III

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Kian Drakon

A Floresta das Almas parecia engolir tudo ao nosso redor enquanto avançávamos por sua densa escuridão. O terreno irregular e a vegetação espessa dificultavam nosso progresso, mas o mais perturbador era o silêncio absoluto que envolvia o local. Não havia o som das aves noturnas, nem o farfalhar das folhas sob nossos pés. O ar estava pesado, quase opressor, como se a própria floresta estivesse sentindo o peso de nosso ingresso em suas profundezas.

As árvores eram colossais, com troncos grossos que se estendiam para o céu em um emaranhado de galhos. A luz da lua mal penetrava a copa densa, deixando o chão coberto por sombras densas e fluídas. O som de nossos passos parecia abafado, como se o próprio solo estivesse absorvendo cada movimento, nos deixando mais cientes da vastidão e do mistério que nos cercavam. Sentia que algo nos observava, uma presença indefinida, mas palpável.

Ingrid, Skadi, Thane e eu nos movíamos com extrema cautela, cada um atento a cada som, cada movimento nas sombras. Sabíamos que, ao adentrarmos esse território, estávamos caminhando sobre as terras das Sombras do Crepúsculo, uma facção tão cruel quanto misteriosa. A qualquer momento, poderíamos ser atacados, e nossos sentidos estavam aguçados em um esforço constante para detectar qualquer sinal de perigo.

Mas, no meio da tensão crescente, o silêncio foi abruptamente interrompido por um estalo. O som não veio de um único ponto, mas parecia ecoar em várias direções ao mesmo tempo, como se as árvores estivessem quebrando ou se movimentando por conta própria. Antes que pudéssemos reagir, a noite ao nosso redor se transformou em um emaranhado de cordas, que caíam sobre nós com uma força inesperada. Tentamos lutar contra elas, mas o tecido resistente nos imobilizou rapidamente, aprisionando-nos em uma rede que parecia ter sido feita para nos aprisionar em nossos próprios medos.

Nossos esforços para nos libertar foram em vão. As cordas eram mágicas, e com cada movimento, mais elas nos restringiam. A floresta parecia rir de nossa impotência. Logo, uma figura encapuzada apareceu diante de nós, sua presença como uma sombra viva, movendo-se com uma graça aterrorizante. Sua voz, fria e autoritária, cortou o ar, ordenando que permanecêssemos em silêncio.

  - Silêncio! - sua ordem foi um comando absoluto, e, sem escolha, nos calamos. - Vocês agora são prisioneiros das Sombras do Crepúsculo.

O que aconteceu a seguir foi um borrão de tensão e pavor. Fomos forçados a marchar, ainda imobilizados pela rede, para o interior da floresta, onde um acampamento improvisado aguardava. Ali, a atmosfera era ainda mais carregada, com grandes tendas de couro escuro e tochas fracas iluminando o ambiente, projetando longas sombras que dançavam nas árvores à nossa volta. O cheiro da terra úmida e da fumaça das fogueiras preenchia o ar, criando uma sensação de desconforto que só aumentava à medida que nos aproximávamos do centro do acampamento.

No coração daquele campo, um grupo de figuras sombrias se destacava. Elas estavam imponentemente posicionadas, observando-nos com olhos penetrantes. O líder, uma figura de estatura imensa e postura rígida, aproximou-se de nós. Seu olhar gélido parecia ver além da carne, penetrando nossa alma com um simples movimento de sua cabeça.

  - O que faremos com eles, mestre? - perguntou um dos captores, a voz baixa e reverente.

O líder olhou para nós com desdém, seus olhos azuis como o gelo refletindo uma frieza impossível de ignorar.

 - Vamos usá-los como moeda de troca. - a voz dele era baixa, mas cheia de autoridade. - A Legião de Hel pagará caro para recuperar seu líder e seus conselheiros.

O plano era claro, e eu podia sentir a frustração e a impotência crescendo dentro de mim. Estávamos agora nas mãos deles, e nossa única opção parecia ser esperar, lutando contra o medo e o desespero que começavam a crescer dentro de cada um de nós.

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