Areum
A pandemia desconhecida transforma os infectados em monstros, devoradores de carne humana sem remorsos, eles eram capazes apenas de sentir fome, poderia ser algo fácil de crer que essa doença viral ocasionou o fim do mundo, mas, já havia assassinos cruéis antes, algumas pessoas já eram monstros antes do fim.
- Areum. – Chama minha irmã mais nova atrás de mim. Viro-me para ela e me surpreendo com Ginny segurando uma faca apontada para o pescoço dela.
Um homem alto e magro caminha pelo o corredor, vestia calças jeans preta rasgadas, uma camiseta também em tom escuro, o cabelo dele é repicado, alguns fios caíam sobre o seu rosto, o formato de seu rosto é fino com traços diferentes em triangular poderia ser de grande ajuda para atrair suas vítimas. Ele se aproxima de nós com um grande sorriso convencido em seu rosto, quanto mais próximo o homem está, seu perfume forte invadia o espaço.
- Minha médica. – Kris chama e arfa com uma expressão de prazer. – Ginny, me trouxe outro presente. – Ele diz animado e segura no queixo de Jennie, olhava profundamente nos olhos dela. – Eu posso ver a violação em seu olhar.. esses olhos vazios que deseja a morte, esse jeito de fugir ao toque.. – Ele fala e passa a mão esquerda pelo o braço dela, acariciando enquanto as lágrimas dela caiam lentamente pelo o seu rosto. – Eu quero te ouvir dizer 'Não". – Kris diz evidente animado. – DIGA!. – Manda e empurra o corpo dela na parede.
- SOLTA ELA!. – Grito tentando me aproximar, Ginny aponta a faca para o meu pescoço. – Me mate, mas não toca ela. – Peço.
- Eu mandei você reagir. – Kris diz segurando o rosto de Jennie, passando a língua em sua bochecha. A mão direita dele deslizava pelo o seio e tronco dela. – O cheiro de uma violada é tão gostoso... – Ele diz manhoso. – Estou tão excitado. – Geme.
Um estouro na porta vermelha atrai a atenção, me afasto da porta que é arremessada contra a parede, Euntak rapidamente agarra o pulso de Ginny que segurava a faca, em um movimento apressado dobrou para desarmá-la, segurou na lateral com a sua outra mão para abrir a palma da mão da menina, ele força a soltura do objeto afiado. SeungHo pega a faca caída no chão, antes que pudéssemos nos virar até Kris, ele é jogado nos nossos pés, Eunyu se posiciona sobre ele, segura na gola de sua camiseta e com o punho fechado, acerta um soco no rosto do homem.
- NÃO TOCA NA MINHA IRMÃ SEU VERME!. – Esbraveja acertando outro soco em seu rosto.
- Eunyu, temos que ir!. – Chamo. – Meninas, por favor, saiam. – Peço as mulheres que começam a sair de dentro do quarto que era a sua prisão. Ginny passa entre nós e corre pelo o corredor, provavelmente iria avisar o restante do seu grupo.
Minha irmã de personalidade forte, agarra Kris pelo o pescoço e o levanta, posiciona ele em pé e o chuta em seu abdômen, jogando seu corpo para dentro do quarto, o masoquista sorria a cada golpe que Eunyu o acertava. Ela fecha a porta e vira a trava, trancando o homem agora na prisão que ele mesmo criou. Jennie estava calada, me aproximo dela e faço carinho em seu ombro, ela não demonstrava nenhuma expressão ou reação, me dói ver a minha pequena em choque. Viro-me para o grupo e respiro fundo.
- Precisamos sair daqui.- Falo.
Um grupo de cinco homens se posicionam no final do corredor, formando uma barreira para bloquear a nossa saída, mas são interrompidos por um Jongin irritado, ele acerta com o cotovelo esquerdo na cabeça de um dos cinco que caí desmaiado, os namorados de minhas irmãs lutavam surpreendentemente contra o grupo que mal conseguíamos olhar qual golpe estava sendo desferido, ambos pareciam bem bravos.
- Jennie. – Jongin se aproxima e segura no rosto de minha irmã. – Você está bem?. – Ele pergunta preocupado.
Sorrio com o cuidado genuíno que os mais velhos cuidavam de minhas irmãs, Euntak segura em minha mão e acaricio as costas da mesma. Caminhamos pelo o corredor guiando as mulheres, nossos passos apressados eram tão rápidos que estávamos quase correndo, me assusto quando vários homens começam aparecer entre os corredores atrás de nós, paramos com as respirações ofegantes. Doentes começam adentrar o local e atacarem os homens que começam a gritar tentando se defenderem. Arregalo os olhos com a cena e as mulheres começam a correr, atraindo atenção dos doentes que começam a prossegui-las.
- NÃO!. - Peço e começo a chorar.
Ginny aparece entre o grupo de homens, caminhando entre eles tranquilamente e carregando um galão em cima de sua cabeça, ela vira no chão o objeto, invadindo o espaço com o cheiro enjoativo de gasolina. Euntak me puxa para mais próximo de seu corpo e a menina retira de seu bolso um isqueiro, ela acende e joga no liquido que espalhou, as chamas começam a espalhar rapidamente sobre os pés delas e subindo em suas calças, ela abre os braços com um sorriso em seu rosto, como se sentisse prazer com as chamas queimando a sua pele, um grupo de doentes começa a distribuir mordidas em seus braços abertos. A menina nos encara ainda com um sorriso assustador.
- Dessa vez, leve ela para longe. – Ginny diz olhando para Euntak.
Gritos ecoavam por todos os lados, o cheiro de carne podre e queimada invadia cada espaço, logo com a fumaça das chamas, as lágrimas escorriam pelo o meu rosto com aquele cenário, tantas pessoas gritando implorando por ajuda, outras caindo no chão sem vida. Solto a mão de Euntak e tento correr até Ginny, mas ele me impede segurando em minha cintura, puxando meu corpo para si. Tento me desvencilhar entre lágrimas sendo levada por ele e acompanhada do nosso grupo, algumas mulheres nos acompanhavam para fora dali, doentes correm atrás de nós assim como as chamas que a cada segundo dominava mais aquele local que estava condenado a morte.
- Areum, não podemos fazer nada!. – Euntak afirma. Agora do lado de fora, ele segura meu corpo e sobe no carro, sentando-me em seu colo e abraça a minha cintura.
Meu peito doía e gritava por escutar os gritos das vítimas, condenados com uma morte lenta e sem chances de uma ajuda ou escapatória, apenas a aceitação de seu fim. Estávamos com carro do meu pai, uma SUV de dez lugares, apertando os lugares, empilhando uma pessoa em cima da outra para poder levar as únicas três sobreviventes da prisão de Kris. Woo Tak liga o carro e dirige de volta até a nossa casa, nosso refúgio, pelo o retrovisor podíamos ver o sol começando a aparecer do raiar do dia, iluminando o topo da colina, a cidade abaixo estava coberta de fumaça e destruição, poucos prédios que antes lotavam a cidade, agora estão no chão caídos, não escutávamos mais gritos na fortaleza de Kris, apenas chamas e partes da casa caindo, alguns doentes em chamas caminhando para fora do portão, sem gritar, sem expressão de dor, como se não sentissem nada, talvez já estivessem mortos pela a doença desconhecida. Era uma dúvida, como os doentes haviam entrado no local? Uma parte de mim acreditava que foi o último ato de Ginny, não por suicídio e aceitação de derrota, mas a frase final dela, me faz ter esperanças que talvez, ela tenha nos mostrado que não foi tudo fingimento, que ela realmente quis nos ajudar por um momento quando criou o plano com nós e quis nos dar uma chance de sairmos vivos da fortaleza cruel de Kris, seu irmão.
Três horas haviam se passado desde que retornamos daquele cenário horrendo, mas minha mente e meu coração ainda estavam presos, cada parte de meu corpo doía como se tivesse sido espancada, talvez, fui espancada pela a culpa, não consigo me livrar desse sentimento de culpa, havia pacientes gritando implorando por ajuda, por uma chance, enquanto eu ia embora sem ajudar nenhum, eu não dei uma chance ou oportunidade, apenas salvei a minha vida.
Toc, toc, toc. Batidas na porta me despertam dos meus pensamentos pecaminosos, a porta do meu quarto abre e três mulheres adentram, as vítimas de Kris e Ginny, dou espaço para que elas se sentem na minha cama, ambas pareciam nervosas e tímidas, compreensível com o trauma que viveram.
- Que bom que vieram, quero limpar esses ferimentos. – Falo e sorrio de canto, queria que elas sentissem confiança em mim. – Comeram algo? Espero que estejam tratando vocês bem. – Digo.
- O médico nos serviu comida, a policial permitiu que tomássemos banho também e emprestou essas roupas. – Uma das meninas diz.
Levanto e caminho até o meu roupeiro, abro a porta e pego o kit de primeiro socorros, me aproximo delas novamente e peço permissão para a primeira, retiro um pequeno pedaço de algodão e limpo o ferimento com soro fisiológico, passo o dedo indicador na pomada antisséptica e esfrego com movimentos circulares nos ferimentos de suas mãos e braços, colo um bandaid em cada e pego uma manteiga de cacau em formato de batom de dentro da caixa, entregando para ela passar nos lábios ressecados.
- Vai ajudar a cicatrizar. – Digo e sorrio.
Começo a repetir o mesmo procedimento nas outras duas, mas nada me fazia esquecer a sensação de culpa pela as vítimas e por Ginny.
- Doutora. – A segunda chama. – O médico perguntou algo antes, não pudemos responder por medo.. A mãe de Ginny realmente esteve presa com nós, mas foi a menina que a prendeu, quando houve a infecção, Kris estava preso e Ginny nos manteve presas esperando o dia que ele voltasse, a mãe deles, Wei, ela um dia foi limpar o quarto e nos descobriu presas ali, ela era uma boa pessoa e quis nos soltar, mas a filha não permitiu e a prendeu com nós, os primeiros dias foram difíceis para a Wei, até que um dia quando acordamos, ela havia usado uma das cordas que nos mantinha amarradas e se enforcou.. Desde esse dia da morte da mãe, Ginny retirou as cordas, mas manteve a gente presas com ameaças. – Ela conta. – A menina até ajudava a escolher e trazia novas vítimas para o seu irmão, inclusive meninas da idade dela que nunca retornaram para o quarto. – Aquelas palavras doíam em minha alma, o mal já vivia entre nós.
- E vocês sabiam sobre algo da cidade? Eles se comunicavam com outras pessoas?. – Pergunto.
As três trocam olhares como se estivessem em dúvida se contavam sobre algo ou não. O silêncio permaneceu por alguns minutos até que a terceira interrompe.
- O mundo está morto. – Ela diz. – Se espalhou e ninguém virá nos ajudar porque eles também precisam de ajuda. – A garota diz.
Me arrepio com as palavras e escuto passos acelerados pelo o corredor, minha irmã mais nova aparece ofegante em frente a porta, levanto preocupada e me aproximo de Jennie.
- É melhor você vir ver algo. – Sugere.
Caminho ao lado de minha irmã até a entrada da nossa casa, paro no deque onde os demais moradores estão posicionados em pé encarando algo com expressão de pavor. Arqueio a sobrancelha confusa e olho na mesma direção. Infectados, uma multidão de infectados estavam espalhados através do muro, era como se estivessem caminhando em bando como animais, caçando juntos.
- Estão todos mortos.. – Lembro do que a menina tinha dito.
O rádio no sofá começa a chiar, sons incompreensíveis começam a serem transmitidos. SeungHo caminha até a sala e pega o rádio comunicador, retornando com o aparelho.
"- SeungHo, está ai?"