Is this the life I want?

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- A sala da presidência. - Cris diz, animada, entrando comigo na sala que pertence - ou pertencia - à minha mãe. - Ai que tudo, Gio! Meu Deus, meus seguidores vão amar a novidade.

- Cris, vamos com calma. - Peço, massageando minhas têmporas e sentando, ainda tentando assimilar tudo que aconteceu e sabendo que logo terei que encarar o furação Dona Helena me acusando de traição e outras tantas mil coisas. A última coisa que preciso agora é de milhares de pessoas comentando isso, as mesmas milhares que dias atrás criticaram a Helàne pelo show que minha mãe deu no lançamento da linha de gestantes. - A gente nem sabe ainda se eu vou continuar aqui. Eu só assumi até o Conselho decidir o que fazer.

- Esse lugar é seu, meu amor. - Ela vem até mim, massageando meus ombros rapidamente e depois enlaçando meu pescoço por trás.

Penso no que ela disse e constato que finalmente estou no lugar que meu avô e minha mãe me treinaram para estar, o lugar pelo qual me preparei para assumir desde sempre. Então por que me sinto tão vazio? Por que me sinto como se não estivesse no lugar certo?

- Giovanni, tá me ouvindo? - A voz de Cris chamando meu nome me tira de meus questionamentos.

- Desculpa, Cris, eu tava distraído. - Ela me olha desconfiada.

- Eu tava dizendo que vou para a sala de reuniões, organizar tudo antes da Márcia e da Thaís chegarem. Você vem comigo?

- Não, vou dar uma olhada em umas coisas por aqui antes. Você me avisa quando elas chegarem? - Peço e ela assente, saindo da sala.

Tento me concentrar nos papeis à minha frente, sabendo que terei que revisá-los atentamente. Não era minha intenção voltar para Helàne ainda, muito menos como Presidente. Eu estava falando sério quando avisei meu avô e minha mãe que não sabia se sequer voltaria um dia. Mas cá estou eu, fazendo novamente o que seu Sérgio quer que eu faça, como a marionete que ele e Dona Helena querem que eu seja.

Apoio os cotovelos na mesa e escondo meu rosto nas mãos, tentando entender como voltei para esse lugar. Penso no meu pai, em tudo que ele me disse quando decidiu sair de casa e da empresa, de como ele disse que se sentia e de como fui injusto com ele na ocasião. Se não tivesse sido a Ísis, talvez nós até tivéssemos rompido, mas ela como sempre conseguiu me ajudar a abrir os olhos e enxergar meu pai como uma pessoa comum, que tem sentimentos e vontades próprias, mas que a vida toda também foi moldado por outras pessoas. Ísis. É incrível como, por mais que eu tente não pensar nela, ela sempre volta aos meus pensamentos. É uma pena que ela tenha estragado tudo, que ela tenha destruído tudo que tínhamos. Sem que eu consiga controlar, me lembro da última vez que a vi, dias atrás quando fui acompanhar meu pai até sua casa, após a tão esperada alta hospitalar dele. Já fazia alguns dias que ela não ia até o hospital, nem para visitá-lo e nem para acompanhar Adriana, e só quando ela surgiu na sala, linda como sempre e nossos olhares se cruzaram, que percebi o quanto senti falta de vê-la.

- Isis? Cê tá bem? - Me lembro que fui até ela assim que notei algo errado, a forma como ela segurou no sofá, fechando os olhos. Assim que segurei em seu braço foi como se um choque passasse por mim, meu corpo ignorando minha mente e pedindo mais contato.

- Tô.

- Tá? - Apesar dela me garantir que havia sido somente uma tontura e que estava tudo bem e de minha ex-sogra ter dito que era por conta da rotina e da falta de alimentação, eu senti uma tensão na troca de olhares entre elas.

Me lembro também da conversa que tive com meu pai logo depois, do que ele disse sobre Cris, as desconfianças de Ísis em relação à ela.

- Você continua sem assumir o que fez, Ísis. - Falo em voz alta. - Foi isso que acabou com o que tínhamos, a Cris não tem nada a ver com isso.

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