Confusões

746 79 38
                                    

Os quatro garotos estavam ali, sentados no chão da sala de pijama enquanto jogavam jogo da vida. Ayaka tremia no sofá, apenas olhando para o braço do Tsukishima que estava a mostra, por causa da regata que o loiro usava. Essa paixão deveria ser proibida por lei! Gostar de um dos melhores amigos do irmão? Nunca, isso não deveria acontecer de jeito algum. Seu nervosismo era aparente, mas os meninos estavam tão concentrados no jogo que não perceberam, o que a aliviava um pouco. Ayaka levantou, sem atrapalhar o jogo deles, e foi até a cozinha beber um copo d'água e digerir todos os sentimentos dentro de si.

— Onde tem água? – Kei apareceu de repente, assustando a menina que apontou para o filtro — Por que está tão branca? Parece que viu um fantasma. – Ele encurralou a menina, deixando-a encostada no balcão. Seus corpos estavam muito próximos e a respiração de Ayaka se intensificava a cada segundo — Você está na frente do filtro.

— ah... desculpa. – Ayaka saiu e foi para o canto mais longe da cozinha.

— Por que está estranha? Você fala pra caralho, mas hoje não abriu a boca. – Ele se virou para ela, ficando encostado no balcão. O loiro levou o copo lentamente até a boca, sem desviar o olhos olhos de Ayaka.

— To cansada, só isso... – A morena tentou desviar o olhar, focando em seu copo.

— Duvido muito, mesmo cansada você não fica quieta... olha aqui.

— Ai, não faz isso comigo! – O pensamento da garota saiu mais alto do que ela desejava, deixando Kei confuso. Seu rosto ficou vermelho e seu corpo começou a esquentar rapidamente. Maldito cérebro que não consegue controlar sua boca — Não... – Ela riu envergonhada — Pensei alto aqui.

— Você é maluca. – Tsukishima riu baixinho da reação da menina e, antes de sair, lavou o copo, deixando-a sozinha no cômodo.

  Como era idiota, não conseguia guardar seus pensamentos dentro de sua cabeça, tinha que parecer louca bem na frente dele. Não sabia quando começou a ter esses sentimentos por Tsukishima, mas não era recente, talvez há um mês ela começou a reparar mais no garoto e através das cartas, conseguiu conhecê-lo melhor. Seu coração se acelerava só de vê-lo e sentia um calor intenso quando o via sem camisa, ou com o cabelo no rosto, ou até mesmo quando ele bloqueava as bolas de vôlei. Aquela sensação era estranha e nova para ela, já que não havia experimentado nada parecido antes, nunca sentiu atração por nenhum garoto. Se desse sorte, aquilo passaria rapidamente e a paixão considerada proibida por ela acabaria mais rápido que veio.

02:37

Ayaka não conseguia pegar no sono, tentava há horas, e por mais que seus olhos ardessem de sono, era impossível relaxar e finalmente dormir. Talvez saber que a pessoa que mexia com seu coração estava no quarto ao lado a deixava ansiosa, ou era fome. Optou pela segunda opção, pois era a mais plausível e fácil de compreender. Ela levantou cambaleando e andou até a cozinha para preparar um sanduíche enquanto deixava o leite esquentando. Ayaka cantarolava uma música baixinho, perdida na letra da canção e nem sentiu quando Tsukishima entrou na cozinha. O loiro ficou um tempo no portal, apenas olhando-a que em sua visão estava perfeita, mas ele não poderia dizer aquilo a ela. Se aproximou lentamente da menina e, hesitante, envolveu seus braços no corpo de Ayaka, apoiando o queixo no ombro dela.

— O-o quê? – Ayaka puxou o ar com força, quase engasgando com ele. Ela se virou em um instante, ficando a centímetros do rosto de Kei — por que tá aqui?

— Só queria tomar água, lindinha. – Tsukishima encostou o nariz no da garota. Ele sentia uma afeição indescritível por ela, tinha vontade de estar perto dela e protegê-la — Você fica tão bonitinha de pijama. – O loiro falou baixinho no ouvido da menina.

— Para com isso, idiota. – Ayaka empurrou o garoto — Para de zoar com a minha cara, Kei.

— Desculpa. – Tsukishima se afastou — Eu só estava brincando.

