Um desconhecido na outra linha

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Jennifer passou o dia calada no quarto de Charles enquanto Jack e Charles tentavam fazer ela comer. Michael havia passado no hospital para atualizar Hannah sobre os últimos acontecimentos e Brad tinha procurado Jennifer mas sem sucesso.

Não houve nenhum assassinato naquela noite, nenhum caso estranho, nem desaparecimento. Nada fora do normal. Também naquela noite, um detetive fora chamado para investigar o que estava acontecendo na cidade.

O fato de que Harry Carpenter, tio de Jennifer, ter matado os pais e a irmã em tempos diferentes não encaixava na narrativa. Por que ele fez isso? Ele parecia tão normal na imagem do jornal. Estava tudo demasiado confuso.

Jennifer experimentara a teoria de que ele fora possuído pela tal Emma Witzcount que Charles falara, mas não fazia sentido depois de um tempo. Depois pensou que ele poderia ter ficado louco da noite pro dia e matado a família.

***

Jack parou o carro defronte ao gramado da casa dos Wilson. Jennifer foi a primeira a sair do carro e depois Charles e então finalmente Jack. A casa estava vazia e escura. Estava começando a parecer uma casa abandonada.

Jennifer tinha algo para ver na casa. Ela deixou os garotos encostados na parede do carro e entrou sozinha na casa. A porta estava destrancada e, em seguida, entrou no hall.

O hall estava pouco iluminado e havia pedaços do vasos espalhados pelo chão em volta. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto e ela deu uma olhada em volta e então balançou a cabeça e subiu a escada.

Ela andou mais pelo andar de cima e então abriu uma porta fechada que não era nem o banheiro nem o quarto de Jennifer, de Jack tampouco.

A porta dava acesso à um quarto de paredes cor-de-tijolo e quatro janelas — duas na outra extremidade e outras duas na parede da extrema esquerda. Havia uma cama na parede esquerda, uma penteadeira na parede defronte a da porta, na outra extremidade, e um guarda-roupa na parede direita.

Jennifer começou a vasculhar as gavetas a procura de uma foto que tivesse sua antiga família. Nada havia. Apenas papéis do trabalho, boletins dos filhos e dela mesma na época de ensino — com o nome de Britney Carpenter. Jennifer tremia enquanto procurava algo e seu coração acelerava um pouco demais.

Jennifer escutou a porta se fechando sozinha e deu um grito alto, assustada, e puxou a gaveta enquanto caia com um baque forte no chão. As coisas dentro da gaveta se espalharam pelo quarto e a gaveta desta penteadeira arranhou as pernas e os braços de Jennifer e quebrou-se quando caiu.

Ela girou o corpo de modo que ficasse com o peito pata baixo e então olhou para um pequeno papel com algumas anotações na caligrafia de sua mãe.

Samuel Houston
+1 (412) 670-1182

Jennifer piscou os olhos e leu novamente. Ela semicerrou os olhos para dar mais uma última lida. Quem seria Samuel Hudson? O que ele estaria fazendo na gaveta da penteadeira da mãe da sra. Wilson?

Jack entrou no quarto e se virou para a irmã. Vendo-a caída no chão, segurou a mão dela e ajudou ela a se levantar. Charles entrara no quarto e se agachou ao ver o bilhete no chão e apanhou ele e leu-o.

– Samuel Houston? Quem é esse? – perguntou Charles, ainda agachado, se virando para Jennifer levantando a cabeça.

– Gostaria de saber – respondeu Jennifer ofegante e depois ajudou Charles a se levantar.

– A sra. Ballard deve saber quem é – disse Jack dando uma vistoria na bagunça que Jennifer fez.

– Deve ser algum cara do trabalho – respondeu Jennifer coçando a cabeça e então ela apanhou de volta o bilhete, lendo-o várias vezes.

– Vamos fazer o teste – disse Charles sorrindo e Jack assentiu.

Charles saiu do quarto e então gritou chamando os dois irmãos. Juntos, ambos desceram a escada e foram até a sala ("CADÊ VOCÊS?" gritou Charles.). Eles subiram a escada e entraram no quarto de Jack, onde estava Charles com um telefone na mão.

– Me passa o número do cara – pediu Charles à Jennifer e ela entregou o papel meio sem jeito. Ele discou os números e depois deu o telefone a Jennifer, que se aproximou do gancho e esperou alguém atender na outra linha.

– Casa dos Houston, aqui é Samuel, com quem falo? – perguntou uma voz masculina do outro lado da linha e Jennifer sentiu seu coração acelerar muito.

– A-aqui é J-Jennifer Wilson, gostaria de perguntar ao senhor se conhece Tiffany Wilson – explicou Jennifer agoniada esperando a resposta de Samuel Houston.

– Tiffany Wilson? Não, srta. Wilson – respondeu Samuel Houston – Quem seria esta?

– Minha mãe – respondeu Jennifer em voz baixa, mas Samuel parecia ter entendido.

– E por que está me ligando? – perguntou Samuel Houston confuso – Bem, a única Wilson que eu conheço foi assassinada há algumas noites atrás.

– É ela mesma, sr. Houston – disse a garota um pouco desesperada e nervosa.

– Oh, sinto muito, garota, mas ainda não entendo porque me ligou – disse Houston e Jennifer suspirou.

– Porque o seu nome estava marcado num papel. Talvez o senhor deva a conhecer pelo nome de Britney Carpenter – explicou Jennifer e ela escutou um suspiro longo vindo da outra linha.

– Britney? Jesus Cristo! Lamento mesmo, srta. Wilson – ele desligou a chamada.

– Ele desligou – disse Jennifer e os dois garotos assentiram – Ele conhecia a mamãe como Britney. Então foi antes de conhecer nosso pai.

– Antes de 1965 – disse Jack e os dois outros lhe olharam confuso – Foi quando papai e a mamãe se conheceram.

– Mas pode ter sido durante. Mas quem pode ser esse Samuel Houston? – indagou Jennifer pensativa.

Jennifer se calou e ficou pensando em algumas probabilidades enquanto Jack e Charles sussurravam um para o outro.

– Bem... Uhm... Tem a sra. Ballard, não é? Ela deve saber de alguma coisa, suponho – comentou Charles em voz baixa e os dois irmãos se viraram para ele e o garoto repetiu.

– A sra. Ballard... A sra. Ballard! Vamos, ela deve conhecer Samuel. Vamos lá!

Eles desceram rapidamente a escada que ia para o andar de baixo e saíram da casa fechando a porta com força.

A Noite MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora