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Tata


Despertei com meu corpo sendo jogado sobre algo macio e firme. Estava quente, e meu cabelo estava completamente grudado na pele. Instintivamente, me encolhi ao sentir a presença de alguém próximo a mim.

— Quantos faltam?

— Só a menina e o bebê.

— Aqui está cheio, vamos levar para o outro container.

— Tire a venda deles, pode deixar marca.

O tecido que cobria meus olhos foi puxado delicadamente, junto com a mordaça. Pisquei, confuso, pois a lâmpada fraca mal iluminava o local. A porta se fechou com um barulho estridente, me fazendo estremecer.

— Ta-ta, Tata?

Automaticamente, olhei na direção da voz  trêmula que me chamou. Chimmy estava amarrado do outro lado da sala, com os braços e pernas presos por cordas atrás do corpo, assim como eu. Nossos olhos se encontraram, e seus lábios tremeram. Tentei me mexer para chegar até ele, mas a posição tornava a tentativa impossível. Olhei ao redor do quarto e vi outros omegas, também amarrados e chorando.

— Você está bem? – perguntei baixinho, sentindo minha garganta doer ao segurar as lágrimas. Não queria assustá-lo ainda mais.

— E-estou com medo... – ele sussurrou, fazendo um nó se formar em meu peito.

— Vai ficar tudo bem, eu prometo.

Ele balançou a cabeça em concordância, mas as lágrimas continuaram a cair. Não consegui mais conter as minhas, que escorriam enquanto eu olhava para seus olhos brilhantes do outro lado daquele lugar escuro.

Queria confortá-lo e dizer que tudo ia acabar bem, que logo estaríamos de volta à nossa vida normal. No entanto, mal conseguia conter o medo que fazia minhas lágrimas descerem incessantemente pelo rosto. Minhas pernas começaram a formigar por conta da posição. Tentei forçar a corda, mas estava presa firmemente, o suficiente para não me machucar e me manter imóvel.

— Vamos morrer!

A voz de um garoto, que parecia mais novo que eu, ecoou do fundo da sala. O som, até então preenchido apenas por gemidos de medo e choro, cessou por um momento.

— Não vamos morrer. Só teremos que ser escravos sexuais de alguns doentes ricos.

Uma garota respondeu de forma seca. Ela não parecia estar chorando ou com medo.

— Como sabe?

— E qual seria o outro motivo para pegarem ômegas?

— Alguém irá procurar por nós. Meu irmão mais velho vai me procurar. Ele é policial...

— É, ele vai.

A ômega respondeu de forma sarcástica, que eu duvido muito que o garoto tenha percebido. O som da porta sendo destrancada me fez congelar e olhar assustado para Chimmy. Meu estômago começou a doer levemente de medo e ansiedade.

— Eu vou conferir a mercadoria. Se faltar alguma coisa, vamos repor com algo que já temos em estoque.

Uma mulher entrou acompanhada de três homens. Ela falava ao telefone e tinha uma prancheta nas mãos. Um dos homens apertou algum tipo de botão, e uma luz forte foi acesa, iluminando o ambiente por completo.

— Cem quilos de carne de ômega até quinze anos para Honolulu.

— Esses dois aqui no fundo.

Meus olhos seguiram os quatro homens que passavam por nós e se aproximavam de dois garotos bem jovens, amarrados e ainda adormecidos.

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