Kookie
Um, dois, três... Pinga.O barulho das gotas de água era a minha distração no escuro. No começo, eu as estava usando para contar o tempo, mas depois de alguns apagões, perdi a conta. Não sei quantos dias estou aqui, mas parece uma eternidade.
Pisquei os olhos tentando aliviar a ardência causada pelo sangue acumulado nas pálpebras, mas não adiantava muito. O escuro não me permitia saber se estava enxergando bem ou não. Passei minha bochecha pelo meu ombro, era o máximo de movimento que eu conseguia.
Minhas mãos presas ao chão por uma barra de ferro não tinham abertura para a mínima movimentação. Tentei mover meus pulsos pela milésima vez e conseguia sentir minha carne cedendo ao ferro, que sequer se afetava com a minha força. Aquela filha da puta sabe o que está fazendo. Não deixou o mínimo de espaço para que eu conseguisse deslocar minha mão e me soltar.
Desisti, deixando meus braços caírem fracos entre as pernas, que também estavam presas no chão, me fazendo ficar de joelhos. Eu sentia câimbras pela posição desconfortável em que estou há pelo menos três dias. Meus pés formigam porque as correntes estão muito apertadas, impedindo o sangue de circular corretamente... E, caramba, estou com muita saudade deles.
Não faço ideia de quantos ossos meus já foram quebrados. A dor era quase mínima perto da sensação de saber que eles estão tristes. Eu já tinha ouvido falar dessa habilidade dos alfas da nossa família, mas nunca levei a sério. Saber que meus ômegas estão sofrendo era a maior tortura que estava passando até agora.
As dores corporais nem se comparam com todas as vezes que sinto eles pensando em mim. O cara que vem me bater todos os dias não faz ideia de que eu preferiria mil vezes receber um soco dele a sentir isso e não poder ir até meus ômegas.
Permitiria cortar qualquer membro meu apenas para que eu pudesse sentir novamente cada entonação do cheiro de cereja dos dois, Chimmy com um aroma mais doce e Tata mais cítrico, como quando vamos a um pomar na primavera. Mesmo sendo diferentes, ambos emitem o mesmo aroma de cereja como almas gêmeas. Minhas almas gêmeas.
"Vamos comer panqueca?"
"De novo, Tata?"
A lembrança das vozes melodiosas deles tendo suas brigas matinais por qualquer motivo vieram acompanhadas das imagens de seus sorrisos de satisfação depois de uma noite de amor, os dedos de Chimmy que parecem ter atração por minhas tatuagens ou a voz grave de Tata me chamando.
"Meu alfa..."
Despertei com um pulo ao ouvir a porta sendo destrancada. Meus instintos estavam fracos por conta da falta de comida e água. A luz que veio através da abertura me cegou momentaneamente, obrigando-me a fechar os olhos.
— Come.
Pisquei os olhos algumas vezes até me acostumar com o ambiente iluminado. Uma bandeja de alumínio estava na minha frente, com duas bacias: uma com comida e outra com água. Não havia mais nada, nem garfo, colher ou copo.
— Me solte, por gentileza. — falei usando meu tom mais ameno.
— Você acha que não sei quem você é? Come!
O homem falou com desprezo. Eu não tinha muita escolha. Se eu não comesse, corria o risco de ficar fraco demais e ceder à tortura. Me inclinei até o chão onde as vasilhas estavam e suguei a água com os lábios, bochechei um pouco e cuspi, limpando o sabor do meu sangue do paladar.
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Serpente
ФанфикTata e Chimmy, dois jovens ômegas, que desconhecem a palavra "controle", veem suas vidas virarem de cabeça para baixo após uma festa que deveria ser apenas diversão. Desnorteados e vulneráveis, eles caem nas garras do comércio ilegal de ômegas, merg...