Nossa, brincando? Daquele jeito com aquela intensidade? Aya queria voar no pescoço do menino, estrangulá-lo até perder o ar e depois jogá-lo no rio para que seu corpo fosse o mais longe possível. Um pensamento mórbido, talvez, mas coerente com a raiva que sentia dele. O loiro com certeza sabia dos seus sentimentos, senão não brincaria com eles desse jeito, ou ele também sentia algo por ela, porém era inseguro demais para falar. De qualquer forma, aquela ação realmente machucou Ayaka que não saberia mais confiar no menino e, de forma alguma, ela poderia revelar o que sentia. Combinou consigo que a partir daquela dia tentaria esquecer o mais velho e todo o rebuliço que ele fazia no seu corpo, não deixaria mais que brincadeiras como aquela interferissem tanto em sua vida. Kageyama tentou negar para si, mas Tsukishima tinha um grande efeito sob tudo da garota, pois estava presente desde seus primeiros pensamentos até os últimos. Ela só precisava de uma coisa para esquecê-lo, tentar tirá-lo da cabeça que ele insistia tanto em ficar.

— Espera. – Ayaka se aproximou dele e com um gesto rápido colocou a mão na nuca de Tsukishima e o puxou para um beijo. Foi apenas um toque e ela não deixou que o garoto prolongasse a demonstração de afeto, afastando alguns segundos depois — Boa noite.

  A garota voltou voando para sofá e cobriu todo o corpo com o cobertor. Não tinha percebido a gravidade de sua ação até aquele momento. Ele era amigo de seu irmão, que a odiava, e teria que vê-lo no dia seguinte, mas e se ele fosse um babaca total? Poderia ignorar a garota e fingir que nunca aconteceu nada, o que ele provavelmente faria. Seus pensamentos a fizeram dormir rapidamente, caindo em um sono profundo. A noite foi sem graça, sem sonhos, Ayaka acordou logo após fechar os olhos, como se tivesse passado apenas um segundo. A luz, que atravessava a janela, batia no rosto da garota que dormia tranquilamente no sofá. Ela abriu os olhos lentamente, acostumando-se com o ambiente claro e, ao virar a cabeça, encontrou Hinata sentado, olhando para ela.

— O que é isso? – Ayaka pulou do sofá e agarrou seu cobertor, tampando seu corpo.

— Desculpa, Aya. Os meninos não acordaram e você tava tão bonitinha dormindo. – O ruivo riu da reação dela e sentou ao lado de Kageyama — Precisava conversar.

— Pode falar, estou ouvindo. Só não garanto responder. – Ela sorriu sonolenta.

— Ontem, você foi dormir quando estávamos na cozinha. Tsukishima foi no banheiro e Yamaguchi, deitar, então fiquei sozinho com seu irmão. – A garota sorriu maliciosamente, recebendo um empurrãozinho do amigo — Ele disse que queria conversar sobre "a gente", mas não existe a gente... né?

— Você que tem que me dizer. Existe? – Os dois se olharam por um tempo. Hinata não sabia se sentia algo por Tobio ou era apenas confusão de sua mente. Abriu a boca para responder a pergunta dela, mas foi interrompido pelo assunto da conversa.

— Bom dia. – Tobio apareceu com o cabelo bagunçado e o rosto inchado. Um pequeno bico se formava em seus lábios e Hinata não conseguiu controlar suas emoções.

O ruivo estava com as bochechas vermelhas, o cabelo desalinhado e os olhos com um brilho inexplicável. Ele não podia mais negar, estava perdidamente apaixonado, ou pelo menos atraído, por Kageyama. Era difícil dizer que eles não combinavam, pareciam ser feitos um para o outro e todos sabiam disso, até mesmo seus pais que evitavam entrar nessa conversa. Tobio não entendia sua sexualidade, não sabia se era hétero, gay ou bi, mas tinha certeza de que era louco por Hinata. Talvez o fato de Shōyō ser o seu oposto, determinado, energético e muito bonito e bom em vôlei o fizesse admirar tanto o pequeno, mas onde termina o afeto e começa a paixão?

  Aos poucos, os outros dois garotos sonolentos foram acordando e como era a última semana das férias, decidiram jogar videogame. Tsukishima evitou contato visual com Ayaka por muito tempo, até que os dois acidentalmente esbarraram o olhar. Ele era intenso e prendia a garota totalmente, mas era impossível descrever o que o loiro pensava. Kei sempre foi enigmático e difícil de entender, uma caixa repleta de mistérios trancados a sete chaves. Se Ayaka conseguisse encontrar pelo menos uma dessas chaves, seu caminho seria mais fácil. Aquele contato durou pouco tempo, mas pareceu uma eternidade. Não se olharam mais depois daquele dia, não diretamente.
_____________________________

  Demorei mas atualizei 🙈

  Espero que estejam gostando, bjjs

Paixão Proibida | Tsukishima KeiOnde histórias criam vida. Descubra agora