Save the last dance for me

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- Nossa, essa sua ideia foi maravilhosa! - Ísis diz assim que entramos no restaurante. - Faz séculos que eu não como comida árabe porque dificilmente alguém faz árabe vegano. - Puxo a cadeira para ela se sentar assim que o maître nos indica a mesa. - Aliás, a última vez que eu comi quibe foi lá na sua casa, a Maninha fez pra mim.

- A Maninha fez quibe vegano? - Pergunto impressionado. - O dia que você almoçou com meu avô?

- Isso, mas foi só o quibe né, não foi um cardápio todo árabe. - Ela responde olhando todas as opções do menu. - Ela disse que pegou várias dicas com a Sônia.

- Impressionante como você conquista todo mundo, né? - Falo e ela me lança um olhar convencido antes de sinalizar o garçom para pedirmos nossas bebidas. - A Sônia vivia dizendo que não queria saber de mulher lá na casa e agora tá até estudando receitas veganas.

- Eu não sou qualquer mulher, né gato. - Ela diz presunçosa.

- Não mesmo. - Pego sua mão e deposito um beijo. - Eu nunca nem senti vontade de levar ninguém lá, só você. Inclusive, podíamos ir de novo.

- Podemos. - Ela fala. - Passar um final de semana sem contar pra ninguém, só nós dois.

- Por mim tá combinado. - Solto sua mão e também checo o cardápio, olhando as opções individuais e para dividir. É incrível como até algum tempo atrás eu jamais pensaria em entrar em um restaurante vegano e hoje em dia basicamente todas as minhas pesquisas são nesse estilo. Eu não fazia ideia de que existiam tantas opções de comidas sem nada de origem animal e muito menos que elas podiam ser tão gostosas.

- Amor? - Ísis chama minha atenção e eu olho para ela. - Tava pensando em pedir o trio de pastas de entrada, pode ser?

- Pode. - Confirmo. - E algumas esfihas, que tal? Elas parecem bem boas.

- Fechou. - Ela pisca para mim e fecha o cardápio. Faço o pedido para o garçom e estendo minhas mãos para ela, que as segura.

- Como foi seu dia, minha deusa? Conversou muito com seu Sérgio? - Pergunto me lembrando que o encontramos na porta da ONG assim que a deixei lá de manhã.

- Conversamos muito. - Ela diz animada. - Seu avô é demais, sério. Não sei porque, mas eu gosto muito de falar com ele desde a primeira vez que a gente se viu, quando eu entrei disfarçada ainda no seu apartamento para roubar as suas amostras de DNA. - Ela morde o lábio inferior mas eu só rio. - Enfim, a única parte péssima é que ele me disse que eu lembro sua mãe. - Ela simula um arrepio e faz uma careta. - Nada a ver, né?

- Seu Sérgio não tem medo do perigo. - Rio. - Por que ele disse isso?

- Acho que a gente tava conversando sobre o colégio e eu disse que minha mãe sempre era chamada lá porque eu entrava em confusão. Ele disse que sua mãe também, mas assim, motivos diferentes, né? - Ela fala como se ser comparada com a minha mãe fosse o fim do mundo. E pra ela eu sei que é. - Mas enfim. - Ela continua. - Depois que ele foi embora, a Yêda também apareceu por lá. Semana que vem já é a audiência do processo do Instituto, mas ela tá confiante, então eu também tô. Agora a única coisa é que precisamos levantar uma graninha aí, tem muita coisa faltando lá. Precisamos de remédios, ração, uma obra pra aumentar o espaço. - Seu tom de voz perde um pouco o ânimo, mas logo ela o recupera. - Mas a gente sempre deu conta, não é agora que vamos desistir. Aquele abrigo é muito importante pra mim e mais ainda pro Carlinhos.

- Eu acho lindo esse amor e essa entrega de vocês. - Digo com sinceridade. - Fazer tudo que vocês fazem sem receber nada em troca, não é qualquer pessoa que tem esse tipo de comprometimento.

- Mas quem falou que a gente não recebe nada em troca? - Ela me pergunta e eu fico confuso. - Os bichinhos são os melhores em demonstrar gratidão. Aqueles rabinhos abanando e aquelas lambidas de felicidade cada vez que eles aprendem o que é amor e esquecem o que é maus tratos, valem mais que qualquer salário. - Ela sorri e eu sorrio junto. - Óbvio que precisamos de dinheiro, mas nada paga a satisfação de salvar uma vida.

All The Missing PiecesOnde histórias criam vida. Descubra agora