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De cara fechada, pro mundo nunca pra ti.

Terça-feira | Rio de Janeiro
Arielly Almeida.

Point of view.

Tranquei a porta do quarto, e andei até a janela abrindo.

Era estranho a forma no qual eu sentia rancor dele, mas em qualquer mínima oportunidade, eu queria ficar perto. Mesmo isso acabando comigo, me deixando extremamente confusa e enfurecida comigo mesma.

Renato, foi o único homem no qual eu tive qualquer tipo de contato depois do Pedro, não sei se é um tipo de carência, mas ele me faz querer passar boa parte do meu tempo com ele, mesmo sendo discutindo coisas nada haver, ou julgando totalmente sua forma de ser, mesmo nós sendo iguais.

— Eu sei que sou lindo, não precisa me admirar tanto. — saio dos meus pensamentos ouvindo sua voz e dou risada negando com a cabeça. Me afastei da janela dando espaço para ele entrar.

E sem dificuldade alguma, Rw entrou no meu quarto fechando a janela em seguida, fazendo o quarto ficar totalmente escuro pela luz apagada e porta fechada.

— Uau, que recepção gostosinha, Ariel. — revirei os olhos indo até o disjuntor e ascendendo. — prefiro apagada, sabe?

— E eu prefiro quando você fica de boca  calada. — argumento contra. Ele ri passando a mão no cavanhaque, seu olhar analisa o quarto e anda lentamente até mim.

— Como você tá? — suspiro passando a mão na testa.

— Bem, até. — sou sincera. — fui demitida. — conto.

— Sinto muito. — ele cruza os braços.

— E você? Tá bem?

— Pra caralho. — sua voz sai mais rouca, sinto minha pele se arrepiar e minha garganta secar me fazendo soltar um pigarro. — porra, Ariel... quase matei o Teco quando soube da brincadeira que ele fez contigo. — ele sorri de lado.

Ele sabia facilmente, como esse Ariel mexia comigo, e como a mentira dele ( de se preocupar em saber como eu estava) me causaria coisas.

— Tranquilo! — dou de ombros. — só desmaiei porque não tinha me alimentado direto, e foi muita bomba pra um dia só, a culpa não foi dele. — defendo.

— Tô ligado. — ele descruza os braços. — vou indo então, passei só pra ver como tu tava mermo. — ele me deu as costas e pensei e repensei no que eu estava pronta para dizer, e assim que ele ia abrindo a janela, tomei frente.

— Renato! — ele parou, e por cima do ombro, seus olhos se cruzaram perfeitamente com os meus. — almoça aqui, minha mãe vai almoçar fora.

Mordo o lábio inferior, esperando alguma piada ridícula vindo dele, ou algum deboche, e eu já estava formulando minha bela resposta, quando ele sorriu pra mim, mostrando suas covinhas, o primeiro sorriso verdadeiro que eu tinha visto vindo dele.

— Pode ser. — ele coçou a nuca e eu ri. — Tá rindo de que maluca?

— Você tá sem graça, senhor Renato Cardoso? — me aproximo dele rindo. — ou melhor, Cardoso Rj.

— Tu não vale nada, Arielly, na moral mermo. — ele empurro meu ombro fraco me fazendo dar mais risada ainda.

Caminhei até a porta e abri, fui até a sala e cozinha conferindo se tinha sinal da minha mãe, mas nem rastro.

Quando ia me virando para voltar e chamar o donzelo, ele já aparecia na sala na maior cara de pau.

— Poderia ter esperado eu ir te chamar, imagina se minha mãe te vê. — olho pra ele que sorri de lado.

— Que isso, Ariel. Tá parecendo uma adolescente de 14 anos trazendo o namoradinho escondido em casa. — caio na risada me lembrando que na minha era apocalíptica eu já fiz isso. — mentira que tu já fez isso?

— Uhum. — concordo no meio das risadas. — eu era muito sem noção.

— Ainda é. — paro de rir. — e não é não?

— Desenvolvi muito juízo, tá? — vou pra cozinha com ele atrás. — Você come strogonoff?

— Bem feito, como até pedra. — olho pra ele com as sobrancelhas levantadas. — se tu não saber cozinhar fala, que o pai aqui manja.

Ele se gaba e eu solto uma risada irônica.

— Meu amor, o dom que eu tenho na cozinha você não tem em nada nessa vida. — me gabo e é a vez dele de dar risada de mim. — qual foi em, Rw?

— Tô falando nada não, Masterchef. — ele levanta as mãos em redenção puxando uma cadeira e se sentando. — faz teu bagulho ai, parceira. Bora ver ce é tudo isso mermo.

Fiquei calada e peguei os ingredientes e comecei a fazer, fiz o strogonoff e o arroz ao mesmo tempo.

Cada coisa que eu fazia, ele tinha que dar um jeito de retrucar dizendo que tava errado e que não ia ficar bom, só com a faca na mão, ameacei ele umas dez vezes, mas não adiantou merda nenhuma, o vagabundo sabe que eu não mato nem mosca.

— Prontinho. — digo assim que termino de colocar as coisas na mesa. — pegar só a batata-palha. — abri o armário pegando a batata e abrindo, coloquei na mesa e me sentei. — pode se servir, madame. — sorri de lado.

— Você envenenou? — ele pega o prato fazendo careta.

— Talvez sim, talvez não, só provando pra saber. — brinco com ele que nega com a cabeça colocando a comida no prato. Fiz o mesmo em seguida, e reparei bem quando ele deu a primeira garfada na boca. — eai, tô aprovada ou não tô? — coloquei a coca no copo pra mim e pra ele. Renato ficou em silêncio sem reação nenhuma.

— Da pra comer. — falou depois de séculos e eu fiz minha maior cara de cu pra ele. — zuera, po. Tá bom demais, até que pra isso tu é boa. — sorrio.

— Te falei, Renato, te falei...

Passamos o almoço todo conversando, e falar aqui, o cara que disse que minha comida "dava pra comer", repetiu e ficou elogiando depois, quase medi a temperatura dele, pra ver se não estava em estado febril, mas ele garantiu que estava bem.

Coloquei ele pra lavar os pratos enquanto eu organizava a cozinha, e por algum milagre de Deus, ele não reclamou em fazer.

— Aí eu fiquei calado né, na minha, não sou doido... — ele tava me contando que encontrou com o Jacaré mais cedo hoje, e ele perguntou da filha. — mas o viado do Teco abriu a boca, dizendo que ela dava uns perdidos e pegava macho casado.

Abri a boca em um perfeito u, queria muito ter presenciado essa cena.

— Tia Carla comentou aqui em casa que não contou nada pra ele não, que teve uma conversa séria com a Eduarda e que ela prometeu mudar. — conto. Fofoca de cada dia. — Vamos ver se ela aprende né. — pego o prato do escorredor secando.

— Ela era doida pra dar umas bitoquinha na minha boca, nem rendi. — conta e eu dou risada.

— Ja suspeitava já, olhar dela não nega. — nego com a cabeça colocando os dois pratos no armário. — Gui nunca falou nada né?

— Ele evita muita coisa, sabe como teu primo é né. — concordo me encostando na pia.

— Rw, tô desconfiada que minha mãe tá saindo com alguém. — mudo de assunto e ele desvia o olhar. — e você sabe é quem, não sabe? — olho seria pra ele que fica quieto. — fala!

— Sei de nada não po. — mentiu na maior cara de pau, esse sinico.

— Beleza então, eu dou meus pulos e descubro sozinha. — me afasto dele.

— Melhor que tu faz.

×××

Primeiro capítulo dos dois juntos sem brigas, que evolução 🥺

M.

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