𝗘𝗽𝗶𝗹𝗼𝗴𝗼 ³

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                 𝗣𝗼𝗿𝗰𝗵𝗮𝘆 𝗞𝗶𝘁𝘁𝗶𝘀𝗮𝘄𝗮𝘀𝗱
         |𝗣𝗵𝘂𝗸𝗲𝘁, 𝗧𝗮𝗶𝗹𝗮𝗻𝗱𝗶𝗮. 𝟬𝟲:𝟬𝟮 𝗔𝗠.|

Jogo as flores sobre o caixão; logo em seguida, ele é descido e coberto com uma tampa de mármore com o grande símbolo da família Theerapanyakul cravado nela. Encaro o céu sentindo uma onda de melancolia ao vê-lo nublado. Sinto algumas gotas molharem o meu rosto. Vai chover a qualquer momento.

- Melhor irmos - Ouço Kim falar, abraçando os meus ombros.

Assinto e olho para Tankhun; ele não parece nada bem. Top, ao seu lado, acaricia seus cabelos numa tentativa de confortá-lo. Desde que soube do falecimento do pai, o grande - e escroto - Korn Theerapanyakul, ele está assim. Não come, não dorme. Pela primeira vez desde que o conheci, Tankhun está quieto. Ele, diferente do meu marido, conviveu com o pai antes dele se tornar aquele ser horrendo. Ele ainda preserva as boas lembranças da família antes de toda a tragédia. Eu chorei, não pelo meu sogro, mas pelo meu cunhado. Khun e Kim não mereciam o pai que tiveram.

Quando soube da notícia, meu marido não ficou surpreso, pelo contrário, parecia até aliviado. Eu o julgaria se não soubesse por tudo que ele passou nas mãos do homem agora descansando a sete palmos da terra; eu mesmo nunca perdoei Korn por quase ter me feito perder meu filho e a vida também.

O velho Theerapanyakul perdeu o pouco juízo que tinha anos atrás, e juntos, os filhos decidiram colocá-lo em um lar de idosos aqui na cidade de Phuket. Algum tempo atrás, fomos avisados de que ele não estava bem. Tankhun foi o único que veio vê-lo; Kim se recusou a vir, e eu não o forcei.

- Vamos ficar um pouco mais - Top diz, abraçando Tankhun.

- Cuide dele, por favor - Kim pede, deixando um beijo estalado na cabeça do irmão. Meu cunhado sequer se move, parece longe.

Kim e eu seguimos para fora do cemitério. Korn não era religioso, então não fizemos uma cerimônia budista, optando por uma ocidental.

- Ele vai ficar bem - digo, vendo Kim olhar para trás.

Ele se vira para mim e sorri, abraçando-me de lado. Caminhamos em silêncio, apreciando a brisa suave. Eu me pego pensando em como estaria se Kim tivesse tido o mesmo fim que o pai.

Meses atrás, ele teve um infarto; por pouco não morreu. Entrei em desespero, as crianças viram tudo, foi assustador. Ele foi salvo graças à rapidez de Top. Foi uma semana sem conseguir dormir em um quarto de hospital, temendo perdê-lo. Depois daquilo, voltamos para Bangkok; Kim não queria ficar longe do irmão, e eu queria que os meus filhos tivessem mais contato com a família; somente assim eles poderiam se distrair do trauma que aquela noite causou em todos. See foi o único que relutou; não queria ficar longe do namorado - porque sim, eles oficializaram a união naquele dia. Não precisamos entrar em conflito; Winn mesmo pediu aos pais para voltar à Tailândia também.

Desde então, estamos todos juntos. A família cresceu nos últimos quinze anos, e entre tantos garotos, Mee é a única menina da família e, por isso, é mimada ao extremo. Lembro-me como se fosse ontem da primeira vez que peguei a bebê nos braços. Assim como ocorreu com Dee, não tínhamos a intenção de adotar mais uma criança e, então, simplesmente a conhecemos e nos encantamos. Mee foi deixada em um abrigo que apadrinhei assim que me mudei para o Canadá. Fui visitá-lo como de costume e a diretora me avisou sobre a chegada de uma nova criança, ela havia sido deixada pelos pais, esses sendo imigrantes que não tinham condições de criá-la. Quando coloquei meus olhos sobre aqueles olhinhos cor de mel, eu sabia que aquela criança era minha. Levei Kim para conhecê-la, depois See e Dee, e assim como eu, eles também se apaixonaram. Mee, com seus olhos cor de mel, cabelos tão negros como a noite e pele morena, ela nasceu para ser uma Kittisawasd Theerapanyakul.

𝐀𝐭 𝐍𝐢𝐠𝐡𝐭 𝐖𝐞 𝐌𝐚𝐝𝐞 𝐚 𝐂𝐡𝐢𝐥𝐝Onde histórias criam vida. Descubra agora