Tata
Acordei abruptamente com o som estridente de algo batendo. Meus olhos seguiram o ruído até o contêiner de lixo, onde um gato perseguia um rato quase do seu tamanho. O sol já havia nascido, iluminando a rua onde o beco terminava, revelando carros e pessoas que passavam apressadas.
Fiquei alguns minutos observando o movimento frenético, todos mergulhados em suas rotinas, alheios a qualquer coisa além dos próprios problemas. Uma onda de nostalgia me envolveu; senti falta de ter uma rotina também. Lembrei dos dias em que ia para a faculdade e dos trabalhos voluntários que fazia na igreja da minha mãe.
Mesmo odiando-a, agora sinto falta dos compromissos sociais que ela inventava para tentar passar a imagem de dama da sociedade, mesmo que fosse uma fachada. Eu gostava de visitar os idosos.
Era triste ver pessoas que dedicaram a vida à família serem abandonadas sem qualquer tipo de remorso, como se fossem coisas descartáveis. Eu sempre fazia questão de ouvir as mesmas histórias que alguns contavam sobre como foram felizes quando eram jovens e bem-sucedidos.
Minha situação atual não era a mesma, já que eu não faço a menor questão de que algum familiar me encontre, mas era quase inevitável me sentir abandonado quando meu único lugar para ficar é um beco sujo, cheio de ratos.
O ressonar alto de Chimmy me fez abaixar o olhar até o ômega adormecido no meu colo. Depois de uma briga, consegui convencê-lo a dormir junto comigo na cadeira de rodas. Ele estava exausto e, mesmo me dizendo que estava bem, eu sabia que algo muito errado havia acontecido naquele hospital.
Puxei-o um pouco mais para perto, querendo sentir o calor de seu corpo pequeno. O cheiro de cereja chegou ao meu nariz, e inalei como se fosse o antídoto para todos os medos que haviam dominado a minha mente.
A verdade é que poderiam me tirar qualquer coisa, inclusive pedaços do meu corpo, mas desde que ele estivesse comigo, eu ficaria bem. A imagem do dia da prisão veio à minha mente, e senti meu estômago revirar ao lembrar do momento em que vi o policial colocando-o desacordado em uma ambulância.
O amargo no fundo da garganta voltou. Apertei-o, afundando meu nariz em seu cabelo. Isso nunca mais vai acontecer, não enquanto eu estiver vivo. E quando encontrar Hwasa novamente, farei questão de que aquela filha da puta se arrependa por ter levado Kookie.
A lembrança do alfa se despedindo de nós com um olhar incomodado não saiu mais da minha mente desde aquele dia, me perturbando, como se, no fundo, eu soubesse que ele não queria fazer aquilo. Ele nos fez prometer que esperaríamos por ele, mesmo que eu jamais consiga imaginar não sentir falta dele todos os dias.
Ainda não consegui entender completamente o que está acontecendo. O fato de Namjoon ter dito que tinham tudo sob controle era completamente oposto ao olhar do meu alfa, e isso é o que mais me perturba.
O aperto no peito me fez suspirar pesadamente. Eu não sentia apenas falta do corpo e do toque quente, mas de como o olhar dele fazia minha mente ficar leve, trazendo a sensação de que tudo estava em seu devido lugar. Sentia falta do cheiro dele misturado ao de Chimmy, me trazia segurança. Porra.
— Bom dia. — A voz grave e sonolenta de Chimmy me impediu de começar a chorar. Funguei, e ele franziu o cenho. — Você está bem, amor?
— Sim... eu só estou com saudade... — falei, passando a manga da blusa no nariz.
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Serpente
FanficTata e Chimmy, dois jovens ômegas, que desconhecem a palavra "controle", veem suas vidas virarem de cabeça para baixo após uma festa que deveria ser apenas diversão. Desnorteados e vulneráveis, eles caem nas garras do comércio ilegal de ômegas, merg...