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E era somente isso que eu desejava, um pai presente.

Sabádo | Rio de Janeiro
Arielly Almeida.

Point of view.

Segurei firme a bolsa no meu ombro, eu estava completamente nervosa e com a ansiedade corroendo meu corpo. O shopping estava lotado, a praça de alimentação onde era o ponto de encontro então, nem ce fale.

Me sentei em um banco bem no centro, onde eu podia observar os quatro canto desse lugar, até achar ele. Tirei meu celular do bolso e vi á hora exata, 17:00.

Guardei novamente e suspirei fundo. Ergui meu olhar para um ponto em específico, e vi ele se aproximar. Fiquei totalmente em choque, era como se eu estivesse me vendo, em uma versão masculina e mais velha. Me levantei sentindo minhas pernas bambear, e meu coração querer sair do peito. Henrique parou na minha frente, ele era branco, e sua barba estava feita, assim como seu cabelo, e ele usava roupa de marca, pelo visto, se deu muito bem na vida.

— Pai. — eu sorri.

Última vez que vi ele, eu só tinha dez anos, ele trabalhava mais do que ficava em casa, esse foi um dos milhares de motivos da separação dos meus pais.

— Minha filha! — ele abriu um sorriso, e seus braços envolveram meu corpo, me fazendo retribuir o abraço e me aconchegar ali, no meu pai. — quantas saudades. — ele passou a mão no meu cabelo. Se separamos e eu passei uma mão na bochecha, limpando uma lágrima boba.

— Senti falta do senhor também. — me sentei fazendo ele fazer o mesmo.

— Você se tornou uma mulher linda, parabéns.

— Obrigada.

Soltei esse agradecimento quase chorando.

"Se tornou um mulher"

Ele não acompanhou as minhas fases, as minhas rebeldias, as minhas recaídas, todas as vezes que eu adoeci e precisei de alguém além da minha mãe.

— Como vai a Vanessa? Faz tempo que á vi.

Se envolvendo com o Dono de um morro, acredita?

— Ela vai bem! — olho pra ele. — mas não sabe que retornei contato com você, meio que ninguém sabe.

Ele soltou um pigarro e eu mechi nas pulseiras do meu braço. — Por que isso, Arielly? Ela está te proibindo de me ver?

— Jamais. — neguei retomando meu olhar pra ele. — mas eu não quis falar a ninguém, escolha e teimosia minha. Queria te conhecer primeiro, ver o homem que se tornou.

Talvez, a minha fala havia o surpreendido. Mas para ser bem sincera, eu quero que ele seja ele mesmo comigo, se ele for um cara rude, ele vai ser.

— Olha, sei que fui errado em não ir atrás de vocês, mas a sua mãe se separou de mim, era uma obrigação dela dividir a sua guarda comigo, não acha? — respirei fundo.

— Não muito, você poderia ter ido atrás, eu era uma criança. — fui sincera e ele abaixou a cabeça. — mas não quero falar somente disso, quero saber de você. — ele me olhou denovo e eu engoli em seco. — casou novamente? Teve outros filhos? — balancei meus pés tentando distrair meu corpo.

— Quem disse. — ele riu me fazendo sorrir. — sua mãe foi a única mulher que eu amei de verdade, Ary. Depois dela me enfiei em trabalho, acabou que envelheci com a cara em papéis e esqueci da minha vida pessoal.

— Entendo. — respondi simples. — ela não teve ninguém depois de você.

— E você? Não me diz que já está namorando. — riu e eu dei risada.

— Não mais, terminei tem um mês. — respondi ele. Como dizer que namorei cedo demais. — atrapalhou muito minha adolescência.

— Tá quase entrando nos vinte né? — concordei. — o tempo voa.

Diferente de absolutamente tudo que eu pensei, Henrique se mostrava ser bom e verdadeiro em suas palavras. Fomos comer e era bom estar com ele, com o meu pai. Um cara engraçado e muitíssimo inteligente, porém, reservado de uma forma extrema.

Me assustei quando o relógio marcou oito horas da noite. A hora passou rápido demais.

— Tenho que ir! — coloquei as mãos no bolso da calça. — tá tarde e ônibus essas horas vai ficando complicado. — ele concordou.

— Entendo, mas como seu pai, não posso te deixar ir sozinha uma hora dessa! — até tentei abrir a boca para contestar, mas ele retomou. — eu te levo, pelo menos até lá perto do Vidigal.

— Tudo bem então. — sorri, facilitaria muito a minha vida. — Vamos.

Saímos do shopping e eu senti o vento balançar meus cabelos, caminhei atrás dele, ele parou de frente á um corola preto, e abriu a porta pra mim, um gesto surpreendente de cavalheirismo que eu não esperaria, mas claro, ele queria me agradar.

Assim que ele entrou, ele ligou o ar quente e eu agradeci mentalmente. Ele ligou o carro e saiu do estacionamento, pegando a avenida.

— Sabe dirigir? — me olhou rápido.

— So moto. — me ajeitei no banco. — meu ex me ensinou, eu pilotava a moto dele direto. — sorri de lado lembrando. — carro sempre tive vontade, mas oportunidade nenhuma.

— Semana que vem, posso te levar para dar umas voltas nesse aqui. O que acha? — arregalei os olhos, já me imaginando dirigindo.

— Sério? — ele concordou e eu abri o maior sorriso. — eu vou adorar.

Passamos o caminho inteiro planejando, e nem me dei conta quando ele parou em uma esquina antes do Vidigal.

Tirei o cinto e ele destravou as portas. — Parei longe pra evitar fofoca pra você. — ele me olhou sem graça. 

— É melhor. — abri a porta. — Obrigada por hoje, pai. — ele sorriu e vi seus olhos brilharem.

— Eu quem agradeço, Ary.

Me despedi dele e andei em passos rápidos até o Vidigal, assim que cheguei, comecei a subir as milhares de ruas que essa favela tinha, quando cheguei na rua da minha casa, quase soltei foguetes.

Caminhei mais um pouco e quase morri quando vi o Rw sentado na calçada com um baseado na mão. Esse homem ainda me mata um dia.

— Que palhaçada é essa aqui, Rw? — passei a mão na testa, já tentando me controlar.

— Ce acha que eu não percebi, que a verdade sempre aparece sua ratazana. — arregalei os olhos e acertei um tapa forte no ombro dele. Moloque tirado.

— Pega teu rumo e vai embora. — tirei a chave da bolsa e ele se levantou. — Aproveita e no caminho vai se lascando.

— Tava a onde? — ele cruzou os braços e eu destranquei o portão.

— Porra, já tá querendo ser meu dono? — tirei onda com a cara dele. — sinto muito, meu amor! Mas você irá morrer na curiosidade. — abri meu melhor sorriso.

— Desgraçada. — ele me xingou e eu fechei o portão ainda olhando ele pela grade. — eu descobro sozinho.

— Faça isso. — dei de ombros e virei as costas. — e me chama de ratazana denovo pra você ver o seu. — gritei pra ele enquanto entrava, e só ouvi sua risada como resposta.

×××

Eita eita

M.

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