A Maldição dos Gêmeos

Capítulo 32

Narrado por Emilly

Acordei devagar, minha mente envolta em uma névoa de confusão. Olhei ao redor e percebi que estava em uma cabana, pequena e rústica, com um leve cheiro de madeira e ervas medicinais no ar. Meu corpo ainda estava fraco, e a dor na barriga era uma lembrança constante do que eu havia passado.

"Finalmente acordou," disse uma voz suave e firme.

Virei a cabeça, vendo um homem alto com cabelos loiros desordenados e olhos azuis profundos. Ele se aproximou da cama, trazendo uma tigela de caldo fumegante.

"Quem é você?" perguntei, minha voz saindo rouca.

"Meu nome é Gabriel," ele respondeu calmamente, sentando-se ao meu lado. "Sou um anjo caído. Encontrei você desacordada e sangrando na floresta. Trouxe você para cá para cuidar dos seus ferimentos."

Tentei me levantar, mas uma onda de tontura me impediu. "Por que está me ajudando?"

Gabriel sorriu levemente, colocando a tigela de caldo em minhas mãos. "Porque ninguém merece sofrer assim. E porque, apesar de minha queda, ainda mantenho um senso de compaixão."

Hesitei, mas estava fraca demais para recusar. Aceitei a ajuda, bebendo o caldo devagar. A comida quente trouxe um pouco de conforto ao meu corpo exausto.

"Você... você está dizendo que é um anjo caído. Por que caiu?" perguntei, minha desconfiança ainda presente.

Ele suspirou, olhando para longe. "Fiz escolhas erradas, desafiei ordens que não deveria. Mas não me arrependo. Acredito que agi certo, mesmo que tenha sido punido por isso."

Houve um silêncio desconfortável enquanto eu processava a informação. "Obrigada por me ajudar. Não sei como vou te pagar por isso."

"Não precisa se preocupar com isso agora," respondeu ele suavemente. "Apenas descanse e se recupere. O resto pode esperar."

A exaustão tomou conta de mim novamente, e logo voltei a dormir, ainda desconfiada, mas grata pela ajuda inesperada.

---

**Narrado por Selena**

Sem hesitar, me aproximei e quase pulei sobre ele para abraçá-lo novamente.

"Belial!" exclamei, segurando seu rosto.

Ele acordou no susto, mas ao me ver, relaxou. "Selena, cuidado. Quase abriu meus pontos novamente."

Dei uma batidinha leve no braço dele, revirando os olhos. "Não vai morrer por isso. Você é forte lembra?"

Ele sorriu levemente, observando-me enquanto eu preparava os materiais para limpar seus ferimentos. "Você daria uma boa esposa, se não fosse tão brava."

Fiquei irritada com o comentário e joguei um pouco de álcool em seu ferimento, ouvindo-o grunhir de dor. "Isso é para limpar," disse, tentando parecer inocente.

"Nunca mudará, não é?" ele murmurou, ainda sorrindo.

Enquanto limpava seus ferimentos com cuidado, Belial me observava atentamente. "Tem alguma notícia de Emilly?"

Balancei a cabeça, sentindo uma pontada de ciúme. "Não, não há notícias. Ela sumiu depois da briga, a procurei, mas nada."

Ele fechou os olhos, parecendo preocupado, e isso apenas aumentou minha frustração. Tentei afastar esses sentimentos enquanto terminava de cuidar dele.

Quando saí da ala médica, vi Henri deitado, olhando fixamente para o teto. Sua expressão era de pura culpa e desespero. Sentindo pena dele, decidi tentar conversar.

"Henri," chamei suavemente, me aproximando. "Como você está se sentindo?"

Ele virou a cabeça lentamente, seus olhos cheios de dor. "O que você quer, Selena? Veio me infernizar a pedido de Belial?"

Neguei com a cabeça, sentindo a frieza em suas palavras. "Não, só quero saber como você está. Está tudo bem?"

Henri suspirou, parecendo cansado. "Nada está bem, Selena. Perdi Emilly e agora... agora ela pode estar morta. Tudo por minha causa."

"Não diga isso," falei, tentando ser reconfortante. "Você fez o que achava certo. Todos cometemos erros."

"Esses erros custaram a vida de uma pessoa que eu amo," ele murmurou, virando-se para o outro lado.

Sentei-me ao seu lado, em silêncio, tentando encontrar as palavras certas. "Henri, vamos encontrar Emilly. Não desista ainda."

Ele não respondeu, mas vi uma pequena faísca de esperança em seus olhos. Sabia que seria uma jornada difícil, mas estava disposta a ajudá-lo, mesmo que ele ainda não confiasse em mim completamente.