ᴍᴜᴅᴀɴᴄ̧ᴀꜱ ᴇ ᴄᴏɴǫᴜɪꜱᴛᴀꜱ²⁸

440 58 14
                                    

Emilia Sales

O sol ja tinha nascido a algumas horas, tingindo o céu com tons alaranjados. Suspirei ao observar pela janela o mar a alguns metros de distancia. Aquele lugar guardava tantas memórias. As conversas sérias à mesa da cozinha, rizadas dadas na sala ao assistir filmes, momentos com meu irmão na cozinha. Mas, naquele dia, era diferente. O carro do Aaron estava estacionado na entrada, cheio de caixas com as minhas coisas. Era o momento da mudança.

Dei mais uma volta pelo quarto vazio, conferindo se não havia esquecido nada. A cama estava feita, o armário aberto e as prateleiras, antes cheias de objetos meus, agora estavam vazias. Havia apenas um porta retrato que estava sobre a mesinha de cabeceira, era uma foto onde Otávio, nosso pai e eu sorriamos para a câmera depois de brincar no parque, as nossas bochechas vermelhas e os cabelos molhados de suor deixavam claro o quão bom foi a tarde de brincadeiras.

— Pronta, princesa? - Aaron perguntou entrando no quarto.

Sorri levemente para ele. Aaron era o meu porto seguro nos últimos meses. Eu sabia que estava tomando a decisão certa de ir morar com ele, mas ainda assim, meu peito estava apertado, meu coração parecia bater comprimido em uma caixa de fósforos.

— Quase - respondi, indo até ao porta-retratos. —Só preciso levar isto.

Ele olhou para a fotografia e sorriu.

— Esta casa vai sempre estar aqui e o seu pai também, podemos vir todo domingo visitar. - me abraçou suavemente.

Assenti, embora soubesse que não era só da casa que me despedia. Era de uma parte de mim, começaria agora uma nova fase na minha vida.

— Sim, eu sei... - suspirei. — Mas é estranho. A mudança... Nunca pensei que fosse tão difícil.

— As mudanças são sempre dificeis - concordou se afastando para pegar a ultima caixa. — Mas, ao mesmo tempo, são o começo de algo novo. E olha o lado bom, você terá duas casas.

Sorri para ele. Por mais que adorasse o conforto da casa do meu pai, sentia que estava na hora de seguir em frente, construir a minha própria vida e compartilhar o dia a dia com Aaron.

— Pronta agora? - perguntou erguendo a sobrancelha de forma brincalhona.

— Agora sim. - Agarrei o porta retratos contra o peito.

Descendo as escadas, vi meu pai encostado no braço do sofá. Um homem de coração enorme, sempre havia apoiado as minhas decisões, mesmo que isso lhe causasse preocupação.

— Lá vai você, para longe de mim - disse, com um sorriso triste.

—Vou deixar vocês se despedirem a sós. - Aaron disse indo em direção a porta da sala.

— Não vou longe, pai - respondi. —E vou vir aos domingos, sempre.

— Espero que sim. O seu quarto vai continuar aqui, do mesmo jeito. - se aproximou e, num gesto carinhoso, acariciou meu cabelo. — Só quero que seja feliz, filha.

Amor e CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora