Traumas

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Jennie

Medo, angustia, trauma, sentimentos negativos nos acompanhava a cada local diferente que seguíamos, há duas semanas fomos encontrados por um grupo de soldados, tentamos contato com Hyunbi, irmão de SeungHo várias vezes mas não obtivemos sucesso, mas o que nos atormentava é a razão dele não ter nos avisado sobre essa base, ela é mais próxima que o ponto de encontro. Desde que chegamos passamos por momentos vergonhosos, como a primeira limpeza, regularmente precisamos ficar completamente despidos enquanto alguns soldados com roupas de proteção a infecção nos limpe com jatos fortes e dolorosos com algum produto químico, temos horários para tudo, duas refeições ao dia. Cada um de nós tem uma função na zona, os homens são direcionados imediatamente para a área de segurança, as mulheres obrigadas a serviços ordenados por machistas, limpeza e cozinha, exceto minha irmã Areum que está na tenda hospitalar, Euntak está com ela. 
- Será que não temos carne nas refeições porque esses soldados nos veem como seus pedaços de carne?. – Soobin pergunta.
- Não implique, aqui eles são em maioria, não temos como responder por agora. – Eunyu responde direta, gentileza não fazia parte de sua lista de qualidades.
- Eu já disse para não me tocar! Não sei onde você tocou essas suas mãos ou se higieniza elas depois de usar o banheiro. – Praguejava SeungHo com os soldados. 
Não contínhamos os risos com seis soldados tendo que tentarem inutilmente domarem ele, nós que chegamos juntos sabíamos o temperamento "único" dele. Não vestia mais seu terno caro, pelo contrário, sua calça social foi substituída por uma calça escura fardada, uma camiseta preta de mangas longas bastante justa em seu corpo, poderia ser uma segunda pele, seus sapatos agora viraram grandes botinas. 
- Não me toquem. – Ele diz uma última vez, provável que cansou os soldados que concordaram em se afastar.  
SeungHo sorri convencido e coloco sua mala de couro preta sobre o banco, ele a abre e retira grandes luvas de couro grossas que iniciam de suas mãos até o seu cotovelo, pendura em seu pescoço um binoculo e veste um colete aprova de balas, retira um arco que pendura a alça em seu braço e põe duas pistolas, uma em cada bolso traseiro, veste um cinto com porta munições e finaliza colocando um óculos escuro em seu rosto. 
- Desculpe, sou sensível a luz. – Ele diz sorrindo nos fitando.
- É por esse projeto de Tony Stark que você está apaixonada?. – Eunyu pergunta um pouco alto para Soobin, irmã de Jongin.
A menina imediatamente fica corada e balanço a cabeça negativamente rindo, me agacho e pego o meu cesto, sigo em direção a outra área, fomos separados entre a ala de mulheres e de homens, a maior e exclusiva dos soldados onde cada um tem a sua tenda, nós precisamos dividir uma, sim, voltamos aos tempos pré históricos. A cada passo, sinto o olhar de caçadores sobre mim, é desconfortável fazer parte do menor número, o número de mulheres, o local é cercado de homens. Fito alguém conhecido no posto de vigilância da cerca, caminho apressadamente até ele. 
- Bom dia, Jongin. – Digo sorridente. Ele sempre me faz sorrir.
- Bom dia, Pintinho. – Ele brinca, é um apelido carinhoso que ele me nomeou, por ser pequena e fofa, como um pintinho aos seus olhos. – Como estão as coisas? Tenho algo para você. – Jongin diz e põe um pequeno pacote de balas de goma em formato de minhoca no meu bolso.
- Você é meu comerciante de doces. – Digo rindo, ele sempre conseguia doces para me dar. 
Toco suavemente na mão dele que está no meu bolso, sentia meu coração acelerar pelo um simples toque. Dou um salto quando um soldado apita nos nossos ouvidos, chamando a nossa atenção. Encaro com uma expressão fechada o homem a nossa frente. 
- O papo está divertido? Park, eu sei que a senhorita é bem atraente, mas um doente pode atravessar a cerca com a sua distração. – Repreende. 
Jongin se posiciona de forma mais firme, encarando visivelmente irritado o seu superior com o seu comentário, nego com a cabeça o fitando para que se mantenha calmo. Abaixo o rosto e caminho até as tendas dos soldados, recolhendo suas peças de roupas, paro ao perceber que em uma das camas havia uma peça intima feminina, dou alguns passos para trás e escuto algumas risadas se aproximarem. 
- Está tímida, Jennie? Isso a deixa ainda mais sexy. – Diz uma voz masculina, conhecida mas não tive coragem para me virar.
- Desculpe, estou de saída. – Lamento encarando o chão e caminho em direção a entrada da tenda. 
- Ainda não. – Ele diz e nesse exato momento que sinto suas mãos segurarem em meu braço e jogar meu corpo contra o chão.
Encolho-me dando passos para trás, seguro o cesto de roupas e posiciono na frente de meu corpo tentando usar como escudo, ele arranca o objeto de minhas mãos e se agacha ficando de joelhos, sentando sobre cima de mim, tento afastar e sinto seu punho acertar o meu rosto, batendo no chão, sinto minha visão ficar turva. "JENNIE", escuto a voz de Jongin adentrar a tenda e logo acompanhada de um gemido de dor, uma faca estava enfiada em seu abdômen, mas ele continua tentando se soltar enquanto minhas peças de roupas são arremessadas até ele, ao invés de uma canção de ninar, meus olhos fecham sozinhos com o som dos gritos de Jongin e gemidos de um estranho. 
