XVI

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Yhasemin Donovan   

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A luz suave de um crepúsculo eterno banhava a paisagem em tons de roxo e dourado, enquanto eu caminhava por um campo infinito de flores silvestres que se balançavam ao sabor do vento. A brisa trazia o perfume doce das flores, misturado com uma sensação de nostalgia que não conseguia identificar. Cada passo que dava parecia ecoar em um espaço atemporal, onde passado e presente se fundiam em uma dança hipnótica.

No horizonte, uma colina se erguia, e ao seu topo, uma antiga árvore solitária se destacava contra o céu colorido. Era uma árvore majestosa, com raízes profundas e galhos que se estendiam como braços abertos, convidando-me a me aproximar. Havia algo familiar na visão dela, como se tivesse estado ali antes, em algum momento distante.

À medida que me aproximava, a atmosfera mudava, e uma sensação de paz envolvia meu ser. 

Quando alcancei a árvore, senti um impulso irresistível de tocar sua casca rugosa. Assim que a palma da minha mão fez contato, uma onda de energia percorreu meu corpo, e visões começaram a surgir diante de mim.

Imagens de um passado distante apareceram, uma sequência rápida de lembranças de vidas que não eram minhas, mas que se sentiam tão reais. Eu vi visões de um jovem guerreiro e uma mulher com cabelos longos e soltos, rindo e dançando sob a mesma árvore. Senti a alegria e a esperança que emanavam deles, um amor que transcendia o tempo e o espaço. A conexão entre eles era palpável, como se o próprio universo tivesse conspirado para uni-los.

Enquanto essas visões se desenrolavam, um som suave começou a ecoar ao meu redor, como uma melodia antiga que ressoava nas profundezas do meu ser. Era uma canção de amor e perda, entrelaçada com a dor e a beleza da vida. Olhei para a árvore e percebi que as folhas estavam dançando ao ritmo da música, criando uma sinfonia que reverberava em minha alma.

Então, de repente, as imagens mudaram. O guerreiro agora estava em um campo de batalha, cercado por sombras ameaçadoras. As risadas e a felicidade foram substituídas por gritos de desespero. Eu queria gritar, queria avisá-lo, mas as palavras não saíam da minha boca. Uma escuridão começou a engolir tudo, e vi a mulher correr em direção a ele, mas as sombras a impediram.

— Não! — gritei, desesperada, mas minha voz foi apenas um eco perdido no vento.

A cena se desfez, e eu me vi de volta ao campo de flores, agora coberto por um manto de neblina. A árvore estava distante, mas eu sabia que precisava voltar a ela. Sem hesitar, comecei a correr, o coração disparado, determinada a alcançar a fonte daquela conexão.

Quando finalmente cheguei à árvore, um homem estava encostado em seu tronco. Seus olhos eram como labaredas, intensos e penetrantes, e assim que nossos olhares se cruzaram, uma onda de reconhecimento percorreu meu corpo.

— Você está aqui... — ele sussurrou, sua voz ecoando em minha mente. Era Zayn, mas sua forma era diferente, mais etérea, como se fosse uma projeção do passado.

— O que está acontecendo? — perguntei, sentindo a urgência em cada palavra.

— O tempo se repete, Yhasemin. Estamos presos em um ciclo, e as sombras que nos separaram estão tentando fazer isso novamente. Mas ainda há esperança, e o que você viu era uma parte de nós que ainda luta.

— O que devemos fazer? — minha determinação crescia, alimentada pelo amor que vi nas visões.

Zayn estendeu a mão, seus dedos parecendo tocar o espaço entre nós. A luz ao nosso redor começou a brilhar intensamente, e senti uma força poderosa nos envolvendo, como se o próprio universo estivesse se alinhando para nos ajudar.

— Você precisa se lembrar de quem você realmente é. A conexão que temos transcende o medo e a dor. 

A escuridão se dissipou gradualmente, dando lugar a um brilho suave e etéreo que envolvia tudo ao meu redor. Quando abri os olhos, me vi em um jardim extraordinário, onde as flores floresciam em cores vibrantes que nunca tinha visto antes. O ar estava impregnado de um perfume doce e inebriante, como se cada flor estivesse contando um segredo guardado por séculos.

Caminhei sobre um caminho de pedras brancas que serpenteava entre canteiros exuberantes, as pétalas dançando suavemente ao vento. A luz parecia vir de todos os lugares e de nenhum lugar ao mesmo tempo, criando uma atmosfera mágica que me envolvia. Uma sensação de paz profunda invadiu meu ser, como se eu tivesse encontrado um lugar que sempre pertenci.

Mas, à medida que avançava, percebi que havia algo mais naquele jardim. As flores não eram apenas lindas; elas pareciam ter consciência, observando-me com seus olhos brilhantes. Uma pequena flor de pétalas douradas se destacou do resto e, à medida que me aproximava, ela se balançou levemente, como se quisesse me chamar.

— Yhasemin — sussurrou a flor com uma voz suave e melodiosa. — Bem-vinda ao Jardim Esquecido.

— O Jardim Esquecido? — repeti, surpresa. — O que é isso? Como eu cheguei aqui?

— Este é um lugar de memórias, onde as almas se reúnem para recordar o que foi perdido. Aqui, você encontrará as respostas que busca.

Segui a flor enquanto ela me guiava por entre as plantas. Cada passo que dava despertava memórias enterradas em meu coração, fragmentos de vidas passadas que pareciam tão próximos e, ao mesmo tempo, tão distantes. Os sussurros das flores ecoavam em minha mente, contando histórias de amor, perda e redenção.

Chegamos a uma fonte de água cristalina que emanava uma luz suave. A água refletia imagens de rostos conhecidos — pessoas que havia amado e perdido, amigos e inimigos de uma vida que parecia tão real. Mas, entre os rostos, vi um que me fez parar em seco: era Zayn.

Ele estava sorrindo, mas seu olhar estava cheio de tristeza. A fonte pulsava, mostrando momentos de nossa conexão: risos compartilhados, promessas trocadas e um amor que desafiava o tempo. A visão me deixou atordoada, um turbilhão de emoções me envolveu.

— Zayn... — chamei, a voz embargada pela emoção.

— Yhasemin — sua voz ecoou na minha mente como um canto suave. — Você deve entender o que aconteceu entre nós. O passado guarda segredos que você precisa desvendar para seguir em frente.

A flor dourada pulsava com uma luz intensa, e, de repente, as imagens começaram a se distorcer. Uma sombra escura surgiu na fonte, ameaçando engolir as memórias e transformar tudo em escuridão.

— O que é isso? — perguntei, sentindo o medo se apoderar de mim.

— É a sombra do esquecimento — a flor respondeu, sua voz tensa. — Ela se alimenta de memórias não resolvidas e dor. Você deve confrontá-la, Yhasemin, ou perderá tudo o que já foi.

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