Vícios são uma droga, drogas é um vício.
Segunda-feira | Rio de Janeiro
Arielly Almeida.point of view.
— Ary, atende ali pra mim? Meu horário de almoço agora. — Maju pede e eu concordo, saindo de trás do balcão e seguindo até a moça.
— Olá, bom dia...
Começo a atender, e depois de meia hora escolhendo a roupa, ela finalmente comprou e foi embora me deixando sozinha, aproveito para arrumar algumas peças no manequim pro lado de fora.
Trabalho em uma loja de roupa bem famosinha daqui do morro. Porém, funcionários tão pouco, só eu e a Maria Júlia e as vezes, Telma a dona. Só em horário de almoço assim que fica mais dboa. Mas em horário de pico, é difícil duas pessoas dar conta.
— Gótica, azarada, fumante e trabalhadora. Teu histórico tá ficando grande. — me viro vendo o Rw e reviro os olhos.
— Acho que você está obcecado por mim. — dou risada entrando para dentro da loja novamente.
— E iludida. — acrescenta e eu me viro olhando indignada pra ele. — qual foi?
— Você vai ficar me insultando mesmo? — coloco os braços na cintura e ele sorri de lado.
— Verdade costuma doer mesmo. — suspiro tentando me manter calma e volto para destrás do balcão me sentando. — não sabia que trabalhava aqui.
— A carinha é de vagabunda mas o espírito é de trabalhadora. — dou de ombros pegando meu celular e mandando mensagem para uma menina daqui do bairro que faz cílios.
— Tá certo. — ele passa a mão no cavanhaque e dá as costas saindo. — passar aqui todos os dias agora. — grita de lá de fora e eu arregalo os olhos.
— Tá maluco? Quero não. — Grito de volto mas ele nem ouve e me levanto vendo duas mulheres entrando.
(...)
Atravesso a rua, andando quase parando. Do trabalho pra casa, eu pegava uma ladeira do caralho, coisa de matar as pernas.
Sinto meu braço ser puxado e minha bolsa cair no chão. Me assusto me soltando e olhando para o lado vendo o Pedro Henrique.
— Tá maluco, Pedro. — me abaixo pegando a bolsa e arrumando no ombro. — que merda você quer agora?
— Conversar.
Que vontade de xingar esse carai.
— E não sabe chamar? — pergunto óbvia cruzando os braços.
— Você não viria. — concordo com a cabeça. — volta comigo?
Tento raciocinar para ver se era isso mesmo que ele estava falando. Porque a pessoa tem que ser muito retardada para me pedir uma coisa dessas depois de tudo.
— Claro que não. — me viro pronta pra sair, sabendo que essa conversa seria uma perca de tempo. Mas, mais uma vez ele puxa meu braço forte, me fazendo grudar meu corpo no dele e minha respiração travar. Pulmão fraco da nisso. — Me solta. — peço e ele nega. — Não me deixa pedir denovo, se não...
Ele segura minha mandíbula forte me empurrando para o beco da rua e batendo minhas costas na parede rebocada.
— Se não o que, Arielly? — ele consegue apertar mais forte, me fazendo encolher. — Você tá tirada agora que nois terminou, tá achando que não tô vendo não, parceira? Você de amizade com esses outros bandidos? Fica feio pra tu. Marmita de bandido do caralho. — ele me aperta mais, e consigo sentir minhas costas arranhando na parede por conta da blusa que eu usava. — se liga. — ele me solta. — Tu pode não ficar comigo, mas não pensa você que vai ficar com outros. Porque não vai!
Ele se vira saindo e eu engulo seco a vontade de chorar. Ajeito a minha roupa, sentindo uma dor mental absurda, caminho mais rápido pra casa e abro o portão vendo minha mãe sentada na rede, mas passo direto entrando para o meu quarto.
— Que caralho. — sinto o nó se formar. Tranco a porta do quarto e caminho até a cômoda tirando o último saquinho que eu tinha. Limpo a penteadeira e faço três carreiras, não perdendo tempo e cheirando. Por sorte, achei o último baseado, e me sentei no chão fumando, vendo meu quarto embassado por conta da fumaça.
Aos treze anos, fiz amizades com pessoas á qual eu não deveria nunca ter conhecido, me envolvi com gente errada, e quando fiquei mal por conta de uma briga com a minha mãe, comentei com esses amigos, e eles prometeram me ajudar, a me libertar da raiva, da dor, da tristeza... de tudo que não me fizesse bem.
Boba, imatura e inocente. Cai no vício, que melhorei um pouco quando me relacionei com o Pedro, ele me ajudava pra caralho nesse bagulho, acabei deixando de lado, mas tá tudo voltando.
— Arielly. Tá tudo bem? — ouço a voz da minha mãe atrás da porta e suspiro vendo minha mão tremendo.
— Tudo bem, mãe. — respondo e ouço os passos dela afastar. Me levanto do chão, soltando a fumaça pelo nariz e me olhando no espelho, vendo meu rosto marcado e minhas costas arranhadas. E se a ansiedade atacar, amanhã aparece vários roxos, como se eu tivesse levado uma surra.
Termino de fumar mó cota depois, quando já tá fino, tiro minha roupa e me enfio dentro do banheiro, passando horas brisando em baixo do chuveiro. Assim que terminei, coloquei um pijama e cai na cama.
•••
😕
M.
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Dentro de você.
Ficção AdolescenteUh uh yeah Fui deixando acontecer Sempre me amei primeiro Não queria me envolver Uh uh yeah Acho que foi o seu jeito Foi assim que me entreguei Acordei no seu travesseiro