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Tata


Eu gostaria de me sentir menos inútil; a sensação que tenho é que todos são melhores e mais fortes do que eu. Mesmo me esforçando ao máximo, sempre acabo reduzido a isso: um monte de lágrimas em um corpo trêmulo.

— Miau? — O ômega falou, tirando-me dos meus pensamentos deprimidos. Demorei um pouco para perceber que ele havia miado como um gato.

— Garoto, você fala nossa língua? — O alfa perguntou em inglês. Apenas balancei a cabeça, ainda inseguro com aqueles dois estranhos. — Felínia, examine-o. Talvez esteja ferido e não consiga falar.

O ômega, com traços bem definidos e um olhar marcante, ergueu a mão para me tocar, mas me afastei instintivamente. Ele mostrou os dedos finos, cobertos por uma luva que deixava suas longas unhas pretas à mostra, indicando que não representava perigo.

— Mi-au.

Ele miou novamente, e de alguma forma compreendi que ele estava pedindo calma. Acenei em resposta e ele se aproximou novamente, tocando meu corpo com cuidado, como se procurasse alguma fratura.

Seu toque era firme e preciso, quase profissional. Poderia ser um médico. Queria perguntar, mas um estalo na minha mente me fez lembrar de Chim. Se aquele ômega fosse realmente um médico, talvez pudesse ajudá-lo. Tomado pela esperança, inclinei-me para frente, tentando tocá-lo e pedir ajuda. No entanto, antes que conseguisse, o alfa robusto segurou minha mão delicadamente e se colocou entre nós dois.

— Você está seguro, fique calmo. — Seu sorriso, embora cordial, deixava claro que eu não deveria tentar tocar em seu ômega.

Sem muita escolha e intimidado pela presença imponente deles, percebi que eram os únicos dispostos a ajudar de alguma forma.

— Me-meu na-namorado está morrendo,por fa-favor nos ajude. — Finalmente consegui formular uma frase, embora minha língua ainda estivesse embolada pelo desespero.

— Miau! — O ômega falou na direção do escuro onde o carro estava estacionado, e para minha surpresa, passos indicaram que mais pessoas nos observavam. Um beta apareceu com uma mala de mão e, respeitosamente, entregou-a.

— Onde ele está?

— Na-na mansão.

— Nos leve até ele.

Concordei e voltei rapidamente pelo caminho percorrido, desesperado, parando apenas para verificar se o casal e os vários homens que os acompanhavam me seguiam. Ao chegarmos à mansão, subimos rapidamente as escadas. Abri a porta do quarto na escuridão, apenas uma lâmpada fraca revelava o ambiente.

Deixei os dois mais velhos entrarem, enquanto os seguranças se posicionavam no corredor. Fechei a porta com cuidado, tentando despistar qualquer intruso. Agora iluminado, o ômega exibia sua postura exótica de felino com orelhas e saltos altos, quase alcançando a altura do alfa, que abriu a janela para ventilar o ambiente.

A maleta que trouxeram foi colocada sobre a cama vazia e aberta, expondo vários itens médicos e remédios. Sem mais palavras, o ômega virou-se para Chimmy, erguendo o cobertor para examiná-lo.

— Miau. — Ele disse, dirigindo-se ao alfa, que concordou e virou-se de costas, nos dando privacidade.

Todos os panos foram removidos e o corpo magro e delicado do ômega ficou à mostra. Ele havia parado de convulsionar, mas ainda permanecia desacordado. Como se estivesse cuidando de uma criança, o mais velho arrumou o corpo delicadamente sobre a cama e, usando um estetoscópio, aferiu seus batimentos cardíacos.

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