situação lá em casa tá feia. Dependo da barraquinha po. — Uma moça fala assim que eu passo.

— Vai pra saída da escola, lá da dinheiro bom. E se preocupa com pagar ponto não. — falo e ela concorda agradecendo.

Desço a rua e passo de frente a loja de roupa da Telma, estranho a grande movimentação e não vejo a Arielly lá, só a Maria Júlia.

— Quer algo? — me viro vendo a Dona Telma aparecer com umas roupas em mãos. Apenas nego e continuo a andar, indo em direção á boca principal vendo os moloque encostado lá.

— Bom dia. — faço um toque com eles.

— Fala tu, patrão. — Teco debocha e eu reviro os olhos me escorando na parede.

— Qual foi que tua prima não tá trabalhando hoje? — pergunto logo. Se a curiosidade bateu, eu do jeito de matar.

— Vish, nem sei. — ele coça a nuca. — até estranho, Arielly é mó responsa com essas coisas. — Matheus concorda.

— Deve tá só a Maria Júlia lá hoje. — Ele fala. — desce pra lá, Gw. Tu é doido por ela.

— Se liga ou. — ele dá um tapa fraco na cabeça dele e eu nego com a cabeça. — vou subir lá pra ver se tenho notícias dela. Falow ae. — ele acena com a cabeça e sobe na moto saindo a milhão.

— Ja tá assim é? — me viro para o Matheus levando uma sobrancelha pique mc Mirella. — atrás da Arielly até no serviço.

— Passo lá de frente todo dia, e nunca tinha visto aquela doida. Fui ver ontem, aí passei hoje nem tava. — dou de ombros. — Sei nem porque tô te dando satisfação.

— Minha mulher tu, po. — ele ri e eu já desencosto.

— Começa não.

Pego meu rumo subindo pra casa. Viro a esquina, vendo a moto do Guilherme de frente para uma casa, na mesma rua da casa da mãe dele, encostei no muro, passou dez minutos ele saiu da casa batendo o portão, parecendo estar com raiva de algo. Atravessei a rua indo até ele que já tava subindo na moto.

— Tá fazendo o que aqui? — pergunta confuso.

— Subindo pra casa. — respondo. — eai?

— O ex, foi atrás dela ontem falando merda e machucando. Chegou em casa, teve recaída e acordou com febre. — fico confuso.

— Recaída de que? — cruzo os braços.

— Droga, Renato. — ele responde sério. — e se eu ter que matar aquele filho da puta por causa desses bagulhos, sinto muito mas eu mato. — só concordo e ele sai.

Posso me envolver em nada, já tô curioso demais e me metendo em coisas que nem dá porra da minha conta não é. Se ela e o ex dela tem b.o's pendentes, que se resolvam pra lá e sem trazer problemas pra ninguém.

Cabeça anda cheia pra caralho, não vou pesar mais ainda com coisas que não vale a pena pra mim.

Entro em casa, esquento a comida que fiz ontem e almoço, organizei a cozinha e já desci pra rua denovo. Aguento ficar em casa não, ainda mais agora com esse monte de coisa pra resolver.

Passei no trabalho que os cara tava fazendo e orientei no certo o que eles deveria fazer, arrumar os canos e as mangueiras tudo no certo, e agilizar essa encanação pra ontem.

Infelizmente, os moradores não tem o apoio da prefeitura e nem do estado para se manter, então tem que recorrer com nóis para ter esses tipos de saneamentos básicos.

Passo a tarde toda na rua, já tava mortão. E a mente continuava a milhão, tirei o baseado do bolso ascendendo e colocando na boca.

Moto tava quebrada a uns dias, tomei um capote bonito semana passada, motor da moto foi com Deus. Aí tô apé esses dias, chego em casa faltando colocar os bofe pra fora, morto pra caralho.

Subindo a rua, vejo ela descendo, Atravesso, ficando na mesma calçada que ela, e assim que se passamos, ela para.

— Tô começando a ficar com medo. — ela ri baixo.

— Tô indo pra casa só, po. — solto a fumaça na cara dela. — Tá bem? — ela levanta uma sobrancelha.

— Você me perguntando isso? — ela cruza os braços fazendo a sacola rasgar e um pote de sorvete cair. — merda. — ela resmunga baixo se abaixando me dando a visão das costas dela arranhada e vermelha. Percebo alguns roxos na sua perna, e estranhei, mas aí lembrei do que o Guilherme tinha me falado mais cedo.

— O que aconteceu com tu? — pergunto assim que ela se levanta novamente, Arielly engoliu seco desviando o olhar e percebi logo que ela não queria falar disso. — Dboa po, precisa responder não.

— Eu tô bem. — ela responde a minha primeira pergunta colocando o cabelo atrás da orelha. — e eu não fui trabalhar hoje porque acordei com febre, sei que sentiu minha falta. — ela se gaba e eu caio na risada.

— Tá se achando demais pra quem vai passar a noite chorando e comendo sorvete de flocos. — Ela olha para o sorvete e sorri de lado.

— Quando doer algo em você, experimenta fazer isso. — ela sorri de lado. — alivia.

— Nada dói em mim.

— Você é sortudo por isso. — ela suspira e eu concordo. — tenho que entrar. — ela aponta com a cabeça e vejo que estou de frente para o portão da casa dela. — Boa noite, Renato. — fico confuso sobre como ela sabe o meu nome.

— Renato?

— Não precisa ser um gênio pra descobrir que Rw é de Renato. — ela passa por mim abrindo o portão.

— Certo. — concordo passando a mão no cavanhaque. — Boa noite, floquinhos.

Ela cai na risada, que acaba me contagiando me fazendo rir também, sentindo até um alívio estranho no corpo e na mente .

Arielly se virou e entrou dentro da casa rindo, e quando percebi, o baseado ainda estava na minha mão, mas o bagulho nem me fazia questão mais, então eu joguei no chão pisando em cima e fui embora pra casa.

•••

Eu vivo de migalhas desses dois!

M.

Dentro de você. Onde histórias criam vida. Descubra agora