13 Anos Antes...
O sol dourado do início do outono banhava o jardim do palácio, onde as flores estavam no auge de sua beleza, exibindo uma explosão de cores e fragrâncias. A brisa suave carregava o doce aroma das frutas maduras que em breve seriam colhidas, e as risadas das crianças enchiam o ar, misturando-se com o canto dos pássaros. O Festival da Colheita era um tempo de alegria e celebração no reino, um momento em que todos se uniam para agradecer aos deuses pela fartura e pela paz que reinava.
No centro daquele paraíso, cinco crianças corriam e brincavam, suas risadas inocentes refletindo a tranquilidade do momento. Perséfone, com seu sorriso encantador e cabelos dourados, liderava o grupo, enquanto Aidan, Eirik, e Kael seguiam logo atrás, cada um tentando superar o outro nas brincadeiras que criavam. E ali, entre eles, estava Yhasemin, a pequena sacerdotisa, com seus cabelos escuros e olhos que pareciam carregar o brilho das estrelas.
Kiana, a mãe de Yhasemin, observava as crianças com um sorriso suave nos lábios. Seus olhos estavam cheios de amor e orgulho, mas também havia uma sombra de preocupação ali. Ela sabia que aqueles momentos de alegria eram raros para sua filha, e que a liberdade que Yhasemin experimentava agora era um privilégio temporário, um presente que logo lhe seria tirado.
Quando o pai de Yhasemin estava no palácio, as coisas eram diferentes. Ele era um homem severo, dominado por uma rigidez que deixava pouco espaço para o carinho ou a compaixão. Para ele, Yhasemin não era apenas sua filha, mas a herdeira de uma linhagem sagrada, destinada a servir aos deuses. Ele via sua criação como um dever divino, e qualquer desvio das regras estritas que ele impunha era visto como uma afronta à vontade dos deuses.
Yhasemin, mesmo sendo tão jovem, já compreendia a gravidade das expectativas que pesavam sobre seus ombros. Quando seu pai estava presente, a vida no palácio se tornava um campo minado de regras e proibições. Ela não podia correr e brincar como as outras crianças. Era proibida de se misturar com os meninos, considerada impura por qualquer amizade masculina que pudesse formar. Sua vida era uma sequência de lições, preces e rituais, todos direcionados para moldá-la no papel que seu pai havia designado.
Sem joias, sem vestes que mostrassem o colo ou os joelhos, Yhasemin era obrigada a se vestir de maneira modesta, quase austera, mesmo em uma idade em que o brilho e as cores atraíam sua curiosidade infantil. Seus cabelos, longos e negros como uma noite sem lua, eram um símbolo de pureza, proibidos de serem cortados até que atingissem uma certa idade. Ela era um reflexo da disciplina e do controle que seu pai impunha, uma figura já marcada por um destino que ela mal podia entender.
Mas o mais doloroso para Yhasemin era a constante vigilância. Seu pai observava cada um de seus movimentos, e qualquer deslize, por menor que fosse, era punido com uma severidade assustadora. O simples ato de hesitar ao responder uma pergunta, ou de se perder em seus pensamentos enquanto recitava uma prece, podia resultar em castigos físicos que deixavam marcas tanto em seu corpo quanto em sua alma. E assim, a pequena Yhasemin crescia num ambiente onde o medo e a reverência se misturavam, moldando uma menina que conhecia o peso do poder e a fragilidade da liberdade.
Apesar de tudo, havia momentos como aquele, momentos em que seu pai não estava presente e ela podia experimentar a infância que lhe era negada. No jardim, rodeada por seus amigos, Yhasemin podia ser apenas uma criança, esquecendo, ainda que por um breve instante, o fardo que carregava. E nesses momentos, ela brilhava, sua risada clara e contagiante, sua alma livre e cheia de vida.
Mas, assim como as estações mudam, Yhasemin sabia que esses momentos de alegria eram passageiros. Ela sempre voltava ao palácio com uma sensação de perda iminente, uma compreensão precoce de que a felicidade era efêmera e que, ao final do dia, ela teria que retornar ao mundo de sombras e restrições que seu pai havia construído ao seu redor.Kiana, ao observar sua filha correndo pelo jardim, sentia um aperto no coração. Ela desejava que Yhasemin pudesse sempre ser aquela criança alegre e despreocupada, mas sabia que o destino da menina estava traçado de maneira implacável. Tudo o que Kiana podia fazer era oferecer-lhe esses pequenos momentos de liberdade, esperando que, de alguma forma, eles pudessem fortalecer o espírito de Yhasemin para os desafios que viriam.
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Terra De Luz E Sombra
Roman d'amourEm um reino ameaçado por uma força maligna conhecida como Sombras do Crepúsculo, a jovem sacerdotisa Yhasemin une forças com Perséfone e os líderes das sete legiões para combater essa ameaça crescente. Descobrindo que os inimigos estão usando feitiç...