049.

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A dor não é sua, talvez seja por isso que você não liga.

Sábado | Rio de Janeiro
Arielly Almeida.

Point of view.

A dor que eu sentia era algo inexplicável e incompreendida.

Ninguém conseguiria entender a decepção que eu estava sentindo de mim mesma, de ter confiado em uma pessoa, de ter contado absolutamente tudo da minha vida pra ela, confiado e ter me entregado de corpo e alma.

No momento que ele reconheceu o Renato, e falou sobre o morro estar pegando fogo, eu saquei na hora que ele não era a pessoa boa que ele mostrava ser. Todas as vítimas de hoje, o meu primo sendo baleado, tudo isso foi culpa dele, Henrique.

E talvez o que mais me chateava foi ter sido tão tonta a ponto de ter confiado nele, em uma pessoa que eu não via há 10 anos.

Quando cheguei na tia Carla doida para ver o Guilherme, cai na real que todos sabiam da Verdade. De quem era Henrique Almeida, tia Carla, jacaré, Teco, GW e até mesmo a Eduarda, e em todo momento quando eu percebi aquilo me questionei se a minha mãe sabia.

A morte dele não me doeu tanto quanto ver as pessoas que eu amo me traindo.

Não aguentei vinte minutos na Tia, sai pronta pra chegar em casa e desabar.

Mas o maior motivo da minha decepção estava no portão da minha casa. Com o semblante abatido, sua roupa e mãos sujas de sangue. E naquele momento, eu senti o ar faltar nos meus pulmões.

— Ary... — ele se levantou e deu dois passos para frente.

— Você matou meu pai, na minha frente. — cai na real, de que não era um sonho, ou melhor, pesadelo. E de que as pessoas realmente mentiram pra mim.

— Não era pra isso ter acontecido, Ariel. — ele se aproximou e eu senti meu corpo rejeitar ele, antes mesmo dele poder tocar em mim.

— Cala essa boca e não me chama assim, nunca mais. — senti o nó formar na minha garganta.

— Você nem sabia quem ele era...

— Eu tava tentando descobrir, tava tentando reconhecer o meu pai que eu não via á dez anos! Você tirou isso de mim. — eu sentia o desgosto a cada palavra que saia da minha boca.

Eu me sentia suja, idiota, burra. Por ter acreditado que algum dia, alguém poderia sentir algum pingo de consideração por mim.

— Me perdoa. — engoli o choro que corroia minha garganta. — Você tem que entender meu lado, Arielly. Vamos conversar com calma, por favor. — encarei seus olhos completamente vermelho e quase não acreditei quando vi brilhar pelas lágrimas. — eu não posso te perder, e nem quero.

— Você não vai me perder, até porque não se perde o que nunca teve. — cuspi as palavras na sua cara. — eu definitivamente, te odeio, Rw!

Seu olho piscou, e a lágrima do olho esquerdo saiu. Dei as costas pra ele, sentindo o mundo inteiro desabar, abri o portão de casa, tranquei e não olhei pra trás ao entrar. Mas as minhas costas deslizaram pela porta de madeira, em seguida do meu choro.

Eu soluçava de tanto chorar, eu sentia vontade de me mutilar, de arrancar a dor do meu peito, mas eu não podia, eles não merecem me ver machucada por algo que eles causaram.

Me levantei assim que ouvi alguém abrir o portão, me afastei da porta limpando o rosto. E quando a minha mãe apareceu, eu abri meus braços e corri até ela, chorando feito criança.

Eu sabia que ia doer quando a ficha de tudo caísse, mas eu não imaginei que seria tanto. Ser machucada por alguém que você explicou onde eram cada uma das suas dores, é horrível.

E eu estou tentando, bem lá no fundo, achar que isso vai me servir de aprendizado algum dia, mas poxa, tanta pancada que eu já levei, sera que não aprendo nunca?!

— Tá doendo mãe. — senti meu peito apertar.

— Lembra do que a psiquiatra falou, Ary? O fio da respiração, controla filha.

Foquei a minha mente toda em me controlar. Quando me acalmei me afastei passando as mãos no cabelo.

— Me perdoa. — ela olhou nos meus olhos, dizendo as duas palavras que cortou o último pedaço de coração que me restava.

Me neguei a acreditar.

— Você sabia né? — mordi o lábio inferior sentindo minhas mãos tremendo.

— Deis do começo. — levantei meu rosto pra cima, tentando não deixar nenhuma lágrima escorrer dos meus olhos. — Carlos me contou quem ele era, o que ele fez e o que planejava. — cravei minhas unhas na palma da mão, mas em momento algum, olhei em seus olhos. — Pedro foi pago pra estar aqui desde novo, pago para namorar com você. Por ele, ele queria saber cada passo que dávamos nesse morro, fez dois jovens entrarem pro crime para descobrir os passos do Rw e Carlão, ele queria o morro e pra isso tinha que ter a cabeça dos dois.

Pago para namorar com você.

Tudo em mim doía, mentalmente e fisicamente.

E foi ali, que me questionei se a gente realmente sofre tudo que merece.

Solucei mais uma vez e olhei pra ela deixando as lágrimas que estavam pressas, rolarem

— Nunca fui uma filha ruim pra você, não propositadamente. Mas devo ter falhado como filha, pra você estar falhando comigo como mãe. — limpei meu rosto e dei as costas pra ela, fui para a cozinha e abri o armário, tirei o comprimido da cartela e coloquei dois na boca, bebi a água fazendo o calmante descer pela minha garganta.

Passei pela sala vendo ela chorando no sofá.

Entrei no meu quarto e encarei meu semblante no espelho. Me perguntando porquê ninguém gostava de mim, se eu não era o suficiente para ser amada.

Me joguei na cama, de barriga pra cima e com a mente a milhão.

Eu estava mal, completamente decepcionada com tudo e sem vontade para absolutamente nada.

Queria dormir, para sempre.

×××

Dor.

M.

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