다섯

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Tata


Nós nos acostumamos, seja com o amor ou com a dor. Qualquer coisa que nos é imposta, mesmo que desconfortável, se torna um hábito quando repetida muitas vezes. Foi assim que, desde criança, me acostumei a não me importar com outras pessoas tocando meu corpo sem permissão.

É o preço que se paga por ser uma criança bonita, como os amigos do meu pai costumavam dizer. Por isso, o toque do alfa não me causou nada além de nojo, agravado pelo cheiro de álcool impregnado na minha pele. Não reagi; não queria estragar o plano do Sol. Eu precisava sair dessa maldita ilha a qualquer custo.

Procurei o rosto de Chimmy, temendo que ele tivesse um colapso de choro, mas me surpreendi ao encontrar seus olhos escurecidos fixos em mim. Ele me olhava de forma fria, como se estivesse absorvendo cada detalhe da cena. Senti meu braço ser puxado e me levantei. Foi então que percebi que o ômega observava o alfa embriagado; seu pomo de Adão subia e descia como se estivesse engolindo algo difícil de digerir.

Sol me fez uma pergunta, à qual respondi automaticamente, focado apenas no meu namorado, que ainda encarava o alfa. Só depois que o ômega se distanciou, nossos olhares se encontraram, e naquele momento, senti uma energia que raramente via em Chimmy. Era a mesma energia que senti quando matei minha mãe.

Eu queria beijá-lo, tocá-lo de todas as formas quando ele estava assim. Era como um ímã para mim. Ele pareceu ler meus pensamentos e entrelaçou nossos dedos. Nossa linguagem de amor era a morte; toda vez que o fim de alguém acontecia pelas nossas mãos, eu me sentia ainda mais ligado e necessitado do ômega.

Aproveitando a música alta e a conversa ruidosa dos alfas, aproximei-me sutilmente de sua orelha, fazendo sua pele se arrepiar.

— Mate-o.

Ele não respondeu, apenas retribuiu meu olhar, examinando meu rosto e pescoço como se procurasse marcas. Em silêncio, o ômega foi até a mesa do alfa, pegou um dos talheres e o enfiou rápida e discretamente na jugular do alfa, que mal teve tempo de notar sua presença. Assim que o talher foi removido, um jato de sangue atingiu o ômega que estava em seu colo, que gritou desesperadamente.

Uma intensa movimentação começou a tomar conta do ambiente, e Chimmy simplesmente retornou ao seu lugar ao meu lado. Sol, que agora andava de um lado para o outro tentando organizar os clientes e garotos que corriam, mal percebeu quando soltou nossas coleiras.

— Vem, Jimin.

Puxei o ômega pela mão, indo na direção contrária à multidão que se aglomerava no centro do desastre. Fui testando algumas portas nos corredores luxuosos até que uma cedeu, revelando um banheiro espaçoso com várias cabines. Assim que entramos, empurrei Chimmy contra a pia e o beijei, pegando-o completamente desprevenido.

— Ta-ta... Es-pera...

Sua tentativa falha de falar durante nosso beijo só me incentivou a deslizar a mão até sua calcinha vermelha. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ele segurou meu pulso e me empurrou para trás.

— O que caralhos está acontecendo com você?

— Já transamos em situações piores do que essa. Eu é que pergunto: o que há de errado com você?

Desencostei-me da parede e passei por ele, dirigindo-me à porta. Aquilo estava se tornando cansativo demais. Talvez, com sorte, eu conseguisse alguma bebida daqueles alfas nojentos. Quando me aproximei da porta, senti meus cabelos sendo puxados brutalmente para trás, fazendo-me perder o equilíbrio e me chocar contra o corpo de Chimmy.

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