Entreabro os olhos devagar, sentia meu corpo doer, não havia nenhuma parte que não estava doendo, tento me soltar e sinto meus olhos marejarem com a dor que sinto em minha intimidade, lágrimas escorrem ao lembrar do ocorrido antes de desmaiar, mas antes não estava vestida, essa blusa é do Jongin. Viro me com dificuldade e o vejo caído ao meu lado, a faca cravada em seu abdômen, ele está pálido e gélido. 
- Não.. Não.. Jongin! Acorda, por favor, acorda. – Imploro chorando. 
Seguro em seu rosto enquanto chorava, não podia perder ele também, sinto uma mão acariciar as minhas costas com dificuldade, ergo o rosto e ele parecia se esforçar para se manter acordado. 
- Eu vou te levar até a Areum! Fica acordado!. – Peço e ponho um braço dele ao redor do meu ombro, passo um braço ao redor de sua cintura que resmunga de dor, forço para ele se levantar que segura o seu grito internamente, provavelmente para não me assustar. – Fica comigo. – Peço com a voz emaranhada.
Caminho com muito esforço para fora da tenda, alguns soldados nos encaravam ou pareciam rir da nossa situação, respiro fundo e tento manter o foco para salva-lo, miro a tenda hospitalar distante de nós, mas que para a nossa sorte, Euntak parece ter percebido como estávamos e correu em nossa direção, ele troca a posição comigo, segurando o peso do irmão e caminhando apressado até a minha irmã. Corro até eles sem conter as lágrimas, Areum rapidamente começa a procurar batimentos cardíacos de Jongin e pede para que eu espere do lado de fora. Sento ao chão do lado da tenda e abraço as minhas pernas, chorando desesperadamente. 
- Jennie? Ei.. Jennie, o que houve?. – Pergunta Jinyoung se aproximando rapidamente. – Alguém te machucou?. – Ele se agacha preocupado, nego.
- Jongin está ferido. – Respondo entre soluços.
Sentia meu coração acelerar cada vez mais, minha respiração ofegante, minhas mãos tremiam enquanto luto para tentar recuperar o ar, minha visão novamente escurece, podia ouvir abafadamente Jinyoung me chamando, a voz da minha irmã Eunyu parecia se aproximar também até tudo escurecer outra vez.
Minha cabeça latejando de dor age como um despertador, olho para o teto zonza, noto que estou deitada em uma cama hospitalar, tento me sentar mas sou impedida por minha irmã Areum que não tinha percebido estar ali até aquele momento. 
- Devagar. – Areum pede.
- Onde ele está?. – Pergunto preocupada.
Ela afasta a sua cadeira para ao lado e aponta para Jongin adormecido, deitado na cama ao lado, sinto a mão dela tocar na minha e acariciar suavemente, por impulso retiro a mão, recuando de imediato, minha irmã me fita preocupada e desvio o olhar, segurando as lágrimas, não conseguiria mentir para ela.
- Não precisa me contar agora, quando conseguir, estarei aqui, está bem?. – Ela diz emocionada. – Posso te dar um abraço?. – Pede. 
Penso por alguns segundos e assenti, fico parada enquanto ela me abraça, meu corpo não me obedecia ou talvez no meu interior, eu não queria ser tocada. Areum beija minha bochecha e se aproxima de Jongin, ele aparenta estar dormindo tranquilo.
- Ele está bem, se você não tivesse trazido ele tão rápido poderia estar em sérios apuros. – Ela conta. – A medicação para dor é bem forte, mas logo ele acorda, tente não se agitar também ok? Estou de olho em vocês dois. – Finaliza sorrindo. 
Minha irmã sai da tenda em seguida, ela sempre respeita o meu tempo. Observava atentamente ele dormir, ferido por minha causa, me doía ouvir os gritos dele, sentir aquelas mãos sujas, as lágrimas escorrem pelo meu rosto sem controle.
- Queria ter um doce em meu bolso para poder te dar agora. – Ele diz e abre os olhos lentamente. Tento me sentar de imediato. – Sua irmã pediu para não se agitar. – Lembrou. – Por favor, tome cuidado. – Pediu.
- Eu que deveria estar te pedindo isso. – Respondo limpando as lágrimas em meu rosto. – Está doendo?. – Pergunto tentando segurar o choro.
- Dói mais ver você chora. – Ele responde. - Mas é estranho eu dizer que me deu um pouquinho de esperança ver que se importa comigo?. – Jongin pergunta e ri fraco, resmungando um pouco de dor.
Levanto da minha cama hospitalar e caminho até ele, sentia minhas pernas doerem, ele me encara preocupado com a minha atitude, mas é ele que precisa de grandes cuidados agora. Sem dizer nenhuma palavra, ele se esforça em dar espaço para eu deitar ao seu lado, erguendo a coberta que revela seu abdômen perfeito e sua cicatriz. Subo na sua maca com cuidado e deito ao seu lado, apoiando a cabeça em seu peito e passo um braço com delicadeza ao redor de seu corpo, eu não tinha medo do toque dele, me sentia protegida em seus braços.
- Obrigada por ter ficado comigo. – Agradeço baixinho.
Jongin acaricia o meu cabelo e apoio o seu queixo em minha testa, mantendo seu rosto perto do meu. Os pingos de chuvas começam a cair, permanecendo apenas o som da chuva como música temática para o nosso momento, a chuva de verão após o intenso e estressante caos da manhã de verão.

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