- Baby, já amanheceu. - Giovanni vem até mim mais uma vez. - Você precisa descansar.
- Eu não vou embora, Giovanni. - Digo para ele, mas sem conseguir tirar os olhos do abrigo, meu abrigo, o sonho e trabalho de toda uma vida, que agora está destruído.
- Ele tá certo, filha, você desmaiou...
- E inalou muita fumaça. - Minha mãe e tia Marlene se juntam ao coro com meu namorado, mas nenhum deles vai me convencer a sair daqui, não ainda.
- Eu acho inclusive que você deveria ir até o hospital. Eu sei que os bombeiros disseram que estava tudo bem, mas não custa fazer uns exames. - Olho para Giovanni com a intenção de ralhar com ele, pedir para ele parar de insistir, mas vejo seu rosto cansado e preocupado e penso que se não fosse ele, eu talvez nem estivesse aqui. Solto a mão de Carlinhos, que, como eu, só consegue observar o estrago e vou até ele. Dou um selinho rápido em sua boca e acaricio seu rosto. Ele fecha os olhos e segura minha mão, beijando minha palma.
- Eu tô bem, playboy. Pelo menos fisicamente. - Sussurro para ele, mas sei que todos me escutam. - Eu prometo que assim que a polícia for embora, eu te deixo me levar pra casa e cuidar de mim. Até porque eu também preciso cuidar de você. - Ele abre os olhos e sorri, olhando para mim. Beijo seu nariz e deixo que ele me abrace, o cheiro de queimado em sua roupa me lembrando do pesadelo que estou vivendo.
Diferente do que prometi para ele, não vou para casa nem mesmo quando os bombeiros e os policiais vão embora, prometendo que voltarão no dia seguinte para iniciarem a perícia do local. Nenhum de nós vai, são muitos animais que precisarão de um novo abrigo até que consigamos resolver tudo por aqui, além de Carlinhos, que perdeu seu lar. Minha mãe e eu gastamos muita saliva para convencê-lo a ir conosco para nossa casa, pelo menos por hoje. Ele fica de pensar mas, antes que possamos insistir, Lorde, o cachorro que veio para nós como um resgate mas que nós mesmos adotamos, demonstra que não está bem. Carlinhos é quem percebe e me sinaliza e prontamente eu o examino, mas, para nossa profunda tristeza, não conseguimos salvá-lo. Minha mãe e Giovanni me afastam do corpinho dele e eu abraço Carlinhos, porque sei que apesar de doer em todos nós, era com meu amigo que Lorde fazia a ronda pelo abrigo todos os dias de manhã, além de companhia durante a noite.
- Ele deve ter inalado muita fumaça, ele não saiu do quarto até ver que eu já tinha saído também. - Carlinhos diz, uma lágrima escorrendo por seu rosto enquanto ele acaricia os pelos de seu companheiro.
- Não é justo. - Soluço e Giovanni me puxa para ele. Escondo o rosto em seu peito, desejando que tudo isso seja um pesadelo, um sonho ruim do qual eu vou acordar a qualquer momento. Mas, infelizmente, não é. E apesar de todo o luto e sofrimento, temos coisas demais a fazer por ali, então respiro fundo e vou dando coordenadas do que fazer para minha família, meus amigos e voluntários que estão por ali, enquanto Carlinhos faz ligações tentando realocar todos os animais. Não faço ideia de quanto tempo levaremos para reabrir, nem se teremos o dinheiro necessário para toda reforma que agora precisaremos fazer.
- Baby? - Ouço a voz de Giovanni me chamando e, ao olhar no relógio, percebo que mais da metade do dia já se foi.
Olho para meu namorado, o semblante preocupado permanecendo em seu rosto. Sorrio levemente para ele e assinto, concordando com ele mesmo sem ele ter dito nada. Ele entende o que quero dizer e me oferece sua mão, me levando até meu fusca, que ele faz questão de dirigir e, por um momento, esqueço todo o sofrimento. Quem diria que um playboyzinho desse dirigiria um dia um carro como o meu. Dou risada quando o vejo assumir o volante, mas, quando ele dá partida e eu olho pela janela, engulo em seco ao ver a construção chamuscada e cheia de faixas a isolando. Entro em casa sendo seguida de perto por Giovanni, que me leva direto para o banheiro e me coloca embaixo do chuveiro, me banhando enquanto também se banha, meu corpo em estado de torpor. Me enxugo e coloco uma roupa como se estivesse em modo automático, minha cabeça sendo dominada pela visão de Lorde morrendo em minhas mãos sem que eu conseguisse fazer nada por ele. Sento em minha cama e desabo em um choro, sentindo quando Giovanni senta ao meu lado e acaricia meu pescoço, encostando a testa em meu ombro.
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All The Missing Pieces
FanfictionDevaneios de uma escritora fanfiqueira sobre momentos GioIsis que os autores originais não quiseram nos mostrar por completo. A ideia é fazer capítulos seguindo a cronologia da novela Elas por Elas e acompanhar o casal Isis e Giovanni em cenas que...