XIV

3 1 8
                                    

Kian Dragon

    Já fazia algum tempo desde a última vez que vi minha pequena flor, e aparentemente ela havia ficado chateada em relação ao irmão.

    Ao chegar à entrada do acampamento, avistei Yhasemin e Rikeln acompanhados por três soldados e por Thoren. Aproximei-me, desci do cavalo e os cumprimentei.

   Enquanto eu me aproximava, percebi a tensão no ar. Yhasemin estava com o semblante sério, e Rikeln, sempre atento, mantinha os olhos fixos na linha do horizonte, como se pressentisse algo iminente. Thoren, por sua vez, me lançou um olhar de respeito misturado com preocupação, um sinal claro de que ele também sentia a gravidade do momento.

— Kian, — Yhasemin me cumprimentou com um aceno de cabeça. — Estamos prontos para partir em busca dos itens restantes para o feitiço de proteção. Não podemos mais adiar; o tempo está contra nós.

Assenti, observando-a. Por mais jovem que fosse, Yhasemin tinha um espírito forte e resoluto. Sua determinação me enchia de orgulho, embora também despertasse um leve receio. Esse caminho que ela trilhava não era fácil e exigia dela uma coragem que poucos possuíam.

— Sei que vocês estão preparados — disse, em um tom firme, dirigindo o olhar a cada um deles. — Mas quero que entendam os riscos. O que estão prestes a enfrentar não é apenas uma jornada de busca; as Sombras do Crepúsculo vigiam cada passo que damos, e uma proteção enfraquecida deixa nosso reino vulnerável.

Rikeln cruzou os braços, os olhos brilhando com uma determinação silenciosa.

 — Sabemos dos riscos, Kian. Mas se não fizermos isso, estaremos condenados. O feitiço de proteção é nossa única chance de manter essas sombras longe.

Yhasemin assentiu, a mão pousando instintivamente sobre o amuleto que usava ao pescoço, um presente de sua mãe, que ela jamais deixava para trás. — Vamos conseguir, Kian. Acreditamos nisso. E sei que você também acredita.E

u queria acreditar, de fato, mas as sombras espreitavam em cada canto, e as chances pareciam se estreitar a cada dia que passava. Mesmo assim, não havia escolha.

— Thoren, — chamei, virando-me para ele. — Vou entrar para ver Perséfone, sabe onde ela está?

— Ela está treinando as cegas. —  Disse apontando com a cabeça o local. —  Não vá assusta-la... —  Brincou com um sorriso no rosto.

—  Não vou... —  Me virei para o grupo que saia —  Que os deuses os protejam! — murmurei, observando enquanto eles se preparavam para a partida, conscientes do peso da responsabilidade que carregavam.

Quebra de tempo...

          As sombras se tornavam mais espessas enquanto eu e Perséfone caminhávamos para longe do ringue, deixando para trás o ambiente abafado da arena de treino. A noite caía sobre o acampamento, e com ela vinham os tons escuros de roxo e azul que preenchiam o céu. Cada estrela que surgia parecia uma vigia, uma lembrança de que, em breve, nós também estaríamos sendo observados – mas não por algo tão inofensivo quanto astros à distância.

   Eu a conduzi até uma clareira, onde uma rocha maior dominava o centro, e me sentei, voltando o olhar para o horizonte. Meu corpo sentia o peso de uma responsabilidade que ia além de liderar, além de proteger – uma responsabilidade que ameaçava me esmagar.

Perséfone se sentou ao meu lado, o olhar dela firme, sem traços de hesitação. Ela sabia que algo estava errado, que minhas preocupações não se limitavam à barreira de proteção. Eu queria mantê-la distante de tudo isso, protegê-la de algo que nem eu mesmo conseguia entender completamente. Mas esconder a verdade dela não era uma opção.

— Vai me contar o que realmente está acontecendo? — ela perguntou, com a voz suave, mas resoluta.

Olhei para o chão, procurando as palavras. Há tempos não me sentia assim – vulnerável. Escolhi bem o que dizer, tentando manter a frieza que todos esperavam de mim, mas ela me conhecia bem demais.

 — As Sombras do Crepúsculo estão se movimentando. Elas não são apenas um grupo de soldados rebeldes; são uma força organizada, e estão planejando algo grande. Sabemos que eles desejam romper a barreira de proteção, mas não sabemos até onde estão dispostos a ir para conseguir isso.

Perséfone inclinou a cabeça, ouvindo atentamente. Ela sempre teve essa capacidade de se concentrar, de absorver informações como se cada palavra fosse uma peça de um quebra-cabeça. A determinação em seus olhos era inspiradora, mas também me fazia questionar se era justo envolvê-la em um conflito tão perigoso.

— O que exatamente eles estão planejando? — perguntou, a voz dela baixa, mas firme.

— Não temos certeza, mas há rumores de que eles estão buscando artefatos que poderiam lhes dar poder suficiente para quebrar nossas defesas. Se conseguirem, não apenas nosso acampamento estará em perigo, mas todo o reino. A última coisa que queremos é que eles façam isso antes que possamos restaurar a barreira.

Perséfone assentiu, o queixo erguido em uma demonstração de bravura. 

— Então, temos que nos apressar. Não podemos deixar que o medo nos controle.

Eu sabia que essa era a mentalidade que nos tornava fortes. A coragem dela era contagiante, e mesmo assim, uma parte de mim se perguntava se eu estava colocando-a em perigo. Essa batalha não era apenas uma luta contra inimigos; era um teste de nossas habilidades e de nossa resiliência. E, mais importante, era um teste do que cada um de nós estava disposto a sacrificar.

— O que você acha que devemos fazer? — perguntei, mantendo o olhar fixo no horizonte. Eu queria ouvir o que ela tinha a dizer, como se as palavras dela pudessem iluminar um caminho em meio à escuridão.

— Devemos nos preparar para a luta, — respondeu, com a voz firme. — Não podemos deixar que as Sombras tenham vantagem. Precisamos de uma estratégia. Se elas estão se aproximando, devemos colocar nossos melhores soldados em alerta e nos reunir com as Legiões . E, Kian... precisamos encontrar os artefatos antes que eles o façam.

Era uma ideia sólida. Eu sabia que ela estava certa; a preparação era fundamental. O exército das Sombras não era como qualquer outro que já enfrentamos. Eles eram traiçoeiros e conheciam bem as sombras que habitavam a noite. Acreditar em um plano bem formulado poderia fazer a diferença entre a vitória e a derrota.

— Você está certa, Perséfone. Precisamos alertar todos, e talvez envolver Yhasemin e Rikeln na estratégia. Eles são fortes, e juntos podemos bolar um plano de ataque.

Ela sorriu, um brilho de determinação iluminando seu rosto. 

A sensação de camaradagem que compartilhávamos era um bálsamo para a pressão que sentia em meu peito. A luta que se aproximava não era apenas minha; era de todos nós, 

— Então vamos, — disse, levantando-me da rocha e estendendo a mão para ela.

— Então vamos, — disse, levantando-me da rocha e estendendo a mão para ela

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Terra De Luz E SombraOnde histórias criam vida. Descubra agora