043.

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Fica combinado, mais essa noite.

Segunda| Rio de Janeiro.
Renato Cardoso, RW.

Três e meia da manhã, terceiro baseado que eu colocava na boca. Minha mente não saia dela, minha Ariel.

Era difícil ficar próximo dela sem sentir nenhum sentimento qualquer, foi rápido pra caralho o nosso lance, o ódio sufocante que tínhamos era somente a merda de um tesão acumulado. Achei que ia passar essa agonia no peito no momento em que a gente transase, acabasse com isso. Mas a porra só aumentou.

Não aceito, em hipótese alguma, eu sentir algum sentimento romântico por ela, não é possível e nem pode ser, estou próximo dela agora, pra descobrir algo que quem me mandou descobrir, sabe mais do que eu.

O vento que entrava pela varanda do quarto não me incomodava, eu encarava a lua cheia, questionando mil perguntas, como se ela fosse me responder.

Mesmo de costas, eu sentia a presença dela atrás de mim, a respiração descontrolada.

— Você tá bem? — sua voz doce foi como álcool na ferida, meu corpo inteiro arrepiou e mais uma vez, o peito doeu.

Não movi caralho de músculo nenhum, soltei a fumaça para cima e respirei fundo.

— Tô. — única coisa que eu respondi. Eu ouvi os passos pequenos dela, e seu corpo parar do meu lado, encarando a lua.

— Não quis acabar com a sua festa, mil desculpas. — olhei ela por canto de olho. Ela tinha uma mania absurda de morder o lábio inferior até sair sangue, e estava fazendo isso nesse exato momento.

— Para de morder a boca. — mandei voltando meu olhar pra frente e ela concordou parando.

O silêncio se instalou e ela entrou pra dentro novamente, o vazio instalou e eu passei a mão no rosto completamente nervoso, bagulho surreal, eu não controlava esses sentimentos dentro de mim.

Passou cinco minutos, joguei o baseado pela varanda e entrei no quarto, a luz estava acesa, a minha camiseta estava dobrada em cima da escrivaninha, e ela estava com a roupa de antes, ela colocou o celular no bolso da calça e me encarou.

— Obrigada por cuidar de mim, Rw.

Não sei o que era pior, a dor ou ouvir ela me chamar pelo meu vulgo, que na boca de outros eu exigia enquanto na dela, eu não fazia um pingo de questão.

— Tá tarde, Arielly. — cruzei meus braços encarando ela.

— Você não me quer aqui, eu noto isso na forma como você está me tratando. — ela passou a mão no cabelo. — Poxa, Rw. Eu não te fiz nada.

Dei dois passos para frente e ela deu um pra trás. — Não foge de mim. — pedi com calma. — vai dormir!

— Eu vou, na minha casa. — respirei fundo, me controlando.

— Bora conversar, po. — me sentei na cama. — tô numa boa contigo, ce que anda escondendo tudo de todos.

Joguei a culpa toda nela, sabendo o quanto ela ficaria afetada com isso, porque independente de como ela seja, Arielly preserva a sinceridade, e talvez, essa seja a coisa que mais me atrai nela.

Ela se sentou no chão, escorando as costas na porta. — Eu reencontrei com o meu pai, Renato. — ela confessou, e eu não sabia se ficava bravo por ela estar me contando, e eu ter que trair a confiança dela ou aliviado por ela confiar em mim.

— Por que não me contou antes? — encarei seus olhos.

— Não contei pra ninguém, você é a primeira pessoa a saber. — ela fez perna de índio e ficou mexendo nos acessórios do braço. — eu tinha vontade, sabe? E quis, sem contar pra ninguém, sou muito influenciável, ia ter muitas opiniões, eu ia ficar doida. — ela riu.

— E como foi?

— Foi incrível, Rw. — ela sorriu e eu suspirei. — eu nunca imaginei que sentiria falta de uma coisa que eu quase não tive, mas quando eu estava com ele, era como se nada tivesse mudado. — eu vi o exato momento em que os olhos dela brilharam pelas lágrimas, senti meu peito arder, levantei e controlei minha respiração. — Tudo bem?

— Fumei demais. — menti. — mas vocês vão se encontrar denovo? A onde?

— Ele vai me ensinar a dirigir, tem uma pista no final do Leblon, vai ser lá. — ela se levantou arrumando a roupa. — eu tô tão feliz, se eu aprender a dirigir vou carregar você pra cima e pra baixo naquele teu carro que não sai da garagem. — ela riu e eu dei risada.

— Longe lá né?

— Pior que é, mas vou ir cedinho e voltar a noite. — me explicou.

— Entendi.

— Cara, te contar me fez sentir um alívio tão grande por dentro. — ela parou na minha frente, me fazendo admirar cada traço dela.

Abaixei minha cabeça e segurei a mandíbula dela, ela ficou na ponta dos pés e eu rocei meu nariz no dela, sentindo seu cheiro bom.

— Você confia em mim, né Ariel? — engoli em seco fechando os olhos sentindo a boca dela próxima a minha.

— Mais do que eu deveria.

Sua boca grudou na minha, e eu não exitei em começar um beijo lento, minha outra mão foi descendo pela cintura, onde eu apertei de leve, e desci para a bunda, onde eu deixei um tapa, arrancando um sorriso dela. Arielly colocou sua mão por dentro da minha camiseta, usando as unhas de gavião dela para arranhar minhas costas, suspirei contra a boca dela.

— Quero você, dentro de mim.

— Dentro de você. — confirmei.

×××

Amo os dois? Amo.
Amo o Rw ter que mentir e usar ela? Não.

M.

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