Capítulo 4

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**Emilly**

Eu não deveria estar aqui. O peso da missão ressoava em cada batida do meu coração enquanto minhas asas me levavam pelo ar escuro e denso do inferno. Era meu dever entregar a mensagem, mas algo estava errado. A hostilidade era palpável, e eu sabia que estava sendo observada.

**Demônio 1** — Olhem só, um arcanjo nas nossas terras. Que ousadia! — ouço uma voz carregada de desdém ecoar ao meu redor.

Antes que pudesse reagir, uma mão áspera me agarrava, e o impacto me derrubou. O chão duro e quente feriu minha pele.

**Demônio 2** — Vamos arrancar essas asas dela. Vai ser divertido ver um anjo sem suas preciosas asas. — um sorriso cruel se espalhou pelo rosto grotesco do demônio.

**Emilly** — Por favor, parem! Estou aqui em missão de paz! — implorei, tentando me libertar.

Mas minhas palavras não significavam nada para eles. A dor cortante das lâminas rasgando minhas asas era insuportável. Com um último esforço, consegui me desvencilhar e corri, cambaleando, até me esconder atrás de uma árvore. A adrenalina me sustentava, mas não por muito tempo. Senti minha visão escurecer e desmaiei.

**Henri**

Estava caçando alguns monstros canídeos quando algo inusitado chamou minha atenção. Uma figura caída atrás de uma árvore. Me aproximei cautelosamente, e meu coração quase parou ao ver uma mulher desacordada. Ela era a criatura mais bela que já havia visto. Cabelos brancos como a neve, pele pálida, e olhos dourados, ainda que fechados. Havia uma aura angelical ao seu redor, apesar das terríveis feridas nas costas.

**Henri** — O que um anjo está fazendo aqui? — pensei, perplexo.

Sem hesitar, peguei-a nos braços, sentindo a leveza de seu corpo frágil. Eu não podia deixá-la ali para morrer.

**Henri** — Vou cuidar de você. Prometo. — murmurei, mais para mim mesmo do que para ela.

Levei-a para o castelo de minha mãe, onde sabia que ela poderia receber tratamento adequado. A médica ficou surpresa ao ver uma arcanjo, mas não fez perguntas e começou a cuidar de suas feridas imediatamente.

Passava todos os dias indo vê-la, esperando que acordasse. Algo nela me atraía de uma forma que eu não podia explicar.

**Henri** — Por que não acorda logo? — sussurrei em um desses dias, segurando sua mão.

Finalmente, após dias de espera, vi seus olhos dourados se abrirem. Ela parecia confusa e assustada.

**Henri** — Olá, você está segura agora. Meu nome é Henri. — disse suavemente, tentando não assustá-la ainda mais.

**Emilly** — Onde estou? Quem é você? — sua voz era um sussurro trêmulo.

**Henri** — Você está no castelo da minha mãe. Eu te encontrei machucada e desmaiada. Só quero ajudar. — tentei soar o mais calmante possível.

**Emilly** — Um... um demônio... você é um demônio. — o medo era evidente em seus olhos.

**Henri** — Sim, mas não somos todos maus. Eu só quero te ajudar, Emilly. — disse, tentando transmitir sinceridade.

**Emilly** — Como você sabe meu nome? — perguntou, ainda cautelosa.

**Henri** — Você sussurrava enquanto dormia. — expliquei.

Ela pareceu relaxar um pouco, mas ainda estava visivelmente nervosa.

**Emilly** — Por que está me ajudando? — a dúvida em sua voz era clara.

**Henri** — Porque eu acredito que todos merecem ser ajudados. Não importa de onde venham. — disse, olhando diretamente em seus olhos.

**Emilly** — Eu... obrigada. — disse, com uma mistura de alívio e cautela.

Apesar de sua desconfiança inicial, havia algo que me dizia que ela começava a confiar em mim. E eu estava determinado a provar que ela podia confiar em mim completamente.

**Henri** — Descanse, Emilly. Eu estarei aqui quando precisar. — prometi, apertando levemente sua mão antes de sair do quarto, deixando-a para descansar.

Sabia que o caminho para ganhar sua confiança seria longo, mas estava disposto a percorrê-lo. Algo me dizia que ela era mais do que apenas uma missão de resgate. Ela era uma conexão que eu nunca havia sentido antes, e não deixaria essa chance escapar.

Enquanto me afastava, não podia deixar de pensar na ironia da situação. Um demônio cuidando de um anjo. Mas a vida no inferno sempre foi cheia de surpresas, e eu estava pronto para enfrentar essa nova reviravolta.

**Belial**

As palavras da empregada ecoavam na minha mente enquanto eu caminhava pela ala médica. "Seu irmão trouxe um anjo para o castelo." Isso só podia ser uma mentira absurda. Henri sempre foi o bonzinho, mas trazer um anjo para cá? Decidi verificar por mim mesmo. Afinal, a possibilidade das fofocas serem reais, considerando Henri, não era tão impossível assim.

Entrei na sala e imediatamente meus olhos foram atraídos para a figura deitada na cama. Seus olhos dourados se encontraram com os meus, e senti um estranho formigamento. Não conseguia explicar, mas algo nela me chamava a atenção, apesar de eu achar arcanjos fúteis e insuportáveis.

**Belial** — Então, é verdade. Um anjo no castelo. — disse friamente, cruzando os braços.

**Emilly** — Quem é você? — sua voz era cautelosa, carregada de medo.

**Belial** — Sou Belial, irmão de Henri. — respondi, observando sua expressão mudar ligeiramente.

Ela parecia mais tranquila ao ouvir isso, como se minha relação com Henri fosse uma espécie de garantia. Ingênua.

**Emilly** — Você é irmão do Henri? — perguntou, com um toque de alívio na voz.

**Belial** — Sim. E ao contrário dele, não sou tão acolhedor com anjos. — deixei claro, mantendo meu tom frio.

Ela pareceu se encolher um pouco, o medo evidente em seus olhos dourados. Mas mesmo assim, havia algo nela que me intrigava. Talvez fosse a combinação de sua fragilidade aparente e a força que eu sabia que um arcanjo deveria possuir.

**Emilly** — Eu... só estou aqui porque ele me trouxe. Eu não queria causar problemas. — disse, quase sussurrando.

**Belial** — Eu sei. Henri tem esse hábito irritante de querer salvar todo mundo. — respondi, com um leve toque de sarcasmo.

**Emilly** — Ele é gentil. — disse, com uma voz suave.

**Belial** — Sim, ele é. Mas isso não significa que confio em você. — falei, tentando manter minha guarda alta.

Ela abaixou os olhos, claramente incomodada com a minha desconfiança. Mas eu não podia me deixar levar pela aparência frágil dela. Afinal, era um arcanjo.

**Belial** — De qualquer forma, se meu irmão confia em você, eu vou te dar uma chance. Mas não pense que estou fazendo isso por bondade. — disse, aproximando-me dela.

**Emilly** — Eu entendo. Só quero me recuperar e ir embora. — respondeu, com uma determinação inesperada em sua voz.

Eu a observei por um momento, tentando decifrar o que exatamente era tão intrigante nela. Talvez fosse a combinação da força e fragilidade que ela exibia. Ou talvez fosse algo mais profundo, algo que eu não conseguia entender.

**Belial** — Vamos ver. Mas lembre-se, estou de olho em você. — disse, virando-me para sair.

Enquanto me afastava, não podia evitar de olhar para trás uma última vez. Havia algo nela que mexia comigo, algo que eu não queria admitir. Mas uma coisa era certa: ela não era apenas uma simples arcanjo. E eu estava determinado a descobrir o que era.

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