Capítulo 23

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**Belial**

A noite avançava lentamente enquanto Selena se acomodava em um dos quartos de hóspedes. A chuva de sangue lá fora criava uma atmosfera sombria e opressiva, comum no inferno, mas ainda assim desconcertante. Eu estava prestes a me retirar para meus próprios aposentos quando decidi dar uma volta pelo castelo, a fim de clarear a mente.

Passando pelo corredor, vi Henri entrando discretamente em seu quarto. A lembrança do remédio que ele carregava mais cedo voltou à minha mente, e não pude deixar de sentir um peso de preocupação se instalando em meu peito. Henri e eu sempre tivemos nossas diferenças, mas a ideia de ele estar se envolvendo profundamente com Emilly enquanto nossa maldição pairava sobre nós era perturbadora.

Desci até a biblioteca, onde sabia que meu pai, Dagon, costumava passar algumas horas estudando antigas escrituras e estratégias de guerra. Quando entrei, ele levantou os olhos dos pergaminhos que estava lendo, notando minha presença.

"Belial, algo errado?" perguntou ele, com uma voz mais branda do que de costume.

"Pai, precisamos conversar sobre Henri," comecei, sem rodeios. "Vi ele saindo da enfermaria com uma pílula do dia seguinte. Você sabe o que isso significa."

Dagon suspirou pesadamente, recostando-se na cadeira. "Eu sei, filho. Mas o que sugere que façamos? Henri sempre foi impulsivo."

"Se ele continuar com isso e morrer na nossa luta... Emilly não terá como criar uma criança no inferno, ainda mais sem o pai," respondi, a frustração evidente em minha voz.

Dagon permaneceu em silêncio por um momento, ponderando. "Henri precisa entender as consequências de suas ações. Mas não podemos simplesmente forçá-lo a fazer o que queremos. Ele deve perceber por si mesmo."

"Ele nunca vai entender, pai. E Emilly... ela está em perigo por causa dele. Isso é irresponsável."

Dagon me olhou com uma expressão severa. "Belial, concentre-se no que pode controlar. E isso inclui a sua própria situação com Selena."

Senti a raiva crescer dentro de mim. Por que meu pai sempre se recusava a intervir quando mais importava? Saí dali, a passos pesados, tentando dissipar a frustração. Decidi ir até os aposentos de Selena para ver se ela estava bem. Ao bater na porta e entrar, encontrei-a olhando a chuva pela janela, completamente concentrada.

"Sabia que seu cabelo é quase tão vermelho quanto essa chuva?" brinquei, tentando aliviar a tensão. "Só espero que não seja tão pegajoso."

Selena virou-se, inicialmente com uma expressão séria, mas respirou fundo antes de falar. "Belial, posso te perguntar uma coisa?"

"Claro," respondi, curioso.

"Como você se sente ao lado do seu irmão, como se ele fosse seu inimigo?"

Suspirei, sabendo que essa era uma conversa delicada. "Sim, eu sempre vi ele como um rival em tudo. Meu ódio por ele é enorme. Sempre nos interessamos pela mesma coisa e brigamos por isso. Acho que é mais minha culpa do que dele."

Selena assentiu, ponderando minhas palavras. "Então foi isso que aconteceu com essa Emilly? Vocês se apaixonaram por ela?"

"Henri provavelmente se apaixonou sim. Eu só queria brincar com ela um pouco, pois é uma arcanjo. Queria ver até onde sua pureza e inocência iam."

Ela franziu o cenho, mas não julgou. "Parece que vocês têm uma relação complicada."

"Complicada é pouco," concordei, me sentando numa cadeira próxima. "Mas e você? Já teve alguém que considerasse um rival assim?"

Selena balançou a cabeça. "Não exatamente. Meu pai sempre assustou qualquer pretendente que aparecia. Nunca tive um ex."

Ri com isso. "Dagon fez a mesma coisa com minha irmã. Assustou todos e até matou alguns."

A conversa fluiu naturalmente a partir daí. Falamos sobre experiências, nossos passados e ex-companheiros. A certa altura, fiquei curioso e perguntei de forma delicada: "E você, Selena? Já teve... relações com alguém?"

Ela me olhou nos olhos, sem hesitar. "Não. Nunca senti confiança suficiente em alguém para fazer isso."

Admirei sua franqueza. Passamos a madrugada inteira conversando, compartilhando histórias e sentimentos que raramente revelávamos a outros. A cada momento, eu percebia mais que Selena não era apenas uma nobre talentosa. Ela era uma pessoa com quem eu poderia realmente me importar, talvez até confiar.

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